Kamala adota estratégia de Lula e se apresenta como candidata da mobilidade social, diz presidente da Ipsos

247 - Clifford Young, presidente da Ipsos nos Estados Unidos e especialista em eleições americanas, vê a campanha de Kamala Harris como mais eficiente do que a de Donald Trump na busca por eleitores indecisos, que são cruciais para definir quem comandará a maior potência mundial a partir de janeiro. Se as eleições fossem hoje, Young acredita que a democrata venceria tanto no Colégio Eleitoral quanto no voto popular. “Mas 3/9 não interessa, e sim 5/11”, pondera, referindo-se às datas decisivas para o desfecho da eleição.

Em entrevista ao jornal O Globo, Young destaca o primeiro debate entre Kamala Harris e Donald Trump, que ocorrerá em uma semana, como um momento crucial para a consolidação do crescimento da democrata nas pesquisas. Segundo ele, este pode ser o momento para ampliar seu mapa eleitoral ou retornar a um cenário mais acirrado, semelhante à disputa entre Trump e Biden, com a decisão final nos estados-chave da "Muralha Azul" — Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.

Desafios para ambos os lados no debate

Para vencer o debate, Kamala Harris precisará resistir aos ataques e provocações de Trump, além de demonstrar empatia pelos que sofrem com a alta inflação. Já Trump, segundo Young, precisa se concentrar em seus planos para a economia e enfatizar que Harris fez parte do governo Biden, algo que ele tem falhado em comunicar de maneira eficaz.

O especialista ainda aponta o despreparo da campanha republicana e o efeito emocional do suposto atentado contra a vida do ex-presidente como possíveis razões para a falta de impacto da retórica de Trump. “Trump tem sido ineficaz em passar uma mensagem clara”, observa Young.

Comparação com a eleição brasileira

Clifford Young faz uma comparação curiosa entre a corrida presidencial nos EUA e a eleição brasileira de 2022. Ele compara a estratégia de Kamala Harris com a do presidente Lula (PT) contra Jair Bolsonaro (PL). Assim como Lula, Kamala tem conseguido mostrar aos eleitores como ela poderá aumentar a mobilidade social.

Young acredita que Trump deveria focar mais nas questões econômicas, onde tem vantagem nas pesquisas, ao invés de se dispersar em outros assuntos. "Trump poderia estar falando de economia repetidamente, pois os americanos confiam mais nele quando o assunto é dinheiro, mas ele não tem feito isso", comenta o especialista, destacando o que considera um erro estratégico da campanha republicana.

"Penso nas eleições presidenciais do Brasil em 2022, no segundo turno. A campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito mais enfática e eficiente do que a do ex-presidente Jair Bolsonaro em mostrar ao eleitor como seu governo afetaria diretamente sua mobilidade social. É o que Kamala está fazendo neste momento.