Globo sinaliza que a paz provisória acabou

A entrevista concedida por Lula à Rede Globo no dia de sua alta hospitalar traz um recado bem claro: o “acordo” entre os setores da direita e do centro com a esquerda em 2022 está desfeito. A prisão do ex-presidente e de seus generais golpistas se avizinha, e essa turma estará fora do páreo na eleição de 2026. 

Claro também que a Globo e os seus parceiros do agro e da Faria Lima já têm o nome para disputar a presidência do país e tentar retomar a “Ponte Para o Futuro” de Michel Temer: o governador Tarcísio de Freitas. 

Os sinais dados na entrevista veiculada no Fantástico falam por si. O jornalismo da emissora teve o desplante de enfiar um vídeo no meio da entrevista, defendendo a Lava Jato e Sérgio Moro, sem o conhecimento do entrevistado. Não se constrangeu fulminar as mais comezinhas regras de jornalismo e violar o direito do entrevistado, previsto na Constituição. Muito menos se importou em tratar com injustiça e desumanidade o presidente que passou mais de um ano preso injustamente. 

Mas o bom jornalismo passa longe do Jardim Botânico, sede da emissora no Rio de Janeiro e se revela também naquilo que não é dito, naquilo que é sonegado ao espectador. É aí que a emissora fala nas entrelinhas. Como todos sabemos, a entrevista de Lula foi editada. Em um dos cortes, fica mais que claro que o projeto da Globo nunca foi e nunca será o da defesa de um país com justiça social. 

O corte cirúrgico na fala do paciente em convalescência foi registrado por uma câmera da assessoria da presidência. Na fala cortada, Lula faz a defesa enfática da necessidade de se fazer justiça tributária. Disse o presidente: “Nós achamos que se o Brasil arrecadar corretamente os tributos já estabelecidos por lei, o Brasil vai ter arrecadação suficiente para cuidar das coisas. É por isso que eu estou isentando as pessoas que ganham até R$ 5 mil, porque tem que fazer justiça fiscal nesse país”. 

Esse tema nunca interessou à elite do atraso e muito menos ao porta-voz dessa elite, a Rede Globo. É só lembrar que neste ano de 2024 a emissora pressionou, e muito, os parlamentares a aprovarem a prorrogação até 2027 da desoneração sobre a folha de pagamento de empresas de 17 setores. Entre os agraciados, é claro, está a Rede dos Marinho. Essa benesse, que era específica para o ano de 2014, vem sendo prorrogada ininterruptamente, abrindo um rombo nos cofres do erário (ou seja, no meu, no seu, no nosso bolso). Ela representa a redução em 72% do total de isenções de INSS que deixaram de ser recolhidos. No caso da Rede Globo, de janeiro a agosto deste ano (8 meses), a emissora deixou de recolher ao INSS pouco mais de 173 milhões de reais.

O fato é que, para viabilizar o governo e manter-se no páreo nas próximas eleições, Lula e a esquerda terão que fazer bem mais do que fizeram até aqui e fazer com que esses feitos cheguem ao conhecimento da população. Terão que enfrentar as deslealdades, os ataques massivos de uma mídia que nunca se preocupou com nada além de os próprios interesses; de uma mídia que não se constrangeu em apoiar a ditadura, que atuou fortemente para erodir a democracia desde 2013 e que, por não conseguir conter o bolsonarismo que ajudou a parir, hasteou bandeira branca provisória. A paz provisória acabou, a guerra contra o povo brasileiro segue adiante, com a utilização das mesmas e conhecidas armas: a desinformação e a mentira.