"Estou na luta por vocês", disse Wassef em mensagem a Flávio Bolsonaro no dia em que recomprou relógio de US$ 49 mil nos EUA
Segundo a PF, contatos entre o advogado e o clã Bolsonaro mostram "a ação coordenada" dos investigados na operação de recompra das joias vendidas ilegalmente
247 - Indiciado pela Polícia Federal (PF) no inquérito que investiga o roubo de joias do acervo presidencial, Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro (PL), trocou mensagens com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no mesmo dia em que efetuou a recompra de um relógio Rolex avaliado em US$ 49 mil em uma loja nos Estados Unidos. “Saudades”, escreveu o parlamentar. “Estou na luta por vocês com lealdade e empenho de sempre”, respondeu o advogado, diz o jornal O Globo, citando um trecho do relatório da Polícia Federal que resultou no indiciamento de Wassef, Bolsonaro e outras pessoas pelo escândalo.
No mesmo dia, o tenente-coronel Mauro Cesar Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, enviou um e-mail para a loja informando o horário em que Wassef estaria no local. “Na mesma data, Wassef ligou para Bolsonaro, o que, segundo a PF, evidencia ‘a ação coordenada e ciência de todos os atos pelos investigados’. A polícia destacou que o advogado ‘fez uma chamada de vídeo para o ex-presidente Jair Bolsonaro logo após ele falar sobre a entrega do relógio Rolex ao tenente-coronel Mauro Cid’”, destaca a reportagem.
Ao recomprar o relógio, Wassef justificou, por meio de um formulário, que estava comprando o item de alto valor em dinheiro vivo para evitar a incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). “Eu pago em dinheiro porque se eu usar outra forma, como, por exemplo, cartão de crédito, o governo brasileiro cobra caro [tradução literal]”, escreveu Wassef no formulário obrigatório quando são feitos pagamentos em espécie superiores a US$ 10 mil.
A investigação da PF revela que Wassef viajou aos EUA para recomprar o relógio, que fazia parte do chamado "kit ouro branco”. A recompra do relógio era necessária para que o kit fosse devolvido integralmente ao governo brasileiro após exigência do Tribunal de Contas da União (TCU).
Em depoimento à PF em agosto do ano passado, Wassef afirmou que usou recursos próprios para comprar o relógio e reiterou o uso de dinheiro em espécie para evitar o pagamento de IOF de aproximadamente 6,5% e para obter um desconto de quase US$ 9 mil. A justificativa é considerada “pouco verossímil” pela PF, uma vez que o advogado possuía uma conta bancária no Banco Citibank, em Miami, com saldo de US$ 536,4 mil na época.
“Diante disso, a forma mais simples, fácil e segura de realizar o pagamento pela compra do relógio Rolex seria uma simples transferência bancária para a conta da loja”, pontuou a polícia no relatório. Em sua defesa, Wassef afirmou que foi aos Estados Unidos em março do ano passado "a passeio e a negócios".
Em nota, Wassef disse ter ficado nos Estados Unidos por “quase um mês” e que se reuniu "com diferentes clientes, entre eles, Jair Bolsonaro. No período, também visitei locais turísticos em Nova York, Orlando e Miami, como mostram fotos e vídeos registrados por mim e que estão em posse da Polícia Federal. Sobre as videochamadas que a PF alega ter em meu celular com Jair Bolsonaro, é normal, visto que sou advogado dele e sempre falamos com frequência. Estão distorcendo as informações e tirando do contexto para me prejudicar".
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