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    Haddad sinaliza que Lula fará o ajuste fiscal pelo lado da despesa

    Em entrevista a Mônica Bergamo, ministro afirma que 'batata quente' dos gastos está sendo avaliada pelo presidente

    Fernando Haddad (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil )

    247 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que o presidente Lula está focado em enfrentar o desafio dos gastos públicos, destacando a necessidade de ajustes para garantir a sustentabilidade fiscal do país. Segundo Haddad, com o Congresso em ritmo mais lento devido às eleições municipais, ele tem tido mais tempo para discutir com Lula a dinâmica das despesas governamentais e seu impacto crescente na dívida pública.

    Haddad frisou que é imperativo "endereçar essa questão" para que se perceba que as medidas econômicas tomadas pelo governo funcionarão a longo prazo. Embora Lula já tenha adotado providências no curto prazo, o ministro argumenta que será preciso enfrentar os gastos estruturais que podem comprometer as contas no futuro, destacando que a dívida pública só cresce e isso não pode ser ignorado.

    Ele ressaltou que o presidente está ciente da situação e atento às possíveis soluções. Haddad acredita que o ajuste fiscal pode ser feito sem que o Brasil siga o exemplo da Argentina, onde um ajuste rigoroso provocou uma disparada na taxa de pobreza.

    Crescimento das receitas e o desafio da despesa - Ao abordar o problema do aumento da dívida pública, Haddad lembrou que, desde que assumiu, as receitas do governo cresceram, mas os gastos estruturais também aumentaram. Segundo ele, a deterioração fiscal começou em 2015 e piorou até 2023, quando assumiu um orçamento com receita prevista em apenas 17% do PIB, o pior da série histórica, enquanto as despesas eram de 19,5%.

    Haddad destacou que o governo estabeleceu um teto para o crescimento das despesas, que não pode exceder 70% da receita, com um limite de 2,5%. Essa medida, segundo o ministro, ajudou a reduzir o déficit para cerca de 1% do PIB, excetuando-se despesas extraordinárias com queimadas e enchentes no Rio Grande do Sul.

    Entretanto, o ministro alertou que o maior desafio é convencer a opinião pública e o Congresso a aprovar medidas de ajuste. "Cortar é fácil, qualquer economista pode apresentar uma planilha", afirmou Haddad, enfatizando que é preciso construir politicamente essas decisões.

    Apreensão com a dívida pública e a visão do mercado - Embora as receitas tenham melhorado, Haddad reconheceu que a Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, está preocupada com a dinâmica dos gastos e seu impacto na dívida pública. Ele ressaltou que, se o governo não endereçar adequadamente esses temas, os juros da dívida pública, que hoje estão em torno de 7% — o dobro do crescimento do PIB —, podem se tornar insustentáveis.

    O ministro frisou que é crucial harmonizar as políticas monetária e fiscal para evitar um ciclo vicioso que prejudicaria ainda mais a economia. Ele afirmou que as receitas devem voltar ao patamar de 19% do PIB, mas que as despesas precisam ser menores do que isso para gerar superávit.

    Conversas com Lula sobre os ajustes necessários - Haddad revelou que tem discutido diretamente com o presidente Lula sobre a necessidade de limitar os gastos, alertando que o arcabouço fiscal aprovado pelo governo não funcionará se as despesas continuarem a crescer. Ele relembrou o histórico de Lula como o presidente que mais reduziu a dívida pública em seus primeiros mandatos, mas destacou que a situação herdada do governo Bolsonaro é bem mais grave do que a de 2002.

    Apesar de Lula ser cauteloso em relação a cortes que afetem os mais pobres, Haddad acredita que há questões estruturais que precisam ser enfrentadas. "O senhor colocou o pobre no orçamento, ninguém está pedindo para tirar", teria dito Haddad a Lula, mas ele ressalta que distorções criadas em governos anteriores, como a ampliação de programas sem financiamento adequado, precisam ser corrigidas.

    Ajustes fiscais e o cenário eleitoral - Haddad também destacou que o governo está ciente de que o mercado financeiro e investidores estão atentos à trajetória da dívida e que as decisões precisam ser tomadas antes das próximas eleições, em 2026. "O mercado não está pensando em governo, está pensando na rentabilidade dos seus ativos", afirmou.

    Ele disse ainda que a reforma tributária foi um grande avanço, mas que a próxima etapa deve focar na reestruturação das despesas, o que considera a questão mais urgente a ser resolvida. Para Haddad, é possível enfrentar esse desafio de forma inteligente, sem prejudicar o crescimento econômico. "O que mais protege os mais pobres é crescimento com baixa inflação", afirmou o ministro, enfatizando que o ajuste precisa ser feito com responsabilidade política, econômica e social.

    Planos para o futuro - Haddad indicou que o governo já eliminou isenções fiscais injustificadas e que a reforma da renda será o próximo passo, mas o modelo ainda está sendo discutido com Lula. "Não posso antecipar decisões", ressaltou. No entanto, o ministro deixou claro que as soluções para a dívida pública estão no centro das preocupações do governo e que ajustes nas despesas são inevitáveis para garantir a sustentabilidade fiscal do país.

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