Para Leonel Brizola Neto, espionagem da CIA contra seu avô era "medo de um líder popular"
Ex-vereador analisa em entrevista documentos dos EUA que revelaram e espionagem contra seu avô. Assista na TV 247
247 - Os documentos recentemente divulgados dos arquivos sobre o assassinato de John F. Kennedy, ex-presidente dos EUA, trouxeram à tona a já conhecida espionagem da CIA, a agência de inteligência americana, contra Leonel Brizola, líder histórico do trabalhismo brasileiro. Para Leonel Brizola Neto, presidente da Associação Cultural Leonel Brizola e ex-vereador pelo Rio de Janeiro, a perseguição ao seu avô começou ainda nos anos 1950, quando ele, como governador do Rio Grande do Sul, tomou medidas que afetaram diretamente os interesses econômicos norte-americanos na região.
Ele lembra que a decisão de Brizola de encampar duas multinacionais, a Companhia de Energia Elétrica (CEE)e a ITT, não foi um ato arbitrário, mas sim uma ação jurídica embasada na Constituição brasileira. Brizola provou que essas empresas prejudicavam o desenvolvimento do estado, deixando os gaúchos com uma infraestrutura precária. O temor dos EUA era que essa iniciativa servisse de exemplo para outros governadores, inclusive os de direita, como Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, que também consideravam medidas semelhantes.
Segundo Neto, além da questão econômica, Brizola representava um risco geopolítico ao demonstrar sua capacidade de mobilização popular em 1961, durante a Campanha da Legalidade, garantindo a posse de João Goulart e rachando as Forças Armadas ao unir o Exército e o povo.
“Essa liderança forte e carismática, que falava diretamente às massas, fazia dele uma ameaça para os interesses norte-americanos na América Latina”.
Leonel Brizola Neto alerta, contudo, para os perigos de uma leitura acrítica desses documentos da CIA. Ele ressalta que "muitos desses relatos partem de espiões com interesses próprios e que há um risco de a direita instrumentalizar essas informações para alimentar discursos ultrapassados sobre uma suposta ameaça comunista na América Latina".
Segundo ele, "a divulgação seletiva de documentos pode servir como uma cortina de fumaça para ocultar os verdadeiros interesses dos EUA na região, que sempre estiveram voltados à manutenção do subdesenvolvimento e da dependência econômica".
Brizola Neto reforça a importância de uma leitura geopolítica dos acontecimentos históricos, pois seu avô, como poucos, compreendia que a política interna do Brasil era, em grande parte, determinada por dinâmicas externas. "A perseguição sofrida por Leonel Brizola não foi um caso isolado: líderes latino-americanos que buscaram nacionalizar recursos estratégicos e enfrentar o imperialismo foram alvos de golpes de Estado, muitas vezes patrocinados diretamente pelo governo norte-americano", lembrou.
Para ele, a divulgação desses documentos deve ser acompanhada de um olhar crítico e atento, pois mais do que evidenciar a espionagem contra Brizola, eles reforçam a necessidade de entender o Brasil dentro do tabuleiro geopolítico global. “Como o próprio Brizola dizia, é fundamental que o povo brasileiro compreenda essas relações para que possa defender sua soberania e lutar por um país mais justo e independente", alerta.
Nacionalismo e desenvolvimento
A discussão sobre a espionagem da CIA contra Brizola também levanta um debate mais amplo sobre o papel do nacionalismo na política contemporânea. "Muitas certezas que nós tínhamos há uma década, não temos mais, muitos alinhamentos estão desaparecendo. E eu sinto que está faltando o que pode ser aquela bandeira que, na minha opinião, sempre foi uma das marcas do Brizola", destacou Brizola Neto. O nacionalismo, longe de ser um conceito ultrapassado, continua sendo essencial para a defesa dos interesses do povo brasileiro diante da crescente influência de potências estrangeiras.
Brizola Neto alerta que a extrema-direita distorceu esse conceito e se apropriou da narrativa patriótica de forma oportunista. "Você vê o bolsonarismo trazer essa questão do patriota nacionalista, com a bandeira, mas é um vendilhão, quer vender tudo. Ou seja, pátria vende patrimônio. Se você vende patrimônio, você não tem pátria. Quer vender a Petrobras? Quer saber para onde o Brasil vai? Acompanhe a Petrobras. Sem Petrobras, não há Brasil, não há povo brasileiro, não há desenvolvimento", criticou.
Ele também destacou que o golpe militar de 1964 interrompeu um ciclo de desenvolvimento nacional que poderia ter levado o Brasil ao mesmo patamar da China hoje. "O grande bode disso tudo era que o Brasil, em sessenta e quatro, rumava para ser hoje o que a China representa no mundo, um país industrializado. Com garantias laborais, previdenciárias, sociais. Um Estado, ou seja, a carta do Getúlio comprovando que o Estado era a mola de desenvolvimento", afirmou. Assista:
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