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    Leonardo Attuch

    Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste

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    Documentos da CIA sobre o assassinato de Kennedy revelam que Leonel Brizola ainda está aqui

    Um dos políticos mais perseguidos da história do País expressa o sonho de um Brasil soberano. Os ataques que ele sofreu também explicam a campanha contra Lula

    Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola (Foto: Reprodução/Twitter/Lula)

    A liberação de documentos secretos da CIA sobre o assassinato de John F. Kennedy, pelo governo de Donald Trump, trouxe à tona novas evidências sobre a intensa vigilância e perseguição dos Estados Unidos contra líderes nacionalistas brasileiros, como também ocorreu com Getúlio Vargas, João Goulart e Rubens Paiva. Mas, mais do que um mero capítulo da Guerra Fria, esses arquivos revelam algo essencial: Brizola ainda está aqui. Seu legado, sua luta e sua visão de país continuam sendo peças fundamentais para compreender o Brasil de ontem e de hoje.

    A espionagem americana sobre Brizola não foi um acaso. Desde os tempos da Cadeia da Legalidade, quando ele impediu um golpe militar que buscava barrar a posse de Jango em 1961, até suas campanhas presidenciais nos anos 1980 e 1990, Brizola sempre esteve na linha de frente da defesa da soberania nacional. Para o Império e suas forças associadas no Brasil, isso era inaceitável.

    Os documentos liberados recentemente confirmam que Brizola foi monitorado pela CIA desde os anos 1960. Em um dos registros, a agência descreve como ele recusou a oferta de ajuda de Cuba e da China naquele período, temendo que isso justificasse uma intervenção americana no Brasil. Mesmo assim, sua defesa do nacionalismo econômico e sua luta contra a entrega das riquezas nacionais fizeram dele um alvo prioritário. O golpe de 1964, com apoio direto dos EUA, destruiu o projeto trabalhista de Jango e Brizola e impôs duas décadas de repressão política e um modelo de desenvolvimento marcado pelo alinhamento automático com os interesses imperiais. 

    A mídia como arma contra o nacionalismo

    A perseguição a Brizola não veio apenas do exterior. No Brasil, a Rede Globo, aliada da ditadura, tornou-se um dos maiores instrumentos para difamar o líder trabalhista. A campanha contra ele foi implacável, tentando associá-lo ao caos, à violência e ao atraso. Mas, mesmo enfrentando um dos maiores monopólios de comunicação do mundo, Brizola venceu a eleição para governador do Rio de Janeiro em 1982 e impôs à emissora uma derrota histórica com o famoso direito de resposta em cadeia nacional.

    A Globo e os militares sabiam que Brizola representava a continuidade do projeto interrompido com o golpe de 1964. Ele defendia um Brasil forte, independente, com um Estado capaz de garantir desenvolvimento e justiça social. Seus CIEPs, escolas em tempo integral, simbolizavam seu compromisso com a educação pública. Seu combate à privatização e à entrega das empresas estratégicas o tornava uma pedra no sapato dos que queriam transformar o Brasil em um quintal das multinacionais ou uma vaca-leiteira para a transferência de dividendos ao capital financeiro internacional.

    Brizola e a luta contra a interferência externa

    As novas revelações sobre o monitoramento da CIA mostram como a política externa dos EUA nunca esteve dissociada dos interesses econômicos e do controle da América Latina. O que começou com a desconfiança sobre a viagem de Jango à China em 1961 culminou no golpe de 1964 e na destruição do projeto nacionalista que poderia ter transformado o Brasil. Décadas depois, esse mesmo processo se repetiria, com novas estratégias e outras táticas de lawfare, como na guerra híbrida contra a presidenta Dilma Rousseff e durante a Lava Jato, contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sempre com o mesmo objetivo: impedir que o Brasil tenha autonomia e caminhe com as próprias pernas.

    O caso de Rubens Paiva, resgatado no filme "Ainda Estou Aqui", vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2025, reforça essa triste realidade. A nova leva de documentos da CIA confirma que a repressão contra Paiva, Jango e Brizola foi fomentada pelos EUA. O objetivo era silenciar qualquer voz que defendesse um país soberano e socialmente justo.

    Por que Brizola ainda está aqui?

    Se Brizola foi perseguido, espionado e atacado com tanta violência, é porque ele representava uma ameaça real ao status quo e aos interesses da classe dominante. Ele encarnava um projeto de Brasil que assustava elites locais e potências estrangeiras: um país que não se curvaria aos ditames externos, que apostaria na educação pública, na industrialização, no desenvolvimento soberano e na distribuição de renda.

    E é por isso que seu legado segue vivo. Brizola ainda está aqui na luta pela soberania nacional, nas políticas públicas que tentam resistir ao desmonte do Estado, na necessidade urgente de uma imprensa democrática e plural. Ele está aqui na valorização da educação como base do desenvolvimento e na resistência contra a entrega das riquezas nacionais.

    Os documentos da CIA não apenas revelam o que foi feito contra ele — eles reforçam que é preciso manter vivos seus ideais. Se Brizola foi tão atacado, é porque estava no caminho certo. E se seu nome ainda assombra aqueles que querem um Brasil dependente, como ficou explícito na fala recente do banqueiro Rogerio Xavier, da SPX, que disse dias atrás ter desejado a morte de Brizola, é porque ele jamais foi apagado da história. 

    Além disso, compreender a perseguição das elites locais e internacionais contra Leonel Brizola também explica os ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e toda a atual campanha econômica e midiática que vem sendo organizada contra sua reeleição em 2026.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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