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    CCJ do Senado adia discussão da PEC 65, que dá autonomia total ao Banco Central

    O presidente da comissão, senador Davi Alcolumbre, concedeu vista coletiva após pedido do líder do governo no Senado, Jaques Wagner

    Ato em frente ao Anexo II do Senado Federal, promovido pelo SINAL contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65/2023 (Foto: ASCOM Sinal)

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    247 - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou, mais uma vez, a discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa dar ao Banco Central (BC) autonomia financeira. A decisão foi tomada na manhã desta quarta-feira (14), após o presidente da comissão, senador Davi Alcolumbre (União-AP), conceder vista coletiva ao projeto. O pedido foi feito pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que argumentou a necessidade de mais tempo para analisar o complemento de voto do relator, senador Plínio Valério (PSDB-AM), apresentado no mesmo dia.

    Jaques Wagner destacou que a análise técnica do governo ainda levanta preocupações sobre o impacto do modelo jurídico proposto para o BC, especialmente em situações em que o órgão possa registrar prejuízos. "Eu mandei [o relatório] ao governo para consulta e já recebi as primeiras manifestações. Não me resta outra opção senão pedir vista ao processo", afirmou Jaques Wagner.

    Por outro lado, o relator da PEC, senador Plínio Valério, lamentou que o governo não tenha buscado diálogo sobre o texto desde que a discordância do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi tornada pública. "No recesso ou na primeira semana, não fomos chamados para conversar. Como o X da questão era empresa pública e o governo não acenou com uma solução para esse impasse e o BC, sim, eu acatei a sugestão do BC", explicou o senador.  O relatório do senador prevê tornar o BC uma "corporação integrante do setor público financeiro que exerce atividade estatal".

    Entidades associativas que representam os servidores ativos e aposentados do Banco Central divulgaram uma nota nesta quarta-feira (14), antes da reunião da CCJ, em que criticam o relatório de Plínio Valério. O manifesto é assinado por SINAL, Sindsep-DF, ANAFE e SintBacen. Leia:

    Nota pública de SINAL, Sindsep-DF, ANAFE e SintBacen contra o relatório apresentado em 14/8/2024 pelo senador Plínio Valério

    As entidades associativas abaixo assinadas, que representam os servidores ativos e aposentados do Banco Central do Brasil, vêm à público reiterar suas críticas à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 65/2023, e repudiar, de modo especial, o último relatório apresentado pelo senador Plínio Valério.

    Na prática, a substituição da “empresa pública” pela "corporação integrante do setor financeiro" não altera substancialmente as coisas, pois mantém-se a fragilização do vínculo do BACEN com o Estado e a sociedade brasileira.

    Importante destacar que tanto o Governo, quanto alguns senadores de oposição e as entidades que assinam esta nota estavam lutando por negociações em torno de um projeto para resolver os problemas orçamentários do BC por meio de legislação infra constitucional, mantendo o regime de autarquia e os servidores no RJU, na busca de consenso. Porém, o senador Plínio Valério, desconsiderando as tratativas pela busca de um acordo, agiu de forma unilateral e protocolou um texto de sua própria autoria.

    Essa mudança semântica enfraquece o papel do Estado na gestão da política monetária e cambial e na supervisão do sistema financeiro. A nova corporação, assim como a empresa pública, pode acentuar o risco de captura da autoridade monetária e supervisora pelo mercado.

    Ademais, a fragilização do vínculo com o Estado brasileiro acentua o distanciamento da sociedade civil em relação à tomada de decisões sobre a política monetária e sobre a regulação do mercado.

    A ausência de uma governança transparente e de mecanismos de accountability pode resultar na alienação dos cidadãos em relação às decisões que afetam suas vidas. Quando a prestação de serviços essenciais passa a ser gerida por corporações em vez de entidades públicas, a responsabilidade social e o compromisso com a equidade podem ser relegados a um segundo plano, perpetuando desigualdades e prejudicando os segmentos mais vulneráveis da população.

    Por fim, essa nova configuração proposta pela PEC 65/2023 também abre espaço para a privatização de funções que historicamente foram de responsabilidade do Estado, colocando em risco a soberania nacional sobre setores estratégicos.

    Portanto, a adoção da PEC 65/2023, na forma como se apresenta coloca em risco a integridade das instituições que devem assegurar a estabilidade econômica e o desenvolvimento equitativo. A sociedade brasileira precisa estar atenta a esses movimentos que, sob o pretexto de modernização e eficiência, podem perpetuar desigualdades e enfraquecer a capacidade do Estado de atuar em favor do interesse público.

    Por fim, se o novo relatório apresentado pelo senador Plínio Valério for aprovado hoje de forma açodada, atropelando os debates necessários para o assunto, o SINAL, o Sindsep-DF, a ANAFE e o SintBacen já sinalizam com uma possível RADICALIZAÇÃO na luta contra a PEC 65/2023 a partir de amanhã.

    SINAL, Sindsep-DF, ANAFE e SintBacen

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