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    'O domínio do neoliberalismo patrocina o crescente descrédito democrático do sistema eleitoral', diz Marcio Pochmann

    'No país dependente de big tech estrangeira, a porteira fica escancarada para o fortalecimento dos novos coronéis da Era Digital', diz o presidente do IBGE

    Marcio Pochmann (Foto: Pedro França/Agência Senado)

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    Por Marcio Pochmann, no X - A experiência do liberalismo no Brasil, marcado pela estrutura econômica primária-exportadora e assentado na quase absoluta população analfabeta, foi muito bem descrita por Victor N. Leal em 1949 no clássico livro: Coronelismo, enxada e voto.

    Mesmo com reformas eleitorais realizadas, a política sob a prevalência liberal permaneceu praticamente intacta, com fakes news e fraudes predominando, próprias da subordinação da esfera pública aos altos interesses privados.

    No contexto daquela época, os eleitores exerciam, por sua dependência generalizada aos coronéis que lideravam a estrutura produtiva primário-exportadora, a fidelidade e ação subserviente materializada pelo denominado voto de cabresto.

    Entre as décadas de 1930 e 1980, a ascensão da sociedade urbana e industrial se distanciou do liberalismo da República Velha (1889-1930), abrindo caminho para a instalação do regime político democrático, salvo nos períodos autoritários (Estado Novo, 1937-1945 e Ditadura Civil-Militar, 1964-1985).

    O avanço da alfabetização e a estruturação das instituições de representação de interesses próprios da Era Indústrial (sindicatos, partidos e associações de classe), fortaleceram o voto soberano e menos dependente da antiga fidelidade e subserviente vontade do coronelismo liberal-agrarista.

    Na atual passagem para a Era Digital, o já longevo domínio do neoliberalismo no Brasil patrocina o crescente descrédito democrático do sistema eleitoral. O avanço da conectividade pela internet transcorre em plena população com imenso iletramento digital, submetida à crescente proliferação de fake news e fraudes de toda a espécie.

    No país sem soberania de dados e dependente de big tech estrangeira, a porteira segue escancarada para o fortalecimento dos novos coronéis da Era Digital, com o sistema político transformado em youtubers em permanente busca de likes.

    Assim, a necessária profundidade dos debates sobre a realidade nacional e as alternativas de superação dos seus problemas cede lugar à superficialidade cada vez mais rebaixada pela ignorância do próprio iletramento digital.

    Não causa estranheza saber o quanto da esfera pública se submete aos altos interesses privatistas, com enorme parcela do orçamento governamental comprometido tanto com o rentismo como a especialização regressiva da estrutura produtiva.

    Aos eleitores, constituídos por multidões de sobrantes sem destino, conferem desconfiança à retórica política desprovida de prática, enquanto o novo coronelismo se estrutura no lastro do iletramento digital.

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