A formiga que virou cigarra
Uma fábula para minha neta
Quando Amália nasceu, a mamãe ensinou que a vida das formigas era trabalhar e trabalhar.
Ela podia ser uma formiga tecelã, por exemplo, e fazer roupas para as longas temporadas de inverno na umidade dos formigueiros.
Ou podia ser uma formiga operária e então construir os túneis onde todas as formigas moravam.
Mas, por mais que trabalhasse, nunca seria rainha.
“Por que tenho que trabalhar tanto?”, perguntou Amália.
“Para não morrer de fome no inverno, como acontece com as cigarras, que passam o verão cantando em vez de trabalhar e no inverno batem na porta da nossa casa pedindo comida”.
“E por que não posso ser rainha?”
“Porque só a filha da rainha pode ser rainha e não a filha de uma operária”.
Um dia, passeando longe do formigueiro, Amália encontrou um objeto estranho.
Ao examinar o objeto mais devagar, percebeu que, ao tocar com os dedos em certas partes dele, ele produzia um som muito bonito.
Como não tinha o que fazer (era domingo, seu dia de folga), Amália passou o dia inteiro mexendo no objeto e acompanhando o som com sua voz. Cantando junto.
E ela gostou de cantar junto com o estranho objeto.
Todos os domingos ela ficava na janela da sua casa cantando acompanhada pelo estranho objeto que uma formiga mais viajada chamou de violão, que viu em uma de suas viagens à Europa.
Juntava muita formiga para ouvir Amália, que ganhava muitos aplausos e tinha que assinar muitos autógrafos.
A mãe ficava brava, porque ela ficava com sono e não acordava na hora certa no dia seguinte para ir trabalhar.
“Assim você vai morrer de fome no inverno”, ela avisava.
Até que um dia um formigão empresário chamou Amália para cantar no seu teatro.
O sucesso foi tão grande que Amália, que no começo cantava só aos domingos, passou a cantar também às segundas-feiras.
Depois, às segundas e terças.
E quartas e quintas.
E sextas e sábados.
A semana toda.
Em pouco tempo, Amália ficou famosa fora do formigueiro. Começou a cantar na televisão brasileira. E ganhou muito dinheiro.
Ela sempre voltava para visitar a sua família e enchia a dispensa de comida. Numa dessas visitas, num inverno gelado, a mãe foi atender quem batia na porta.
Era a cigarra.
“Já sei, passou o verão cantando e agora veio pedir um pouco de comida”.
“Não. Queria ter aulas com a sua filha, para aprender a cantar tão bem como ela!”.
Os formigueiros esperavam com ansiedade os shows da Amália. Seus fãs aumentavam a cada dia.
Gostavam tanto dela, mas tanto, que pediram para ela ser a nova rainha.
Fizeram passeata nas ruas com muita empolgação.
E só pararam quando Amália foi coroada. E não só pelas formigas.
E todos gritaram a uma só voz:
“Viva a nova rainha das formigas e das cigarras!”.
Moral da história: formiga que só trabalha nunca chega a rainha.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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