"Brasil foi o país mais espionado pela CIA no continente": Lejeune Mirhan analisa influência dos EUA e segredos históricos
Sociólogo e especialista em geopolítica discute espionagem contra o Brasil, o papel da CIA no golpe de 1964 e revelações sobre os Kennedy
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o sociólogo e especialista em geopolítica Lejeune Mirhan abordou temas históricos e atuais envolvendo a atuação dos Estados Unidos na política global e suas consequências para o Brasil. Durante a conversa, Mirhan destacou que o Brasil foi "o país mais espionado pela CIA no continente americano", reforçando o papel central do país na Guerra Fria e nas movimentações geopolíticas da época.
"A avaliação que a CIA fazia era de que estávamos muito próximos de nos tornar um país comunista", afirmou Mirhan, destacando que documentos recentemente revelados mostram a intensa vigilância sobre líderes políticos brasileiros, especialmente Leonel Brizola. "Brizola foi o mais espionado de todos. A preocupação dos Estados Unidos com a aliança entre PTB e PSD era enorme", acrescentou.
O golpe de 1964 e a manipulação das massas - Mirhan também analisou as chamadas "Marchas da Família com Deus pela Liberdade", que ocorreram entre março e junho de 1964 e ajudaram a preparar o terreno para o golpe militar. "Foi uma revolução colorida daquele período, exatamente como as que vemos hoje em diversos países", explicou. Ele comparou a estratégia usada na época com as operações conduzidas atualmente por forças externas para desestabilizar governos.
Segundo o sociólogo, a manipulação da opinião pública já fazia parte do arsenal norte-americano, com financiamento a ONGs e políticos alinhados com os interesses de Washington. "Naquela época já existiam ONGs financiadas para fomentar essa agitação. O Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) desempenharam esse papel aqui no Brasil", lembrou.
A atuação da CIA e os documentos secretos - O pesquisador comentou sobre os documentos secretos da CIA que seguem sendo analisados. "Temos 80 mil páginas de documentos e muitas revelações ainda estão por vir", disse. Apesar do grande volume de informações, Mirhan acredita que alguns segredos jamais serão completamente revelados. "Não acho que vá aparecer um documento direto apontando a autoria de assassinatos ou golpes, mas o que já temos mostra que o Brasil era o epicentro da ação da CIA na América Latina”.
Uma das revelações que chamou a atenção do especialista foi o papel dos serviços secretos estrangeiros em assassinatos políticos. "O trabalho interno ficou claro. Era uma articulação que envolvia agentes locais e internacionais", afirmou, referindo-se a conspirações e execuções políticas que marcaram o período da Guerra Fria.
O enigma dos Kennedy e a relação com Israel - Outro tema discutido por Mirhan foi o assassinato de John F. Kennedy e os possíveis vínculos entre a operação e serviços secretos estrangeiros, incluindo a Mossad, agência de inteligência de Israel. "A hipótese mais plausível é que havia um ódio profundo do sionismo à família Kennedy", opinou. Segundo ele, esse conflito teria origem no pai do presidente, Joseph Kennedy, que foi embaixador dos EUA no Reino Unido e tinha supostas ligações com o nazismo.
"O pai de Kennedy fazia negócios na Inglaterra e tinha proximidade com setores nazistas. Isso alimentou uma tensão com os sionistas, que o viam como um inimigo", explicou Mirhan. Ele lembrou que os Estados Unidos se abstiveram na votação da ONU que aprovou a criação do Estado de Israel em 1947, enquanto a União Soviética votou a favor, o que gerou um conflito ideológico na época.
Mirhan também comentou a relação paradoxal entre grupos neonazistas e o apoio incondicional a Israel nos dias de hoje. "Hoje, nazistas amam Israel e apoiam judeus", disse, referindo-se ao fenômeno do sionismo cristão. "Eles encontraram passagens no Novo Testamento que dizem que a volta do Messias ocorrerá quando mais judeus estiverem em Jerusalém, então passaram a defender o expansionismo israelense por motivações religiosas”.
A disputa de narrativas históricas - Durante a entrevista, Mirhan também criticou a forma como a história tem sido reescrita para atender a interesses políticos. Ele refutou a ideia de que Stalin era antissemita e perseguiu judeus, como alegam alguns historiadores. "A União Soviética votou a favor da criação de Israel e apoiou o país nos primeiros anos. O que aconteceu depois foi um rompimento devido ao alinhamento do governo israelense com os Estados Unidos”.
Ao concluir, o sociólogo reforçou que novas revelações podem surgir à medida que mais documentos forem analisados. "Estamos apenas começando a entender o tamanho da interferência estrangeira no Brasil e em outros países. Os próximos anos devem trazer ainda mais informações explosivas sobre a atuação da CIA, da Mossad e de outras agências na política global”.
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