Marinha deve apagar o vídeo e pedir desculpas, diz Amoêdo
Exposição institucional da Marinha gera críticas ao abordar privilégios militares em meio a ajustes fiscais propostos pelo governo
247 – Neste domingo (1º), a Marinha do Brasil divulgou um vídeo institucional que vem gerando grande repercussão nas redes sociais. A peça publicitária, com duração de 1 minuto e 16 segundos, foi apresentada durante a substituição do Pavilhão Nacional na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e permanece disponível nos canais oficiais da Força. O vídeo aborda as peculiaridades da carreira militar, confrontando críticas sobre "privilégios" atribuídos aos integrantes das Forças Armadas.
João Amoêdo, fundador do partido Novo, utilizou sua conta no Twitter para criticar duramente a produção. "Esse vídeo da Marinha para pressionar o governo contra cortes de privilégios e valorizar a instituição tem para mim o efeito contrário. Deveriam exclui-lo o quanto antes e pedir desculpas aos brasileiros que trabalham muito para pagar todas as contas públicas, inclusive da realização desse vídeo", escreveu Amoêdo, ecoando a insatisfação de parte da sociedade com os benefícios concedidos aos militares.
Vídeo institucional e o contexto fiscal
No material, imagens de militares em condições adversas, como operações em alto-mar e missões extremas, são alternadas com cenas de civis em situações de lazer, como festas e viagens. Um dos momentos mais emblemáticos do vídeo mostra um jovem militar questionando: "Privilégios? Vem pra Marinha". A peça busca justificar as peculiaridades da carreira militar, apresentando-a como incompatível com as condições de trabalho de civis.
A divulgação ocorre em um momento estratégico, quando o governo do presidente Lula avança com propostas de ajustes no sistema previdenciário militar. Entre as mudanças anunciadas, está a introdução de uma idade mínima de 55 anos para a aposentadoria e a aplicação de um "pedágio" de 9% sobre o período restante para atingir o tempo de serviço exigido. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as alterações visam promover mais equidade entre os setores previdenciários. "São mudanças justas e necessárias", declarou Haddad em recente pronunciamento.
Atualmente, a regra previdenciária para os militares exige apenas 35 anos de serviço, sem estipular uma idade mínima, o que contrasta com as reformas implementadas em outros setores nos últimos anos.
Reação ao material divulgado
O vídeo institucional, que antecede as celebrações do Dia do Marinheiro em 13 de dezembro, também foi interpretado como um sinal de resistência das Forças Armadas às mudanças propostas. Ao exaltar os sacrifícios inerentes à carreira militar, a Marinha parece buscar reforçar sua identidade e valores perante o público e as autoridades governamentais. Contudo, a estratégia atraiu críticas, como as de Amoêdo, que acusam a iniciativa de ignorar os esforços da sociedade em financiar os benefícios concedidos aos militares.
A narrativa estabelecida pela Marinha abre espaço para um debate mais amplo sobre a relação entre as Forças Armadas, a sociedade e o Estado. Com as reformas ainda por serem discutidas no Congresso, o tema promete ocupar um espaço central nas próximas semanas, dividindo opiniões entre os que defendem a valorização da carreira militar e aqueles que cobram maior isonomia no tratamento previdenciário.
A mensagem veiculada pela Marinha, embora destinada a enaltecer a carreira, acabou por intensificar o debate sobre privilégios e sacrifícios em um momento de ajustes fiscais e reorganização do Estado.
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