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    Esquerda está perdendo a guerra cultural para a extrema-direita, avalia Guilherme Boulos

    Deputado do PSOL alerta para avanço global de narrativas que atraem trabalhadores precarizados e pequenos empreendedores

    Guilherme Boulos (Foto: Mário Agra / Câmara dos Deputados)

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    247 – O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) afirmou, em entrevista ao portal Metrópoles, que a extrema-direita tem vencido a "guerra cultural" no Brasil e no mundo, ao promover discursos que dialogam diretamente com trabalhadores precarizados e pequenos empreendedores das periferias. Segundo Boulos, esse fenômeno representa um dos maiores desafios para a esquerda contemporânea. “Estamos falando de milhões de pessoas que vivem nas periferias e que a esquerda não conseguiu fazer uma disputa de valores adequada, de visão de mundo, para atrair esse segmento para o seu projeto”, destacou.

    A declaração foi dada quase um mês após a derrota de Boulos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, na qual enfrentou o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). O parlamentar afirmou que sua campanha foi marcada por ataques pessoais e fake news, impulsionados por uma estrutura digital robusta que, segundo ele, caracteriza o modus operandi da extrema-direita. "A máquina de mentiras do Pablo Marçal [outro candidato] teve um alcance maior que o do Bolsonaro em 2018 e 2022. Soma-se a isso o uso abusivo da máquina pública municipal e estadual, culminando no crime eleitoral do Tarcísio [de Freitas] no dia da eleição", criticou, referindo-se ao apoio do governador paulista ao prefeito reeleito.

    A disputa cultural e as estratégias da direita

    Boulos apontou que a extrema-direita tem se consolidado globalmente ao capturar a indignação popular com um discurso de meritocracia e antipolítica, reforçado por plataformas digitais. "A ideia de que o Estado é o problema, de que cada um deve lutar por si, é apresentada como libertária e antissistêmica, mas é a mais sistêmica possível", explicou. Ele comparou esse cenário ao avanço do fascismo após a crise de 1929, alertando para os perigos de discursos que culpam minorias ou adversários políticos pelos problemas econômicos e sociais.

    O parlamentar destacou que, enquanto a direita mobiliza influenciadores e redes sociais para ganhar espaço, a esquerda ainda carece de estratégias eficientes para competir nesse campo. Apesar disso, mencionou iniciativas progressistas como a mobilização contra a jornada de trabalho 6×1, que resultou em uma petição com mais de 3 milhões de assinaturas e pressionou o Congresso. "Isso mostra que pautas históricas da esquerda podem ganhar força quando adaptadas às ferramentas digitais atuais", disse.

    Supersalários e responsabilização pelo 8 de janeiro

    Além de analisar o contexto eleitoral e cultural, Boulos defendeu medidas para enfrentar desigualdades no setor público, como o fim dos supersalários no funcionalismo. Segundo ele, "penduricalhos" concedidos a uma elite restrita, sobretudo no Judiciário e entre militares, representam um custo anual de R$ 5 bilhões aos cofres públicos. “É sério que quem recebe R$ 44 mil por mês precisa de auxílio-moradia ou plano de saúde?”, questionou.

    Boulos também se posicionou contra a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, destacando a necessidade de punições rigorosas. "Fazer esse acerto de contas não é vingança política, é um elemento civilizatório. É essencial mostrar que quem ultrapassar a linha vermelha do golpe contra a democracia será punido", afirmou.

    Ao refletir sobre sua campanha e as perspectivas da esquerda, Boulos ressaltou que a derrota nas urnas deve servir como aprendizado. “O crescimento da extrema-direita é um fenômeno mundial, mas há espaço para a esquerda se renovar e mobilizar os trabalhadores em torno de pautas históricas e populares. Precisamos disputar valores de forma mais eficaz para não perdermos mais terreno nessa guerra cultural”, concluiu.

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