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    Bolsonaro já vinha trabalhando em plano de fuga desde 2021

    PF revela detalhes de estratégia que incluía ações militares e evasão internacional diante de decisões do STF

    Jair Bolsonaro em ato na Avenida Paulista, São Paulo-SP, 7 de setembro de 2024 (Foto: Reuters)

    247 – A Polícia Federal, em relatório enviado à Procuradoria-Geral da República no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado, trouxe à tona a existência de um plano de fuga elaborado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ainda em 2021. O plano foi descoberto em um arquivo de PowerPoint armazenado no notebook do tenente-coronel Mauro Cid de Oliveira, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O documento, reportado pelo Valor, detalha estratégias que seriam acionadas em caso de confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo ocupação militar de edifícios governamentais e evasão do então presidente para fora do Brasil.

    De acordo com o relatório, o plano previa três cenários para sua ativação: interferência do STF no Executivo, cassação da chapa presidencial para as eleições de 2022 e eventual bloqueio da aprovação da PEC do voto impresso no Congresso. Esses elementos confirmam que o plano foi concebido em 2021, ano em que Bolsonaro intensificou pressões sobre o Legislativo para tentar aprovar o fim do voto eletrônico, incluindo manobras militares simbólicas realizadas pela Marinha na Esplanada dos Ministérios. A proposta, entretanto, foi rejeitada pela Câmara dos Deputados.

    Ocupação militar e fuga internacional

    O plano previa a ocupação dos Palácios da Alvorada e do Planalto por agentes armados do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para garantir a segurança de Bolsonaro durante a evasão. O relatório da PF indica que a estratégia envolvia a tomada de "infraestruturas estratégicas" e ações coordenadas para afastar o presidente de possíveis medidas judiciais ou políticas que ameaçassem seu mandato.

    O ápice das tensões entre o Executivo e o STF, segundo os investigadores, ocorreu em 7 de setembro de 2021. Naquela data, durante ato com apoiadores em São Paulo, Bolsonaro chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes de "canalha" e afirmou que não cumpriria decisões judiciais. A declaração gerou especulações sobre um impeachment sumário, mas a crise foi contornada após o ex-presidente Michel Temer intermediar um pedido de desculpas público de Bolsonaro.

    "Plano adaptado" no final de 2022

    Embora o plano inicial não tenha sido implementado em 2021, a PF aponta que ele foi adaptado e executado no final de 2022, após a derrota eleitoral de Bolsonaro. "Jair Bolsonaro, após não conseguir o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023", afirma o relatório.

    Em 30 de dezembro de 2022, Bolsonaro embarcou para Orlando, nos Estados Unidos, a bordo de um avião presidencial, evitando assim a transmissão da faixa presidencial ao presidente Lula. Ele permaneceu três meses fora do Brasil, enquanto seu entorno político continuava sob investigação. O relatório ainda reforça que os eventos de 8 de janeiro de 2023 – a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes – estavam alinhados com os objetivos estratégicos delineados no plano.

    Essa nova revelação acrescenta um capítulo importante às investigações sobre o período de tensão política no Brasil, reforçando as suspeitas de planejamento prévio de atos que atentaram contra a ordem democrática.

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