TV 247 logo
      HOME > Economia

      Estados Unidos caminham para a estagflação

      Nova política tarifária de Trump eleva risco de recessão com inflação, fragmenta o comércio global e viola regras da OMC

      Presidente dos EUA, Donald Trump - 31/01/2025 (Foto: REUTERS/Carlos Barria)
      Redação Brasil 247 avatar
      Conteúdo postado por:

      247 – A nova política tarifária anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (2), reacendeu alertas entre economistas e líderes globais. Segundo apuração do China Daily, a medida estabelece um sistema dual de tarifas, com uma taxa mínima de 10% para todos os parceiros comerciais e sobretaxas que variam entre 20% e 49% para países com superávit elevado em relação aos EUA, como China, União Europeia, Japão, Coreia do Sul, Índia, Vietnã e Tailândia.

      Para especialistas ouvidos pela publicação, como David Seif e Aichi Amemiya, economistas da Nomura, as consequências imediatas para a economia norte-americana tendem a ser estagflação — a combinação perversa de inflação elevada com baixo crescimento. “O impacto imediato será estagfacionário: preços mais altos com crescimento mais lento”, alertaram. As projeções para o núcleo do índice de gastos com consumo pessoal (PCE), principal indicador inflacionário monitorado pelo Fed, subiram para 4,7% até o final do ano, contra 3,5% anteriores. Ao mesmo tempo, a expectativa de crescimento do PIB no quarto trimestre foi revisada de 1,5% para apenas 0,6%.

      O mercado de trabalho também deve sentir os efeitos. A previsão para a criação de empregos (NFP) caiu para 90 mil novas vagas por mês, indicando desaquecimento. O cenário pressiona o Federal Reserve a repensar sua estratégia monetária. Antes, o banco central previa manter os juros altos até meados de 2026, mas agora já se fala em um corte inaugural em dezembro de 2025, com mais dois cortes no início de 2026.

      Apesar da agressividade do anúncio, analistas acreditam que a política pode não ser totalmente implementada. “Há espaço para ceticismo”, avaliam os economistas, lembrando que Trump tem um histórico de usar tarifas como instrumento de barganha. Exceções já foram sinalizadas para setores estratégicos como automóveis, energia e aço, além de países como Canadá e México.

      A maior tarifa desde 1910

      Lyu Yue, reitora da Academia de Inovação Global e Governança da Universidade de Economia e Negócios Internacionais, classificou a medida como “uma bomba nuclear tarifária”. Se levada a cabo, ela elevaria a tarifa média dos EUA de 2,4% para 25,1% — o maior nível desde 1910.

      Para Lyu, as tarifas “desrespeitam os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC) e subvertem a lógica do comércio global”. Ela destaca que o princípio da nação mais favorecida, pilar da OMC, proíbe o tratamento discriminatório entre parceiros comerciais — exatamente o que a política de tarifas recíprocas viola.

      Além disso, a decisão afeta diretamente as cadeias produtivas globais, especialmente em setores altamente integrados como o automobilístico, eletroeletrônicos e máquinas. A reorganização das cadeias pode gerar aumento de até 40% nos custos de produção e gerar perdas econômicas generalizadas. A previsão é que as importações dos EUA recuem 8,76% nos próximos cinco anos, com queda de 2,33% nas exportações globais.

      Impacto desproporcional nos países em desenvolvimento

      O novo sistema tarifário pode agravar desigualdades regionais e prejudicar economias dependentes das exportações, como Índia e Vietnã. Países africanos, que perderão tratamento especial, também devem ver suas perspectivas de desenvolvimento reduzidas.

      Estudos da Universidade de Yale estimam que os custos para o consumidor norte-americano aumentarão entre US$ 3.400 e US$ 4.200 por ano, mesmo sem medidas de retaliação de outros países. Em caso de resposta, o impacto pode ser ainda maior.

      “A mentalidade de soma zero por trás das tarifas recíprocas de Trump pode ter ganhos políticos no curto prazo, mas trará danos econômicos profundos e duradouros, inclusive para os próprios Estados Unidos”, alerta Lyu.

      Num momento em que a economia global ainda se recupera de choques recentes, como a pandemia e as tensões geopolíticas, a iniciativa representa uma guinada protecionista que ameaça a estabilidade do sistema internacional de comércio.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Relacionados