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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Cansados, Trump e Bolsonaro fogem de novas surras

    “O americano e o brasileiro foram fragilizados pela repetição exaustiva e pelos excessos do veneno do fascismo”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Donald Trump e Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)

    Carregar ações e discursos extremistas nas costas também cansa. Bolsonaro mostrou, em cima do caminhão na Paulista no 7 de Setembro, e brigando até com a turma dissidente do caminhão estacionado por perto, que está sem vigor.

    Trump, como se tivesse uma escora segurando o corpo, sempre meio de lado no debate com Kamala Harris na TV, também se expôs como um sujeito fragilizado pela repetição das mesmas mentiras e falas agressivas, todas desmontadas pela democrata.

    Bolsonaro e Trump são duas das mais bem acabadas criaturas do fascismo. Estão diante de realidades distintas, mas enxergando logo adiante a próxima etapa que os espera. É a etapa do ajuste de contas com a Justiça, que começa a acontecer depois da eleição.

    Trump ainda é competitivo e mantém o apoio da sua base conservadora como liderança da direita americana absorvida por seus extremismos. Mas Bolsonaro não desfruta desse consolo.

    O brasileiro é inelegível e está sob questionamento dentro da própria estrutura que ainda pretende comandar. E começa a ser abandonado, no núcleo duro da sua base social, pelos que enxergam Pablo Marçal como alguém capaz de assegurar algum futuro ao próprio bolsonarismo. O resumo é menos tio do zap e mais mano do TikTok.

    Trump e Bolsonaro vacilaram em espaços que dominam. Kamala deu uma surra no republicano na arena em que ele se sente à vontade, do púlpito, da comunicação, da conversa direta com o telespectador.

    E Bolsonaro deu sinais de fraqueza, em todas as formas de expressão, incluindo a corporal, no seu palanque preferido, em cima de um caminhão e falando para multidões de amarelo e em transe quase bíblico.

    São dois os sinais evidentes do cansaço com a tática e a retórica repetitiva de ambos. Trump já anunciou, depois de ser massacrado ao vivo como mentiroso desprezado até pela direita mundial, que não gostaria de enfrentar novo debate com Kamala.

    E Bolsonaro abandonou a campanha em São Paulo, onde não consegue calibrar seu apoio a Ricardo Nunes, diante da ameaça de implosão da extrema direita por Pablo Marçal.

    Trump não quer levar outra surra de Kamala, e Bolsonaro prefere não correr o risco de associar sua imagem, já abalada, à ausência de Nunes no segundo turno, e levar uma surra política de Marçal. Os dois, Trump e Bolsonaro, estão sendo consumidos pela exaustão provocada pelo próprio veneno que produzem.

    Isso significa que o ultraconservadorismo e a extrema direita também se fragilizam, na mesma proporção da fragilização de seus líderes? Não. Nada disso. As bases do fascismo se rearticulam no Brasil e estão vivas nos Estados Unidos.

    O que se percebe é que Trump e Bolsonaro talvez não consigam acompanhar, com a repetição cansativa de falas e atitudes, as demandas dos contingentes por eles mobilizados em nome do ódio, do preconceito, da difamação e do negacionismo.

    Descer de onde estão também será dramático. Ambos, dependendo dos resultados das eleições lá e aqui e da capacidade de imposição do Judiciário, serão submetidos a julgamentos que ex-presidentes dos dois países nunca enfrentaram como golpistas fracassados.

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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