Alguns esclarecimentos sobre a Venezuela
Ao contrário do que alguns “analistas’ desinformados afirmam, o governo Lula nunca deu “cheque em branco” para o governo Maduro
A imprensa conservadora está comemorando a crise diplomática entre Brasil e Venezuela. Não deveria. Relações diplomáticas são estabelecidas entre países; não entre governos. Crise diplomática, especialmente com vizinhos, é sempre ruim para os interesses nacionais.
Além disso, essa crise bilateral é negativa também para a integração regional. Temos de evitar qualquer importação de conflitos geopolíticos para nossa região.
Ao contrário do que alguns “analistas’ desinformados afirmam, o governo Lula nunca deu “cheque em branco” para o governo Maduro.
O Acordo de Barbados não foi inventado pelo Brasil.
Tal acordo foi mediado pela Noruega e recebeu apoio de muitos países. Recebeu apoio da Espanha, do México, da Colômbia, da Uniao Europeia etc. etc. Até mesmo os EUA, que voltaram a precisar do petróleo venezuelano, apoiaram o acordo. O Brasil simplesmente somou-se a um esforço internacional para pacificar a Venezuela e levantar as duras sanções que tanto mal causam ao povo venezuelano.
Todo o mundo esperava que o processo desse certo e que as eleições fossem lisas e transparentes. Infelizmente, isso não aconteceu. O Brasil, seguindo sua tradição diplomática, apostou em negociações e na paz.
Portanto, culpar o Brasil pelos desmandos do governo Maduro e pelo fracasso do processo é simplesmente ridículo.
Quem está sendo derrotado é o próprio governo Maduro, o qual está cada vez mais isolado.
O Brasil, em contraste com as agressões descabidas e surreais do governo de Maduro contra Lula e Celso Amorim, continua a apostar na continuidade das relações diplomáticas, no diálogo e na paz.
O governo Maduro, contudo, parece querer investir no antigo isolacionismo regional, que caracterizou , por muito tempo, a política externa venezuelana.
Na década de 50 do século passado, a Venezuela já havia se convertido no segundo produtor e no primeiro exportador mundial de petróleo. Essa notável afluência econômica foi obtida numa relação de estreita dependência com os EUA, o principal comprador do óleo venezuelano.
Dessa forma, a política externa venezuelana, durante décadas, apostou apenas nessa relação bilateral privilegiada. Virou as costas para seu entorno.
Tal situação só começou a mudar na década de 1990. É dessa época (1994) a assinatura do Protocolo da la Guzmania, que iniciou a aproximação do Brasil com a Venezuela.
Já no período chavista, houve modificação profunda da política externa venezuelana, e Chávez passou a ser um entusiasta da integração regional. Tinha boas relações até mesmo com a Guiana.
Agora, o governo Maduro parece estar desinvestindo na integração regional e apostando em suas relações com potências extrarregionais, como China e Rússia.
Com efeito, Maduro está brigando com a maioria dos países da nossa região, mesmo com os amigos tradicionais, em razão dos justos questionamentos sobre as eleições.
É uma espécie de volta ao isolacionismo regional, com sinais geopolíticos trocados.
Isso é muito ruim para os interesses brasileiros e para toda região.
A América do Sul e a América Latina não podem ser palco de conflitos e disputas geopolíticas. Temos de fugir da agenda estéril e contraproducente da nova Guerra Fria.
Temos de investir em integração, diálogo e paz.
A diplomacia brasileira tem de persistir em tolerância e racionalidade.
Os celerados que gritem sozinhos. Isso não vai resolver nada. As sanções não serão levantadas e ninguém vai entrar no BRICS insultando o Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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