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      Marcia Carmo

      Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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      Equador: os motivos para o questionamento de Luisa González

      "O resultado do segundo turno da eleição presidencial do Equador é fortemente questionado pela opositora de Daniel Noboa"

      Luisa Gonzalez e Daniel Noboa (Foto: Reuters)

      O resultado do segundo turno da eleição presidencial do Equador é fortemente questionado pela opositora de Daniel Noboa, Luisa González, representante política da esquerda no país. Para ela e para o ex-presidente Rafael Correa, seu inspirador e pilar político, o resultado não condiz com a vontade popular dos equatorianos. “Megafraude”, escreveu Correa em sua conta no X. Ele divulgou a chamativa redução de votos para Luisa González em vários pontos do país entre o primeiro turno, em fevereiro, e o segundo turno, neste domingo (13). Em um comunicado, nesta manhã de segunda-feira, a Revolução Cidadã, base partidária de González e de Correa, denuncia o “desaparecimento massivo” de votos na eleição de domingo. Ela, por sua vez, desconhece o resultado – “fraude grotesca”, disse.

      A jornada de votação tinha começado com a declaração da presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Diana Atamaint, pedindo “paciência” do eleitorado porque o resultado seria apertado. Muitos questionaram a declaração já que a votação sequer tinha começado. As pesquisas indicavam empate técnico entre Noboa e González. 

      O resultado divulgado foi de cerca de 56% para Noboa e 44% para González. No primeiro turno, o resultado foi apertadíssimo, confirmando que uma parte do país queria a continuidade de Noboa, que cumpre mandato tampão de Guillermo Lasso, e outra defendia (defende) a eleição da primeira mulher presidenta do país e o retorno do correismo (que foi de 2007 a 2017). Com 47 anos de idade, Luisa González disse que Correa seria seu principal conselheiro - o que gerou apoio dos seguidores do ex-presidente, mas rejeição de seus opositores, concentrados, principalmente, em Guaiaquil, a área empresarial, que inclui a família milionária (exportadores de banana) de Noboa. 

      Banhada pelo Oceano Pacífico, essa região tem sido o caminho para a saída de drogas que passam pelo Equador para outros continentes, como o europeu. Até 2019, na última vez que estive no país, o Equador era o país mais seguro da América Latina. As pessoas dormiam de janela aberta. Hoje, virou base de quadrilhas internacionais do tráfico de drogas e o mais violento do território Latino-Americano, segundo levantamentos. Noboa optou por colocar, várias vezes, tropas nas ruas. E decretou ‘estado de exceção’ inclusive horas antes da eleição de domingo. Nos seus 16 meses de gestão até o dia da votação, a criminalidade não diminuiu, o país registrou seca histórica e apagões. 

      O desgaste levou analistas locais a indicarem que era a vez, com motivos, dá eleição de Luisa González (evangélica com diálogo fluido com diferentes setores da sociedade equatoriana e especificamente as comunidades indígenas). O questionamento da eleição de Noboa era esperado. Sua candidatura em si já tinha sido apontada, pela esquerda e por vários analistas equatorianos, como irregular. Por ser presidente, ele deveria ter se licenciado para disputar a corrida eleitoral ao Palácio Carandolet, de acordo com a imprensa local. Sua vice-presidente, Verónica Abad, o denunciou publicamente por tê-la deixado “impedida” até para votar na eleição de domingo. Aos 37 anos, Noboa, presidente mais jovem do país, é (como Milei) fã de Donald Trump. Ele planeja convocar uma Assembleia Constituinte para substituir a Carta Magna que nasceu com Correa. 

      Com o novo texto, ele pretende que os Estados Unidos e outros países posam instalar base militar no território equatorianos – nos tempos de Correa essa presença foi proibida. Noboa esteve na residência do norte-americano, em Mar-a-Lago, nos Estados Unidos, na semana do tarifaço global, que, como disse o presidente Lula, foi um “cavalo de pau” na economia global. Como afirmou Lula, na semana passada, em seu discurso na reunião da Celac, em Tegucigalpa, em Honduras, a América Latina “enfrenta um dos momentos mais críticos da história”. O mapa regional hoje tem Lula, no Brasil, Yamandú Orsi, no Uruguai, Petro, na Colômbia, Boric, no Chile, e Claudia Scheinbaum, no México. E Milei na Argentina, Peña, amigo de Milei, no Paraguai, e Bukele (que alugou presídio para Trump enviar imigrantes) em El Salvador. São tempos profundamente instáveis - de decisões e de definições - que devem ser acompanhados com lupa. 

      A América Latina é a mais desigual do planeta (não a mais pobre) e uma das mais ricas do planeta em talentos pessoais e recursos naturais. Seus movimentos de agora são a base para seu presente e seu futuro.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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