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      José Reinaldo Carvalho

      Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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      Marco Rubio é personagem nefasto à frente da política externa dos EUA e pivô da ingerência na América Latina e Caribe

      Declarações e ações de Rubio contrastam com a integração soberana da região que prevaleceram na Cúpula da Celac

      Marco Rubio e Donald Trump (Foto: Reuters)

      Por José Reinaldo Carvalho - A nomeação de Marco Rubio como secretário de Estado dos Estados Unidos representa um retrocesso brutal para os esforços de afirmação da independência dos países da América Latina e Caribe e até mesmo das frágeis tentativas de diálogo soberano entre estes países e Washington. Trata-se de um personagem político conhecido por sua retórica agressiva, sua postura ideológica reacionária de ultradireita e seu alinhamento visceral com os setores mais retrógrados da diáspora cubano-americana de Miami. Rubio, cuja trajetória está marcada por sua obsessão anticubana e antivenezuelana, encarna de forma cristalina os interesses do imperialismo estadunidense em manter a América Latina e o Caribe sob seu jugo.

      Durante sua mais recente viagem à região - que incluiu visitas ao  Panamá, El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana - e seu contato em Washington com o ministro das Relações Exteriores da Argentina, o novo chefe da “diplomacia” dos Estados Unidos não escondeu seu objetivo central: reverter os avanços da integração latino-americana, minar governos progressistas e consolidar uma rede de aliados que obedeçam à cartilha do imperialismo estadunidense. Em discursos repletos de ameaças veladas, Rubio insistiu na "necessidade de restaurar a democracia" na Venezuela e em Cuba - eufemismo já gasto que, na boca de “diplomatas” norte-americanos, significa interferência direta, apoio a golpes, sanções econômicas e desestabilização política. "Uma das minhas prioridades é garantir que a política externa dos EUA seja uma política em que é melhor ser amigo do que inimigo; é melhor ser aliado do que alguém que cria problemas", enfatizou ele durante uma entrevista coletiva conjunta com Rodrigo Chaves, presidente da Costa Rica, em fevereiro último. A Costa Rica tem um histórico de vassalagem aos Estados Unidos, o que faz o secretário de Estado sentir-se mais à vontade para emitir sua mensagem intervencionista aos demais países da região. 

      Sob o pretexto da luta contra o “autoritarismo” e do combate ao “narcotráfico”, Rubio pretende aprofundar a militarização da região, reforçar a presença das agências de inteligência dos EUA e multiplicar as bases militares - instrumentos clássicos do controle imperialista sobre países do Sul Global. A doutrina Monroe, ganha agora roupagem renovada sob a batuta de Donald Trump e Marco Rubio: “A América para os americanos”, em sua interpretação, significa “a América Latina para os interesses dos Estados Unidos”.

      A concepção de política externa defendida por Marco Rubio reflete a continuidade da visão imperial dos EUA sobre a América Latina e o Caribe como seu “quintal”. Amparado em uma reinterpretação agressiva da Doutrina Monroe, Rubio promove uma política intervencionista que visa conter a influência de potências como China e Rússia na região. Para isso, aposta na desestabilização de governos que não se alinham a Washington e na imposição de sanções, como forma de pressão. Sua retórica justifica as ações dos EUA como defesa da “liberdade” e “democracia”, ao passo que desacredita iniciativas soberanas de integração regional. Rubio defende o uso estratégico da ampla rede de 76 bases militares dos EUA no continente como forma de vigilância e coerção. A militarização e a ingerência são, assim, pilares de sua abordagem. Seu objetivo é forçar os países latino-americanos a se posicionarem contra seus próprios interesses para favorecer os desígnios geopolíticos de Washington. Trata-se de uma política excludente e hostil à autodeterminação dos povos. Ao fazer isso, Rubio atualiza os preceitos do imperialismo clássico sob a roupagem da segurança nacional.

      Nas conversas com o chanceler argentino, elogiou o governo neofascista de Javier Milei e exaltou a privatização da economia, a abertura irrestrita ao capital estrangeiro e o rompimento com a diplomacia latino-americana multilateral. No Panamá, mencionou em tom ameaçador a necessidade de "evitar a influência chinesa" - uma clara tentativa de barrar a presença de outras potências na região e consolidar o monopólio estadunidense sobre os fluxos comerciais e geopolíticos do continente. 

      A ingerência escancarada, promovida por um personagem que se apresenta como porta-voz das “liberdades democráticas”, revela o verdadeiro projeto de Rubio: reconquistar a América Latina como zona exclusiva de influência dos EUA. Para isso, ele aposta no enfraquecimento de instituições regionais autônomas, no apoio a governos entreguistas e na sabotagem sistemática de qualquer iniciativa de autodeterminação dos povos latino-americanos. 

      Em contraste com essa visão retrógrada e imperialista, a 9ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), realizada esta semana em Honduras, apontou um caminho oposto. Com a presença de chefes de Estado de diversas orientações políticas, a cúpula reafirmou a defesa da soberania, da integração regional, da paz e do multilateralismo. Foram aprovadas resoluções que condenam o bloqueio econômico contra Cuba, que defendem a não intervenção em assuntos internos dos países e que incentivam a cooperação em áreas estratégicas como saúde, educação, ciência e infraestrutura.

      A Celac reafirmou sua importância como espaço autônomo frente à Organização dos Estados Americanos (OEA), tradicionalmente manipulada pelos EUA. Em um momento de grande instabilidade global, os países latino-americanos voltam a buscar saídas conjuntas e solidárias, em oposição ao receituário entreguista e intervencionista que Rubio quer impor à força.

      A retórica beligerante do novo secretário de Estado dos EUA revela não apenas o fracasso de sua política externa - que há décadas tenta derrubar governos progressistas sem sucesso - mas também a resistência crescente de uma região que aprendeu, a duras penas, o preço da submissão. A América Latina do século 21 não é a mesma dos tempos da Guerra Fria. Hoje, existem lideranças conscientes, povos mobilizados e estruturas políticas que, mesmo com contradições, avançam em direção a um projeto de independência e desenvolvimento soberano. 

      Marco Rubio pode ter conquistado um cargo poderoso em Washington, mas sua visão de mundo está ultrapassada. A América Latina não aceita mais ser tratada como quintal. A cada novo gesto de ingerência, cresce a convicção de que o único caminho possível é o da autodeterminação, da unidade regional e da construção de uma nova ordem internacional, onde impérios não ditam o destino de nações livres. 

      Rubio representa o passado. A Celac aponta para o futuro. Cabe aos povos latino-americanos escolherem de que lado da história querem estar.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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