“Alta da Selic trava o país e agrava o problema fiscal", alerta Alckmin
Vice-presidente critica política monetária e destaca a urgência de estimular a indústria
247 – Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, fez duras críticas à atual política monetária do país, ressaltando que a alta constante da Selic compromete o crescimento econômico e prejudica as contas públicas. “Não tem nada pior para a questão fiscal do que esse aumento contínuo da Selic. Cada 1% a mais na taxa representa R$ 48 bilhões por ano em pagamento de juros. Isso é insustentável e precisa mudar”, disse Alckmin, que também destacou a importância de investimentos em setores produtivos para reverter esse cenário.
A entrevista foi concedida após o anúncio de mais uma etapa do programa Brasil Mais Produtivo, que busca acelerar a digitalização de micro, pequenas e médias empresas, com um investimento de R$ 2 bilhões. Alckmin ressaltou que a combinação de juros altos com um cenário de crescimento ainda incerto coloca a economia em risco, mas manteve o otimismo quanto ao cumprimento das metas fiscais do governo. “Estamos confiantes de que o arcabouço fiscal será cumprido. A economia está crescendo e, com ela, a arrecadação. Mas o impacto da Selic na dívida pública é muito preocupante”, frisou.
Crítica contundente à Selic e seus efeitos nocivos
Durante a entrevista, Alckmin reiterou que o verdadeiro problema fiscal do país não está nos gastos, mas na manutenção de uma taxa de juros elevada por tanto tempo. “O pior não é só o aumento da Selic, mas a insistência em mantê-la em um patamar tão alto. Isso trava investimentos, dificulta o crédito e cria um ambiente de incerteza. O Brasil tem a terceira maior taxa real de juros do mundo. Não faz sentido, especialmente quando temos quase US$ 360 bilhões em reservas e uma balança comercial superavitária”, criticou o vice-presidente.
Ele ainda sublinhou o impacto da Selic sobre o setor produtivo, afirmando que as empresas ficam desestimuladas a investir em inovação e expansão diante de um cenário de crédito caro. “Quem precisa de crédito fica refém de taxas absurdas, e quem tem dinheiro para investir também acaba não investindo. Isso afeta diretamente a nossa capacidade de crescimento”, afirmou.
Indústria e digitalização: pilares para o futuro
Além das críticas à política monetária, Alckmin detalhou os planos para a indústria nacional, especialmente com o lançamento da nova fase do Brasil Mais Produtivo. O programa visa aumentar em 25% a digitalização de pequenas e médias empresas até 2026 e, a longo prazo, atingir 50% até 2032. “Estamos investindo R$ 2 bilhões com o apoio de entidades como o Sebrae, Senai e BNDES. A ideia é modernizar a indústria, reduzir custos e aumentar a competitividade, para que o Brasil possa competir de igual para igual no mercado internacional”, explicou.
Alckmin reconheceu o desafio de recuperar o protagonismo da indústria no PIB nacional, mas se mostrou confiante na retomada do setor. “A desindustrialização foi precoce e grande nas últimas décadas. Precisamos reverter isso, e já estamos vendo sinais de recuperação. No segundo trimestre, a indústria cresceu 1,8%, acima das expectativas. Com as medidas da Nova Indústria Brasil, teremos uma indústria mais verde, sustentável e inovadora”, projetou.
Reforma tributária e questões climáticas
Outro tema abordado na entrevista foi a reforma tributária, em tramitação no Congresso. Alckmin defendeu a simplificação do sistema e a redução de exceções para tornar o imposto sobre valor agregado (IVA) mais baixo e competitivo. “Quanto menos exceções, melhor. Precisamos de um IVA justo, que não penalize a indústria. Uma exceção que faz falta é a tributação seletiva de armas, algo que aumentaria a média do IVA, o que não é desejável. Mas acredito que a reforma será positiva e começará a trazer resultados em 2026”, afirmou.
O vice-presidente também falou sobre o impacto das mudanças climáticas na economia, especialmente na produção energética. Apesar das preocupações com a estiagem prolongada, ele afastou o risco de apagão. “O Brasil é um dos protagonistas dos debates globais sobre clima e energia. Não acredito que teremos problemas de fornecimento, mas precisamos estar atentos à elevação dos custos. Uma medida que poderia ajudar a mitigar isso seria a volta do horário de verão, que poderia economizar energia e evitar o uso de termelétricas, que são mais caras”, sugeriu.
Confiança nas metas fiscais, mas alerta sobre os juros
Apesar das críticas, Alckmin se mostrou otimista quanto ao cumprimento das metas fiscais do governo. Ele garantiu que o recente descontingenciamento de R$ 1,7 bilhão do orçamento não compromete o equilíbrio fiscal e que a arrecadação continuará crescendo à medida que a economia se expande. “O arcabouço fiscal será cumprido, disso não tenho dúvida. O que não podemos aceitar é essa política monetária que sufoca a economia. Precisamos de juros mais baixos para liberar o crédito, estimular o investimento e garantir o crescimento de longo prazo”, concluiu o vice-presidente.
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