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    Celso Amorim rebate Múcio e critica compra de blindados de Israel: "país acusado de genocídio"

    'Não há nada de ideológico, mas isso também é uma questão política', afirma o assessor do presidente Lula para Assuntos Internacionais

    (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil (26/06/2023))

    247 - O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, o ex-chanceler Celso Amorim, voltou a se posicionar sobre a compra de 36 veículos blindados da empresa israelense Elbit Systems pelo governo brasileiro. Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim destacou que, embora não haja uma questão ideológica na escolha, o aspecto político de negociar com um país em guerra não pode ser ignorado. A decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), que permitiu a continuidade do processo de aquisição, também foi comentada por ele, sem críticas diretas à legalidade, mas com ênfase nos riscos envolvidos.

    Na última quarta-feira (18), o TCU decidiu, de forma unânime, que não há impedimentos legais para que o governo brasileiro adquira os blindados da empresa israelense, mesmo diante do genocídio do povo palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza. “Não comento decisão do TCU, mas nunca foi colocada em questão a legalidade do processo e nem há nada de ideológico, mas isso também é uma questão política. Você está comprando equipamento sensível de um país acusado de genocídio pela Corte Internacional”, afirmou Amorim ao jornal.

    A compra, avaliada em R$ 1 bilhão, envolve veículos blindados equipados com obuses de longo alcance e precisão. O assessor argumenta que, além do conflito no Oriente Médio, a operação pode criar uma dependência tecnológica arriscada para o Brasil, o que comprometeria a autonomia do país em casos de embargos futuros. Segundo ele, “todas essas coisas geram, na minha opinião, uma dependência perigosa de um país que, nessas circunstâncias, pode, a qualquer momento, mesmo que o equipamento seja montado no Brasil, não dar suporte, não liberar código fonte”.

    O impasse no governo

    O debate sobre a aquisição dos blindados tem gerado um impasse dentro do governo, colocando o Ministério da Defesa e Amorim em lados opostos. Enquanto o ministro da Defesa, José Múcio, é a favor da assinatura do contrato com a Elbit Systems, Amorim tenta convencer o presidente Lula (PT) a reavaliar a questão, principalmente pelo genocídio promovido por Israel e pelas implicações morais e políticas que isso traz.

    Embora Amorim negue qualquer atrito direto com Múcio, admite que há divergências de opinião sobre o caso. Ele defende que o Brasil deve considerar a situação crítica em Gaza e as acusações internacionais de genocídio contra Israel antes de fechar o acordo. “Eu não compraria material de país em guerra, qualquer um, é um risco”, reforçou Amorim.

    Alternativas e o impacto industrial

    O ministro da Defesa, por outro lado, vê na compra uma oportunidade de fortalecer a indústria nacional de defesa, já que a montagem dos blindados poderia ocorrer nas subsidiárias brasileiras da Elbit, localizadas em Porto Alegre (AEL Sistemas) e Duque de Caxias (ARES Aeroespacial). Segundo Múcio, isso estimularia a produção local, gerando empregos e inovação no setor bélico.

    Em busca de uma solução para o impasse, o Ministério da Defesa chegou a consultar o TCU sobre a possibilidade de declarar vencedora a empresa eslovaca Konstrukta, que ficou em segundo lugar no processo licitatório. A proposta eslovaca, contudo, também levanta preocupações, já que os blindados oferecidos pela Konstrukta são utilizados atualmente pela Ucrânia na guerra contra a Rússia, o que poderia gerar novos dilemas políticos e estratégicos.

    O presidente Lula ainda não tomou uma decisão final sobre a compra, mas a influência de Amorim no governo é significativa. Pessoas próximas ao presidente sugerem que um desfecho para o impasse só será possível com um cessar-fogo no Oriente Médio, o que daria a Lula mais margem de manobra política para evitar maiores repercussões internacionais. Enquanto isso, a Elbit Systems, por meio de suas subsidiárias no Brasil, aguarda a decisão final do governo e reafirma seu compromisso com a negociação.

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