Bolsonaro tramou golpe quase dois anos antes de derrota para Lula, diz PF
Apresentação encontrada em notebook de Mauro Cid detalha os primeiros passos de uma tentativa de ruptura democrática
247 - O relatório final da Polícia Federal (PF) que embasou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa aponta que o planejamento de Bolsonaro e aliados para uma ruptura institucional no Brasil teve início quase dois anos antes da sua derrota nas eleições de 2022.
Segundo a coluna da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, o núcleo da investigação da PF está em uma apresentação de slides encontrada no notebook do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, apreendido durante as investigações.
O arquivo, datado de 22 de março de 2021, descreve em detalhes um golpe de Estado apoiado por táticas militares, incluindo um plano de fuga para o ex-mandatário, caso a investida fracassasse. A apresentação foi criada 20 meses antes das eleições, revelando o caráter premeditado da tentativa de ruptura.
Para a PF, o ex-mandatário, amparado por seus aliados, enfrentou o Judiciário e chegou a ameaçar uma ruptura institucional em setembro de 2021, quando atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) durante a tradicional comemoração do 7 de setembro. O plano de golpe foi escalado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022, conforme a análise da PF.
O documento encontrado por investigadores detalha três cenários que levariam Bolsonaro a desrespeitar decisões judiciais e avançar para uma ruptura democrática. As possíveis causas de tal ação incluíam a intervenção do STF sobre o Executivo, a cassação de sua chapa à reeleição ou o veto do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à implementação do voto impresso. Embora o projeto tenha sido derrotado na Câmara dos Deputados, a ameaça de confronto com o Judiciário seguiu se intensificando.
O relatório da PF descreve com clareza as intenções golpistas, com o uso de "técnicas militares" para garantir a fuga de Bolsonaro, caso as ações fracassassem. As investigações também revelam os preparativos para manifestações violentas em Brasília e São Paulo, como o apoio de figuras como o cantor e ex-deputado Sérgio Reis e o caminhoneiro Zé Trovão, que incitaram os bolsonaristas a invadir o STF.
No dia 7 de setembro de 2021, Bolsonaro foi enfático, afirmando: “Ou o chefe desse Poder [Luiz Fux] enquadra o seu, ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”.
Durante o evento, o então presidente ainda ameaçou não aceitar o resultado das eleições sem a implementação do voto impresso. Além disso, anunciou a convocação do Conselho da República, que poderia declarar um estado de defesa ou de sítio, embora o colegiado não tenha sido formalmente acionado.
A PF ainda revelou que, caso o golpe não fosse bem-sucedido, o planejamento incluía a "exfiltração" de Bolsonaro, ou seja, sua retirada clandestina do país. Isso ocorreu, de fato, em 2022, quando Bolsonaro viajou para os Estados Unidos após perder as eleições, evitando uma possível prisão e aguardando o desfecho da crise política que culminaria com os ataques terroristas de 8 de janeiro de 2023.
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