O lavajatismo sobrevive: Cúpula da Polícia Federal quer aliado de Sergio Moro na chefia do Coaf
Delegado Ricardo Saadi comandava o DRCI quando as “provas imprestáveis” da Odebrecht foram trazidas da Suíça, o que levou STF a anulá-las
No que depender da Polícia Federal, um aliado da Lava Jato assumirá o Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), que é administrativamente vinculado ao Banco Centro. É o que informa a Folha de S. Paulo nesta terça-feira. Segundo o jornal, a cúpula da PF trabalha para que o delegado Ricardo Saadi assuma o órgão a partir de 2025, quando o presidente do BC será Gabriel Galípolo.
O movimento em favor do nome de Saadi surgiu depois que o delegado-geral da PF, Andrei Rodrigues, levantou suspeitas sobre a atuação do Coaf durante a última campanha eleitoral. Andrei afirmou que o Coaf deixou de comunicar R$ 50 milhões em transações suspeitas de estarem relacionadas à compra de votos.
Diante da gravidade da suspeita, faz sentido a pressão para mudança no Coaf, mas o nome preferido do delegado-geral tem um histórico que não o recomenda para um cargo tão importante neste governo. Saadi foi diretor do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) entre 2010 e 2017.
A Lava Jato teve início em 2014 e hoje já se sabe que as cooperações com autoridades dos EUA e Suíça se deram à margem dos tratados internacionais. Saadi pode argumentar que a Lava Jato é que tinha a obrigação de solicitar a intermediação do DRCI. Porém, a suspeita é que, em pelo menos um caso, o DRCI agiu para esquentar uma cooperação clandestina da Lava Jato com a Procuradoria da Suíça, em 2016.
Nessa ocasião, a força-tarefa coordenada por Deltan Dallagnol obteve os arquivos do sistema de comunicação Drousys que era utilizado pela Odebrecht. O DRCI teria atuado posteriormente, ao que parece ciente da irregularidade, apenas para legitimar a suposta prova.
O advogado Rodrigo Tacla Duran, que prestou serviços para a Odebrecht e era usuário do Drousys, disse na CPI da JBS, em 2017, que o sistema foi adulterado. Esta foi uma das razões pelas quais Ricardo Lewandowski considerou as provas imprestáveis, uma decisão mais tarde reforçada pelo ministro Dias Toffoli, que determinou a investigação de todos os agentes públicos envolvidos no caso. Toffoli não citou nomes, mas na época Saadi chefiava o DRCI.
Quando Sergio Moro assumiu o Ministério da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, Ricardo Saadi foi escolhido como superintendente da Polícia Federal e acabou se tornando o pivô da demissão do ex-juiz.
Bolsonaro suspeitava que Saadi agia para prejudicá-lo e, consequentemente, fortalecer Moro. Por isso, exigiu sua substituição. Moro não aceitou e acabou deixando o governo.
A ligação de Moro com a família Saadi é mais antiga. Quando Tony Garcia foi preso, em 2004, um tio de Ricardo, Jaber, era superintendente da Polícia Federal no Paraná, e convenceu o empresário a trocar de advogado, o que abriu caminho para que ele aceitasse ser agente infiltrado do então juiz e, a mando deste, atuasse de maneira ilegal.
Lula, que foi perseguido por Moro e preso injustamente, já disse que, como presidente, não pode se vingar do ex-juiz. Não atuou nem para que ele fosse condenado pelo TSE por abuso de poder econômico durante a campanha ao Senado.
Impedir que um aliado do ex-juiz assuma um posto tão importante como o Coaf não seria vingança. Seria agir em defesa do interesse público, pois afastaria o risco de uma nova Lava Jato. Moro e sua turma deram um tempo, mas, na primeira oportunidade, mostrarão os dentes novamente. Só esperar.
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