Decisão do governo chinês sobre importação de carne reforça necessidade do Brasil buscar novos mercados
Abiec diz que governo brasilero deve manter parceria estratégica com a China, e ao mesmo tempo ampliar negociações com outros países, como Japão e Vietnã
A China anunciou nesta sexta-feira (27) que iniciará uma investigação sobre as importações de carne bovina. A decisão do Ministério do Comércio chinês tem relação com o excesso de oferta, que levou os preços domésticos do produto a mínimas em vários anos. Especialistas entendem que esta é uma resposta que o governo chinês dá aos pecuaristas e à indústria da carne do país asiático.
A Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) se manifestou sobre a decisão e lembrou que a China é o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina.
“A ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) acompanha com atenção a investigação anunciada hoje (27.12.2024) pelo Ministério do Comércio da China sobre as importações de carne bovina, envolvendo todos os países exportadores para aquele país, incluindo o Brasil. Reconhecemos o papel estratégico do mercado chinês, principal destino das exportações brasileiras de carne bovina. Em 2024, mais de 1 milhão de toneladas foram exportadas para a China, um suprimento fundamental para complementar a produção local chinesa, hoje estimada em 12 milhões de toneladas”, destacou, em nota.
“Qualquer medida comercial para tentar reduzir as importações de carne bovina atingiria os maiores fornecedores da China, como Brasil, Argentina e Austrália”, acrescentou.
As importações totais de carne bovina da China atingiram 14,2 bilhões de dólares em 2023, um aumento em relação aos 8,2 bilhões de dólares de 2019, segundo dados alfandegários. O Brasil foi responsável por 42% do valor total do comércio, seguido pela Argentina, com 15%, e pela Austrália, com 12%.
De janeiro a novembro de 2024, o Brasil exportou 1,21 milhão de toneladas de carne bovina para a China, alta de 11% na comparação anual, segundo dados divulgados no início do mês pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Isso representa cerca de 40% das exportações brasileiras do produto.
A Abiec, que representa companhias como JBS, Marfrig e Minerva, reforçou seu compromisso com autoridades do Brasil e da China no sentido de contribuir para encontrar soluções que “atendam aos interesses de ambas as nações”.
A exportação de carne bovina do Brasil está em patamares recordes neste ano, com os embarques totais caminhando para superar 3 milhões de toneladas, segundo dados oficiais citados pela Abrafrigo, que apontou aumento de mais de 30% de janeiro a novembro.
As receitas geradas com os embarques para todos os destinos já superaram 12 bilhões de dólares, alta de mais de 23%, enquanto a China importou equivalente a mais de 5,4 bilhões de dólares no ano até novembro (mais 3,4%).
A investigação chinesa vai se concentrar em importações entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2024, disse o ministério em um comunicado, acrescentando que isso foi feito após uma solicitação da Associação de Criação de Animais da China e outros grupos de gado e pecuária.
Os solicitantes disseram que um aumento acentuado nos volumes de importação durante o período havia “prejudicado seriamente” a indústria doméstica da China, disse o ministério.
O presidente da Abiec, Roberto Perosa, descarta qualquer possibilidade da medida ter relação com questões geopolíticas, às vésperas da posse de Donald Trump como presidente dos EUA.
“Zero chance, penso eu. É para dar uma resposta aos pecuaristas e à indústria chinesa”, observou. O preço da produção de carne na China é muito alto, ao contrário dos custos da produção brasileira, muito menos dependente de ração.
Por isso, a longo prazo, é esperado que a China imponha restrições para importação de carnes, inclusive do Brasil, apesar da parceria estratégica, para defender os produtores locais. Para o Brasil, é importante buscar mercados alternativos.
“É importante negociarmos com Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Turquia”, disse Perosa, com a ressalva de que sua fala é “ no sentido de entender os motivos do governo chinês e para continuarmos nossa parceria estratégica, mas sem deixar de olhar novos mercados”.
Perosa foi secretário do Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária entre janeiro de 2023 e outubro deste ano, e ajudou o presidente Lula e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a conquistar novos mercados para o Brasil.
A decisão da China reforça a necessidade do governo continuar seu trabalho de ampliar as negociações bilaterais, aproveitando a credibilidade que Lula tem junto a outros países. O presidente tem sete viagens já agendadas para 2025.
Em março, ele deve ir para Japão, Vietnã e Uruguai. Ao longo do ano, ele também vai para a Argentina, EUA, África do Sul e França. Em todas essas viagens, deve se fazer acompanhar de representantes do setor frigorífico.
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