Trump e a retirada de organizações internacionais: um homem declarando guerra ao mundo
O problema com o presidente dos EUA, Donald Trump, é que ele apenas ouve os conselhos e segue as orientações do lobby sionista que o cerca por todos os lados
Muitos especialistas tentam analisar a personalidade do presidente dos EUA, Donald Trump, à luz das decisões que toma de forma imediata e precipitada, sem considerar as consequências. Essas atitudes indicam uma psique ansiosa e desequilibrada, uma ilusão de grandeza e um senso de superioridade.
O presidente expôs sua ignorância absoluta em dois incidentes recentes. No primeiro, anunciou a interrupção da ajuda a Gaza no valor de cinquenta milhões de dólares, o equivalente ao custo de preservativos que foram distribuídos como auxílio, mas que, segundo ele, o Hamas utilizaria para fabricar armas. Esse não é apenas um discurso de uma pessoa desinformada, mas de um tolo que desconhece o fato de que existe uma região chamada Gaza em Moçambique, que enfrenta uma grave crise devido à disseminação do vírus da imunodeficiência humana (HIV/AIDS). Além disso, a alegação sobre o uso de preservativos para fabricação de armas se aproxima mais da ficção científica do que da realidade.
O segundo episódio insensato e distante da verdade foi seu anúncio sobre o corte de ajuda e a imposição de sanções à África do Sul. Ele justificou a medida alegando que a maioria negra violou os direitos da minoria branca e confiscou suas propriedades após o fim do regime do apartheid em 1994. No entanto, essa informação é completamente falsa. Nelson Mandela decidiu não confiscar bens pertencentes à população branca, que dominava a economia do país. Ele alertou seu povo de que o país entraria em colapso econômico caso os brancos deixassem a nação levando consigo seu capital. Esse temor se confirmou no vizinho Zimbábue, onde a economia quase desmoronou completamente após o ex-presidente Robert Mugabe decidir nacionalizar as propriedades dos brancos.
O problema com o presidente dos EUA, Donald Trump, é que ele apenas ouve os conselhos e segue as orientações do lobby sionista que o cerca por todos os lados. Gostaria de destacar, em particular, Miriam Adelson, viúva de Sheldon Adelson, que apoiou a campanha de Trump em seu mandato anterior em troca do reconhecimento de Jerusalém como a capital eterna e indivisível de Israel, além da transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém.
Após a morte de Sheldon, Miriam assumiu esse papel estratégico e ofereceu a Trump três vezes mais do que seu marido havia doado, em troca da anexação da Cisjordânia e da punição de qualquer pessoa que criticasse, ofendesse ou prejudicasse Israel.
A partir desse ponto, Trump ampliou sua estratégia para penalizar países, organizações internacionais e movimentos que criticam Israel. Aqui, focaremos nas tentativas de Trump de enfraquecer o sistema internacional encarregado de implementar o direito internacional, o direito internacional humanitário e os direitos humanos no âmbito global.
Durante seu mandato atual, continuou o que havia iniciado no anterior, adotando uma série de medidas contra organizações e tratados internacionais já no primeiro mês de sua gestão. A seguir, destacamos algumas das decisões mais impactantes, que causaram indignação em diversos países ao redor do mundo:
Retirada da Organização Mundial da Saúde (OMS)
No mesmo dia de sua posse, poucas horas após assumir o cargo de presidente dos Estados Unidos, Trump anunciou a retirada do país da Organização Mundial da Saúde. "A Organização Mundial da Saúde está nos enganando", declarou ele aos repórteres. "Todo mundo está traindo os Estados Unidos. Isso não vai mais acontecer."
Trump acusou a OMS de má gestão da pandemia de Covid-19 em 2020 e de agir como uma marionete da China, justificando assim sua decisão de se desligar da entidade. Entretanto, no primeiro dia de Joe Biden na Casa Branca, ele assinou uma ordem executiva para reintegrar os EUA à organização e destinou cerca de um bilhão e um quarto de dólares ao seu orçamento para os anos de 2022 e 2023.
Vale ressaltar que a decisão de retirada da OMS só entraria em vigor um ano após a notificação oficial da saída. Além disso, os Estados Unidos ainda precisariam quitar suas contribuições financeiras à organização para o período vigente, algo que permanecia incerto.
Em 21 de janeiro, um dia após sua posse, Trump decidiu retirar os Estados Unidos do Acordo Climático de Paris de 2015. Ele já havia tomado essa decisão em 2017, mas o ex-presidente Joe Biden reverteu a medida e assinou novamente o acordo logo nos primeiros dias de seu mandato na Casa Branca.
Essa retirada indica que Trump não acredita no aquecimento global nem nos danos causados pelo dióxido de carbono à saúde do planeta. Além disso, ele não está convencido de que os Estados Unidos sejam a maior fonte desse gás poluente. No entanto, optou por se alinhar ao Irã e ao Iêmen ao decidir não aderir ao acordo.
Em 3 de fevereiro, Trump determinou a suspensão do financiamento à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), assinando uma ordem executiva para esse fim. O governo Biden já havia suspendido o financiamento da agência desde novembro de 2023, após Israel acusá-la de envolvimento de 12 funcionários na operação de 7 de outubro. A suspensão permanecerá em vigor até março de 2025, data que dependerá do resultado das eleições nos EUA.
O corte de financiamento estadunidense levou outros países, como Suécia, Suíça e Holanda, a adotarem posições semelhantes, alinhando-se à política israelense que visa a eliminação completa da UNRWA.
Em 11 de fevereiro de 2025, Trump emitiu uma ordem executiva retirando os Estados Unidos do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Segundo o documento, o Conselho atua "contra os interesses dos EUA, ao mesmo tempo em que ataca nossos aliados e promove o antissemitismo".
Imposição de sanções aos responsáveis pelo Tribunal Penal Internacional (TPI)
Após a visita do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, à Casa Branca, Trump anunciou, em 6 de fevereiro, a imposição de sanções contra funcionários do Tribunal Penal Internacional (TPI), justificando que a instituição tomou "ações ilegais e infundadas contra os Estados Unidos e nosso aliado próximo, Israel".
De acordo com a ordem executiva, as sanções incluem: "o bloqueio de bens e ativos, bem como a proibição de entrada nos Estados Unidos para funcionários e empregados do Tribunal Penal Internacional e seus familiares imediatos, pois sua presença em nosso país seria prejudicial aos interesses dos Estados Unidos".
Trump foi explícito ao afirmar que o objetivo da medida era punir o TPI por emitir mandados de prisão contra altos funcionários israelenses, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Yoav Galant.
Os republicanos tentaram aprovar uma resolução no Senado para oficializar as sanções contra o TPI, mas enfrentaram forte oposição dos democratas, impossibilitando sua aprovação. Diante disso, Trump emitiu a ordem executiva unilateralmente. Para que o Senado revogue essa decisão, seria necessário o apoio de dois terços dos senadores, o que torna essa possibilidade praticamente inviável.
Na implementação deste decreto, em 13 de fevereiro, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções financeiras ao promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan.
Espera-se que Trump renove sua decisão anterior de retirar os Estados Unidos da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), assinada em 31 de dezembro de 2018, sob a justificativa de que a entidade foca excessivamente em questões do Oriente Médio, critica Israel e reconhece a Palestina como membro pleno. Israel seguiu o exemplo e também se retirou da organização após a saída de Washington.
O Congresso dos EUA aprovou uma lei que proíbe o financiamento de qualquer organização internacional que conceda à Palestina o status de Estado-membro pleno. No entanto, Biden reverteu essa decisão e reintegrou os EUA à UNESCO. Agora, aguarda-se uma nova decisão sobre a possível retirada sob o governo Trump.
Redução da contribuição para o orçamento geral das Nações Unidas
Em 3 de fevereiro, Trump autorizou que, a partir da data dessa ordem e pelos 180 dias subsequentes, o Secretário do Tesouro, em consulta com o Embaixador dos EUA na ONU, realizasse uma revisão completa de todas as organizações intergovernamentais das quais os Estados Unidos são membros e para as quais fornecem financiamento ou qualquer outro tipo de suporte.
Além disso, a revisão abrangeria todos os acordos e tratados internacionais dos quais os Estados Unidos fazem parte, a fim de determinar quais dessas entidades são inconsistentes com os interesses do país e se poderiam ser reformadas.
Após a conclusão da análise, o Secretário do Tesouro deverá apresentar suas conclusões ao Presidente, por meio do Assistente do Presidente para Assuntos de Segurança Nacional, e recomendar se os EUA devem se retirar de alguma dessas organizações, acordos ou tratados.
Essa revisão sinaliza que os Estados Unidos, sob a presidência de Trump, não limitarão suas ações às decisões já tomadas, mas seguirão implementando um conjunto de sanções, cortes de financiamento e retiradas de organizações e tratados internacionais.
Há pontos importantes a serem destacados no encerramento desta análise:
1. Existe um grande temor por parte do Secretário-Geral da ONU e de altos funcionários da organização de que Trump decida reduzir a contribuição dos EUA para o orçamento geral da ONU e para o financiamento das operações de manutenção da paz.
2. Tal medida poderia enfraquecer significativamente a ONU, marginalizar seu papel na promoção da paz e da segurança internacionais e encorajar outros países a adotar uma abordagem semelhante.
A China será a maior beneficiada caso os Estados Unidos deixem de ser o principal contribuinte para os orçamentos das Nações Unidas e de suas agências internacionais. Após a decisão de Trump de retirar os EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2020, a China destinou US$ 1 bilhão à entidade.
Com essa mudança, a China passará do segundo para o primeiro lugar na lista de países que mais financiam organizações internacionais, o que ampliará seu papel e influência global, além de fortalecer sua credibilidade no cenário internacional.
Trump parece convencido de que os Estados Unidos "se tornarão grandes novamente" por meio do isolamento internacional, da retirada do cenário global e da criação de tensões com países vizinhos, a Europa, o Oriente Médio e a América Latina.
No entanto, essa estratégia acaba fortalecendo o poder de influência da China, seguida pela Rússia, pelos países do BRICS, pelo G20 e por outras nações emergentes. Diante desse cenário, não é exagero prever que, em um futuro não tão distante, os Estados Unidos possam perder a posição dominante que ocupam há tanto tempo no cenário mundial.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: