BNDES projeta expansão dos desembolsos do banco para 2% do PIB até 2028
Banco busca impulsionar crédito sem afetar política monetária, diz Nelson Barbosa
247 – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende elevar seus desembolsos dos atuais 1,1% para 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, com a meta de atingir 2% do PIB em 2028. A informação foi dada por Nelson Barbosa, diretor de planejamento e relações institucionais do banco, durante a divulgação dos resultados da instituição, segundo reporta o Valor. Barbosa garantiu que essa expansão do crédito não deve impactar a política monetária do país.
Atualmente, o nível de aprovação de crédito do BNDES é de 1,8% do PIB, e a expectativa é que ele suba para 2% em 2026, estabilizando-se nesse patamar. Barbosa explica que a diferença entre aprovações e desembolsos decorre de três fatores principais: a retomada das aprovações, sobretudo em infraestrutura; o crescimento do PIB, que altera a base de cálculo; e o impacto da política monetária sobre os financiamentos.
Impacto da TLP e demanda por crédito
Segundo Barbosa, a alta da Selic encarece a Taxa de Longo Prazo (TLP), principal referencial dos financiamentos do banco. "Às vezes a TLP fica mais baixa que a Selic, às vezes mais alta, dependendo da curva de juros. Quando a TLP está mais baixa, há um incentivo à contratação de crédito. Quando fica mais alta, como agora, o incentivo é para adiar o projeto ou buscar outras fontes", explicou.
Apesar do efeito da política monetária, a demanda por crédito continua robusta. Em 2024, as consultas ao BNDES atingiram R$ 327,7 bilhões, um aumento de 127% em relação a 2022. O crescimento mais expressivo ocorreu entre 2022 e 2023, com alta de 87,7%, enquanto em 2024 a taxa de crescimento desacelerou para 21%.
Infraestrutura lidera aprovações e desembolsos
Em 2024, o BNDES aprovou R$ 212,6 bilhões em financiamentos, com destaque para infraestrutura, que recebeu R$ 74,6 bilhões. Os setores de indústria e agropecuária também tiveram forte participação, com R$ 52,4 bilhões e R$ 52,3 bilhões, respectivamente. Pela primeira vez desde 2018, a indústria superou a agropecuária em aprovações.
Os desembolsos de 2024 seguiram uma distribuição semelhante: infraestrutura liderou com R$ 49 bilhões, seguida por agropecuária (R$ 35 bilhões), indústria (R$ 26 bilhões) e comércio e serviços (R$ 24 bilhões).
Crédito incentivado e fundos governamentais
Do total de aprovações do BNDES em 2024, 38,4% foram financiamentos com recursos incentivados e apenas 0,7% foram não reembolsáveis. O restante (60,9%) utilizou taxas de mercado. Entre os programas financiados com crédito incentivado estão o Plano Safra, Mais Inovação, Fundo Social Emergencial RS e Fundo Clima.
O Fundo Clima, em particular, tem sido alvo de críticas por supostamente mascarar despesas do governo federal fora da contabilidade do resultado primário. Barbosa rebate essa tese: "Isso não é primário e não deve ser primário porque é uma operação financeira. Está no orçamento do governo, é transparente, e o manual do FMI [Fundo Monetário Internacional] não caracteriza isso como despesa primária", afirmou. Em 2024, o BNDES aprovou R$ 10,2 bilhões em crédito pelo Fundo Clima, mas o desembolso efetivo foi de apenas R$ 1,1 bilhão.
Lucro e dividendos para a União
O BNDES encerrou 2024 com lucro líquido de R$ 26,4 bilhões, um crescimento de 20,5% em relação ao ano anterior. Seguindo as regras vigentes, a instituição poderá distribuir entre R$ 6,3 bilhões e R$ 15 bilhões em dividendos ao governo federal, além de contar com R$ 16,1 bilhões em reservas de períodos anteriores. O montante total que poderia ser repassado à União pode chegar a R$ 31,1 bilhões.
A decisão final sobre os dividendos será tomada em assembleia de acionistas. Em 2023, o banco repassou R$ 29,5 bilhões ao governo em dividendos relativos ao lucro do período e a reservas de anos anteriores.
O BNDES continua sendo um dos principais instrumentos de financiamento do desenvolvimento econômico brasileiro. A previsão de expansão dos desembolsos reforça seu papel no apoio a investimentos em infraestrutura, indústria e inovação. No entanto, o impacto da política monetária sobre o crédito e as discussões sobre a alocação de recursos seguirão no centro do debate econômico.
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