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    Marcelo Zero

    É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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    Em Desespero, Ucrânia e EUA Escalam a Guerra

    "Como previsto, a guerra na Ucrânia está escalando a níveis muito perigosos"

    Presidentes Volodymyr Zelensky (da Ucrânia, à esq.), Joe Biden (dos EUA) e uma bomba de fragmentação (Foto: Reuters / Kevin Lamarque- Reuters / Oleg Solvang - Human Rights Watch)

    Como previsto, a guerra na Ucrânia está escalando a níveis muito perigosos. 

    A fracasso militar da contraofensiva ucraniana e diplomático da conferência de “paz” na Suíça, o isolamento de Zelensky na chamada “maioria global”, a falta de efetividade das sanções econômicas contra a Rússia, a crescente insatisfação com os custos do conflito na Europa e nos EUA etc. estão levando o Ocidente a medidas temerárias, que ameaçam aprofundar e ampliar uma guerra que envolve potências nucleares. 

    O ataque à cidade de Sebastopol, na Crimeia, com mísseis estadunidenses ATACMS carregados de bombas de fragmentação deixou um rasto de cinco mortos, inclusive duas crianças. 

    Obviamente, o alvo não era militar, o que agrava o ataque.

    As bombas de fragmentação foram desenvolvidas para enfrentar grandes avanços de blindados. Elas detonam no ar e fazem um volumoso estrago em uma área vasta. Apenas uma delas pode destruir o que estiver passando numa área equivalente a 5 campos de futebol. Seus fragmentos penetram em blindagem pesada.

    Não têm precisão alguma e, além disso, possuem uma taxa elevada de falha (entre 6% e 10%), o que resulta em “contaminação” de grandes áreas com explosivos não detonados. Mesmo após as guerras, esses explosivos causam danos consideráveis à população civil e inviabilizam atividades econômicas em partes significativas dos territórios atingidos.

    Em razão disso, há uma Convenção internacional (Convention on Cluster Munitions (CCM), composta por mais de 120 países, que proíbe a produção, a comercialização, a estocagem e o uso de munições de fragmentação.

    O seu uso contra alvos civis (uma cidade) poder ser considerado uma violação das Convenções de Genebra, concernentes ao direito humanitário.   

    O envolvimento dos EUA no ataque é evidente. Não apenas porque os mísseis são de fabricação estadunidense, mas também pelo fato de que seus sistemas de navegação utilizam satélites norte-americanos. Teria ocorrido, portanto, um envolvimento direto dos EUA no ataque, o que é algo muito grave.

    Por isso, a Rússia chamou a embaixadora dos EUA em Moscou para protestar, medida diplomática dura. 

    Coincidentemente ou não, no mesmo dia ocorreu um ataque terrorista no Daguestão, no leste do Cáucaso russo, que deixou 20 mortos. Esse ataque atingiu igrejas ortodoxas e uma sinagoga, além de instalações policiais. 

    Nesse último caso, é claro que houve motivação religiosa, com um modus operandi típico de jihadistas islâmicos.

    Isso não descarta, contudo, o possível envolvimento da Ucrânia, tal como teria acontecido no atentado contra a casa de shows Crocus, nos arredores de Moscou. 

    Os próprios EUA têm um histórico de incentivos a grupos extremistas desse tipo, quando tal convém aos seus interesses.

    Como é amplamente sabido, os EUA estimularam intensamente a luta extremista dos “mujahedins”, quando o Afeganistão tinha um governo secular apoiado pela União Soviética. A Al Qaeda começou a ser construída nessa época.

    Posteriormente, os EUA incentivaram a luta de extremistas islâmicos contra Kadafi, na Líbia, e Assad, na Síria.  

    Por conseguinte, não seria propriamente uma surpresa se for constatado que os serviços de inteligência da Ucrânia e dos EUA tenham estimulado, direta ou indiretamente, esse ataque e o atentado à Crocus. 

    As blacks ops da CIA servem para isso.

    Observe-se que a imensa Rússia tem cerca de 200 etnias. Incentivar divisões, conflitos e separatismos entre esses grupos pode ser uma estratégia eficiente para o enfraquecimento do país.

    Essa não é uma ideia nova.

    Zbigniew Brzezinski, scholar estadunidense que concebeu a geoestratégia dos EUA para Eurásia, apregoou, no seu livro “O Grande Tabuleiro de Xadrez”, de 1997, que a dominação daquele supercontinente implicaria não apenas a expansão da Otan até a Ucrânia e o fortalecimento de uma Europa sob hegemonia dos EUA, mas também uma descentralização territorial da Rússia.

    Argumentou ele que:

    Dada a enorme dimensão e diversidade do país, um sistema político descentralizado, baseado no livre mercado, seria mais propenso a liberar o potencial criativo tanto do povo russo e os vastos recursos naturais do país. 

    Por sua vez, a Rússia descentralizada seria menos suscetível à mobilização imperial.

    Brzezinski, entretanto, advertiu sobre uma ameaça potencial contra essa estratégia de hegemonia do EUA na Eurásia. Segundo ele:

    “Potencialmente, o cenário mais perigoso seria uma grande coligação entre a China, a Rússia e talvez o Irã, uma coligação 'anti-hegemônica' unida não pela ideologia, mas por queixas complementares... Evitar esta contingência, por mais remota que seja, exigirá uma demonstração de capacidade geoestratégica dos EUA. habilidade nos perímetros oeste, leste e sul da Eurásia simultaneamente.”

    Mas é exatamente o que está acontecendo, o que irrita sobremaneira o Ocidente.

    O fato é que os seguidos fracassos militares, diplomáticos, econômicos e geopolíticos dos EUA e aliados, relativamente ao conflito ucraniano, e a crescente fragilização da geoestratégia antevista por Brzezinski estão motivando ações mais agressivas do Ocidente. Ações essas que comprometem a segurança do todo o planeta.

    Desde 1962, quando ocorreu a crises dos mísseis em Cuba, que o mundo não se aproxima tanto de uma guerra nuclear.

    E ainda há gente que critique o Brasil por manter-se neutro e procurar uma paz exequível e real.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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