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    Viagem pioneira de Jango à China, em 1961, deflagrou reação imediata da CIA e dos militares no Brasil

    Presidente vislumbrou o potencial da cooperação Brasil-China, mas a paranoia da Guerra Fria levou ao golpe de 1964

    Em agosto de 1961, o presidente Mao Zedong se reuniu com o vice-presidente do Brasil, João Goulart, durante sua visita. (Foto: Instituto João Goulart)
    Redação Brasil 247 avatar
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    247 – Em 1961, o então vice-presidente João Goulart realizou uma viagem oficial à China, tornando-se o primeiro líder brasileiro a visitar o país asiático, sendo recebido pelo líder Mao Zedong. A iniciativa de Jango, que já percebia o potencial da cooperação econômica entre Brasil e China, despertou preocupação imediata nos Estados Unidos, na CIA e nos setores militares brasileiros, que enxergaram o gesto como uma ameaça comunista. A resposta foi rápida e virulenta, levando à crise política que culminou na renúncia de Jânio Quadros e, anos depois, no golpe militar de 1964.

    A visita ocorreu em um período de forte polarização internacional, no auge da Guerra Fria. Enquanto Jango buscava ampliar os laços comerciais e explorar oportunidades de desenvolvimento para o Brasil, os EUA temiam qualquer aproximação do país com regimes socialistas. A CIA, conforme revelam documentos liberados nesta semana pelo governo de Donald Trump, já monitorava de perto os movimentos dos líderes nacionalistas brasileiros, incluindo Leonel Brizola, cunhado e aliado político de Goulart.

    A paranoia anticomunista e a crise política

    A ida de Jango à China serviu como um estopim para a paranoia anticomunista que já crescia entre os militares e setores conservadores no Brasil. Apenas alguns meses depois, Jânio Quadros renunciou, desencadeando uma crise institucional que só foi resolvida com a imposição do parlamentarismo como condição para que Goulart assumisse a presidência. Esse episódio foi um ensaio para o golpe de 1964, que derrubaria Jango definitivamente e instauraria uma ditadura militar de 21 anos no país.

    Os documentos secretos da CIA revelados recentemente mostram como Brizola, na época governador do Rio Grande do Sul, também foi alvo da vigilância norte-americana. Ele era visto como um líder perigoso para os interesses dos EUA, principalmente por sua defesa da soberania nacional e sua atuação decisiva na Cadeia da Legalidade, movimento que garantiu a posse de Goulart em 1961.

    Brizola: o herdeiro político de Jango e o alvo da Globo

    Após o golpe militar, Brizola se tornou um dos principais herdeiros políticos de Jango, mantendo vivo o projeto nacionalista que os unia. No entanto, sua trajetória também foi marcada por intensa perseguição. Além da espionagem da CIA, Brizola enfrentou uma campanha sistemática da Rede Globo, aliada do regime militar e defensora dos interesses econômicos que o brizolismo combatia.

    Mesmo com os ataques, Brizola conseguiu se eleger governador do Rio de Janeiro e impor derrotas à emissora, incluindo um direito de resposta histórico em rede nacional. Sua luta por um Brasil independente e por um modelo de desenvolvimento baseado na educação e na soberania econômica fez dele um dos últimos grandes líderes do trabalhismo brasileiro.

    A viagem de Jango à China, vista na época como uma ameaça, hoje se revela um movimento visionário. Décadas depois, a China se tornaria um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, confirmando a visão estratégica que Goulart tinha para o futuro das relações internacionais do país. O golpe de 1964 e a perseguição sistemática a líderes como Jango e Brizola impediram que esse projeto se concretizasse naquele momento, mas o legado de ambos permanece como inspiração para uma política externa soberana e independente. Reveja vídeo da TV 247 a respeito da histórica viagem de Jango à China:

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