TV 247 logo
    HOME > Economia

    Governo Lula vê risco de guerra comercial 'ampla e linear' dos EUA contra o Brasil

    Crescem os rumores de que Trump irá além das tarifas sobre etanol, aço e alumínio

    Lula e Donald Trump (Foto: Ricardo Stuckert/PR | REUTERS/Brendan McDermid)
    Guilherme Levorato avatar
    Conteúdo postado por:

    247 - O governo brasileiro acompanha com crescente apreensão os sinais vindos de Washington sobre a nova política comercial do presidente Donald Trump. De acordo com reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, autoridades do Palácio do Planalto consideram real o risco de um tarifaço abrangente e linear contra produtos brasileiros, que pode ser anunciado já em 2 de abril como parte de uma estratégia de tarifas recíprocas prometida por Trump.

    A equipe do presidente Lula (PT) teme que o Brasil acabe atingido por um pacote tarifário mais amplo do que o inicialmente previsto. A preocupação vai além das taxas sobre aço e alumínio, que já foram implementadas em 12 de março, e da ameaça sobre o etanol. Está no radar do governo brasileiro a possibilidade de um ataque tarifário generalizado sobre praticamente toda a pauta exportadora do Brasil para os Estados Unidos — em um movimento considerado extremo e sem precedentes.

    Trump e seus assessores indicam que o plano é estabelecer uma política comercial mais agressiva baseada em critérios de reciprocidade, o que, segundo análise do governo dos EUA, colocaria o Brasil em posição vulnerável. Em entrevista recente à Fox Business, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que cada país será avaliado com base em tarifas, barreiras não tarifárias, manipulação cambial, subsídios e direitos trabalhistas.

    “No dia 2 de abril, nós vamos produzir uma lista das tarifas dos outros países e vamos dizer a eles: aqui está o que achamos sobre as suas tarifas, [sobre] barreiras não tarifárias, manipulação de câmbio, subsídios injustos e supressão de direitos trabalhistas. Se vocês pararem com isso, nós não vamos erguer a muralha tarifária. Caso contrário, vamos erguer a muralha tarifária para proteger nossa economia, nossos trabalhadores e nossa indústria”, declarou Bessent. “Cada país vai receber um número que, acreditamos, representa as suas tarifas. Então, para alguns países, poderia ser [uma tarifa] baixa. Para alguns, poderia ser bastante alta”, completou.

    Apesar dos contatos bilaterais mantidos entre o Itamaraty e representantes norte-americanos, os sinais vindos da Casa Branca permanecem vagos e preocupantes. O etanol foi um dos temas centrais nas conversas diplomáticas — os EUA reclamam da tarifa brasileira de 18% sobre o produto, enquanto praticam uma alíquota de 2,5% para o combustível brasileiro. No entanto, fontes diplomáticas relatam que os norte-americanos evitam detalhar a extensão real das medidas em elaboração.

    A imprensa americana, incluindo o Wall Street Journal, revelou que a administração Trump chegou a considerar a divisão dos países parceiros dos EUA em três faixas tarifárias, conforme o nível de protecionismo de cada um. Contudo, segundo o jornal, essa ideia foi abandonada em favor de uma abordagem caso a caso, em que cada país teria um “número” atribuído conforme suas barreiras comerciais, o que pode servir de base para aplicação de tarifas.

    Para o governo Lula, o que está em jogo é o impacto potencial sobre um fluxo comercial de grande relevância. Dados da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) apontam que, em 2024, as exportações industriais brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 31,6 bilhões. O mercado norte-americano é o principal destino de produtos industriais do Brasil, com destaque para aeronaves e partes, além de maquinário, motores, químicos e itens metalúrgicos.

    Dos dez principais produtos brasileiros vendidos aos EUA, oito pertencem à indústria de transformação — o que amplifica o temor de que uma política comercial mais dura afete diretamente a base da economia exportadora nacional.

    Outro fator de tensão são as recentes investigações comerciais abertas por Trump, que podem culminar em novas tarifas sobre produtos como cobre e madeira, ambos relevantes na pauta exportadora brasileira.

    O último relatório do USTR (Representante de Comércio dos EUA), ainda sob o governo Joe Biden, já apontava que o Brasil impõe tarifas “relativamente altas” sobre uma gama extensa de setores, com média de 11,1%. Esse histórico contribui para a percepção de que o Brasil pode ser enquadrado como parceiro comercial “protegido demais” e, por isso, sujeito a retaliações em nome da reciprocidade.

    Diante da opacidade das informações e da postura combativa da equipe de Trump, o governo brasileiro trabalha com múltiplos cenários, todos considerados incertos e com potencial alto de impacto. Autoridades consultadas admitem que a estratégia norte-americana pode empurrar o Brasil para o centro de uma nova guerra comercial — e que a resposta brasileira dependerá da amplitude das medidas a serem reveladas nas próximas semanas.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados