A apropriação e inversão dos conceitos pelos nazifascistas-bolsonaristas
'Os nazi-fascistas estão dotados de todos os instintos de perversidade', escreve o colunista Jair de Souza
Ainda deve estar ressoando forte nos ouvidos de muita gente as palavras proferidas por um dos delfins do clã bolsonarista no momento em que tornou pública sua decisão de fugir do Brasil para permanecer nos Estados Unidos sob a proteção do governo de extrema direita de Donald Trump.
Para nosso espanto, o até então deputado federal disse que estava se afastando do cargo ocupado e do país para lutar lá fora contra as forças nazifascistas, que o estariam perseguindo. E é aí que reside o principal motivo de estupor e incompreensão.
Como entender que alguém tido como um dos principais expoentes do extremismo de direita no Brasil alegue que a razão por trás de sua fuga seja a perseguição desatada por adeptos do nazifascismo?
Sim, tal situação seria mesmo impossível de ser compreendida se não tivéssemos um conhecimento prévio de como surgiu e se desenvolveu ao longo do último século este movimento ideológico ultra-direitista. Assim, há características comuns em todas suas variantes conhecidas até agora, seja na original italiana (fascismo), na que prevaleceu na Alemanha (nazismo), na da Espanha (franquismo), na portuguesa (salazarismo) ou, inclusive, nos modelos brasileiros (antes, integralismo; atualmente, bolsonarismo).
O ponto essencial comum a todas as modalidades organizacionais dessa ideologia de extrema direita é sua total vinculação à defesa dos interesses dos grandes grupos capitalistas. Em outras palavras, em qualquer de suas alternativas, o fascismo sempre tem como sua maior missão defender a classe dos grandes capitalistas das ameaças que possam pôr em risco a continuidade de suas condições de privilégio na sociedade.
Porém, o que diferencia fortemente o fascismo (em todas as suas vertentes) das demais correntes e ideologias políticas alinhadas com os ricos e poderosos é sua capacidade de introduzir-se no seio de setores dos explorados e, por meio de sua atuação política, angariar apoio em favor das causas dos que tudo possuem entre os que pouco, ou nada, têm.
Para cumprir com este propósito de induzir os trabalhadores a assumirem posturas favoráveis aos patrões, e levar os pobres a tomarem partido pelos ricos, os fascistas se especializaram em inverter os sentidos das mais relevantes aspirações do campo popular, utilizando-as em favor dos objetivos das oligarquias que vivem à custa do sacrifício das maiorias. Para isso, desde seus primórdios, os movimentos fascistas se dedicaram a lançar mão de palavras e conceitos caros para o povo trabalhador e transformá-los em seu exato oposto.
Foi assim que o nazismo, apesar de se constituir numa ideologia e força política que odiava ao máximo tudo o que pudesse significar um maior grau de liberdade para os trabalhadores, desvirtuou o significado do termo socialista e o empregou para denominar o partido e movimento político que mais odiava e combatia o socialismo e os trabalhadores. Não nos esqueçamos que aquele partido alemão criado por Adolf Hitler para servir a banqueiros e donos de mega-corporações capitalistas recebeu o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores.
Então, passamos a ver como os que queriam a toda custa impedir que o sistema de exploração capitalista fosse abolido se auto denominarem publicamente como contrários ao sistema. De igual maneira, as forças que apoiavam a exploração impiedosa que causava a miséria, a pobreza e a desestruturação das famílias trabalhadoras passaram a se arvorar em defensoras dos valores da família.
Outra particularidade muito nefasta que observamos constantemente em países do capitalismo periférico, como o Brasil, é a manipulação feita por essas mesmas forças de sustentação do grande capital da simbologia relacionada com a figura de Jesus. Como é sabido, devido aos relatos de sua vida nos Evangelhos, o nome de Jesus está intrinsecamente vinculado às mais sentidas reivindicações do povo trabalhador humilde. Assim, para a imensa maioria de nossa gente, ao relacionar Jesus com alguma causa, a primeira sensação que se tem é a de que se trataria de algo favorável aos mais necessitados, visto que é generalizado o sentimento de que a opção preferencial de Jesus é pelos mais carentes, e não pelos mais abastados.
No entanto, por aqui, são os fascistas os que mais têm apelado para a manipulação da figura de Jesus para induzir as massas populares a darem apoio a tudo o que vai inteiramente contra o legado de Jesus. Novamente, o fascismo, em sua versão bolsonarista-neopentecostal, recorre aos símbolos e ao nome de Jesus para sustentar pontos que não possuem absolutamente nada relacionado com o que os ensinamentos de vida de Jesus nos transmitem. Na verdade, atualmente, tem-se apelado para o nome de Jesus com o objetivo de fazer valer pautas que estariam muito mais em conformidade com o diabo.
Portanto, podemos concluir que, ao dizer-se um perseguido do nazi-fascismo, o membro do clã bolsonarista ao qual fizemos referência no início de nosso texto não está fazendo nada diferente do que tem sido a tradição dos adeptos desse pensamento desde seu aparecimento no cenário político na primeira parte do século passado. Por isso, já não deveríamos nos surpreender quando nos deparamos com típicos nazi-fascistas apresentando-se como vítimas daquilo que eles próprios encarnam em sua totalidade.
Os nazi-fascistas estão dotados de todos os instintos de perversidade que os seres humanos foram capazes desenvolver, mas eles ainda não chegaram ao ponto de se tornarem autofágicos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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