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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Alguns esclarecimentos sobre a Venezuela

Ao contrário do que alguns “analistas’ desinformados afirmam, o governo Lula nunca deu “cheque em branco” para o governo Maduro

Presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Twitter/NicolasMaduro)

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A imprensa conservadora está comemorando a crise diplomática entre Brasil e Venezuela. Não deveria. Relações diplomáticas são estabelecidas entre países; não entre governos. Crise diplomática, especialmente com vizinhos, é sempre ruim para os interesses nacionais. 

Além disso, essa crise bilateral é negativa também para a integração regional. Temos de evitar qualquer importação de conflitos geopolíticos para nossa região.

Ao contrário do que alguns “analistas’ desinformados afirmam, o governo Lula nunca deu “cheque em branco” para o governo Maduro.

O Acordo de Barbados não foi inventado pelo Brasil.

Tal acordo foi mediado pela Noruega e recebeu apoio de muitos países. Recebeu apoio da Espanha, do México, da Colômbia, da Uniao Europeia etc. etc. Até mesmo os EUA, que voltaram a precisar do petróleo venezuelano, apoiaram o acordo. O Brasil simplesmente somou-se a um esforço internacional para pacificar a Venezuela e levantar as duras sanções que tanto mal causam ao povo venezuelano. 

Todo o mundo esperava que o processo desse certo e que as eleições fossem lisas e transparentes. Infelizmente, isso não aconteceu.  O Brasil, seguindo sua tradição diplomática, apostou em negociações e na paz.

Portanto, culpar o Brasil pelos desmandos do governo Maduro e pelo fracasso do processo é simplesmente ridículo.

Quem está sendo derrotado é o próprio governo Maduro, o qual está cada vez mais isolado.

O Brasil, em contraste com as agressões descabidas e surreais do governo de Maduro contra Lula e Celso Amorim, continua a apostar na continuidade das relações diplomáticas, no diálogo e na paz.

O governo Maduro, contudo, parece querer investir no antigo isolacionismo regional, que caracterizou , por muito tempo, a política externa venezuelana.

Na década de 50 do século passado, a Venezuela já havia se convertido no segundo produtor e no primeiro exportador mundial de petróleo. Essa notável afluência econômica foi obtida numa relação de estreita dependência com os EUA, o principal comprador do óleo venezuelano.

Dessa forma, a política externa venezuelana, durante décadas, apostou apenas nessa relação bilateral privilegiada. Virou as costas para seu entorno.

Tal situação só começou a mudar na década de 1990.  É  dessa época (1994) a assinatura do Protocolo da la Guzmania, que iniciou a aproximação do Brasil com a Venezuela.

Já no período chavista, houve modificação profunda da política externa venezuelana, e Chávez passou a ser um entusiasta da integração regional. Tinha boas relações até mesmo com a Guiana.

Agora, o governo Maduro parece estar desinvestindo na integração regional e apostando em suas relações com potências extrarregionais, como China e Rússia. 

Com efeito, Maduro está brigando com a maioria dos países da nossa região, mesmo com os amigos tradicionais, em razão dos justos questionamentos sobre as eleições.

É uma espécie de volta ao isolacionismo regional, com sinais geopolíticos trocados.

Isso é muito ruim para os interesses brasileiros e para toda região.

A América do Sul e a América Latina não podem ser palco de conflitos e disputas geopolíticas. Temos de fugir da agenda estéril e contraproducente da nova Guerra Fria.

Temos de investir em integração, diálogo e paz.

A diplomacia brasileira tem de persistir em tolerância e racionalidade. 

Os celerados que gritem sozinhos. Isso não vai resolver nada. As sanções não serão levantadas  e ninguém vai entrar no BRICS insultando o Brasil.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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