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      Japão pode ter vendido em peso títulos estadunidenses para forçar Trump a recuar

      Governo japonês é pressionado por rumores de que venda em massa teria influenciado presidente dos EUA a suspender tarifas

      Wall Street, rua onde fica a Bolsa de Valores de Nova York (EUA) (Foto: Brendan McDermid / Reuters)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O Japão negou oficialmente qualquer intenção de usar seus vastos títulos da dívida pública dos Estados Unidos como instrumento de pressão nas negociações comerciais com Washington. No entanto, rumores persistentes sobre uma venda maciça desses papéis alimentaram especulações de que a decisão do presidente Donald Trump de suspender tarifas impostas ao Japão tenha sido, na verdade, uma reação direta ao nervosismo dos mercados. A informação foi originalmente publicada pelo site Guancha, com base em reportagens do Nikkei Asia e da Reuters.

      Itsunori Onodera, presidente do conselho de pesquisa de políticas do governista Partido Liberal Democrata (PLD), afirmou em entrevista à emissora pública NHK que o país não pretende usar seus títulos como retaliação. “Como aliado, não usaremos deliberadamente nossas participações em títulos do Tesouro dos EUA. Certamente não é uma boa ideia provocar caos nos mercados”, declarou.

      Títulos vendidos e mercados em alerta

      A declaração ocorreu poucos dias depois de os mercados globais presenciarem uma venda em larga escala de títulos do Tesouro dos EUA, movimento que elevou os rendimentos desses papéis ao maior nível desde a pandemia de COVID-19. A Reuters informou que, apenas nos últimos dias, os rendimentos dos títulos de 30 anos saltaram quase 60 pontos-base, ultrapassando brevemente a marca de 5%. Os títulos de 10 anos também tiveram alta expressiva, atingindo 4,488%.

      Embora nenhuma confirmação oficial tenha sido dada, fontes do mercado e analistas apontaram para a possibilidade de que o Japão, maior credor estrangeiro da dívida pública americana, tenha iniciado as vendas. Alguns especularam que um fundo hedge japonês teria sido o responsável por iniciar o movimento, supostamente em pânico diante da instabilidade provocada pelas tarifas. Comentários de internautas japoneses chegaram a sugerir que essa ação "salvou o mundo", ao pressionar o governo Trump a recuar.

      Segundo dados do Departamento do Tesouro dos EUA, o Japão detinha, em janeiro deste ano, US$ 1,079 trilhão em títulos estadunidenses, superando a China, que possuía US$ 760,8 bilhões.

      Suspensão de tarifas e pressões sobre o câmbio

      No último dia 9, o presidente Trump surpreendeu o mercado ao anunciar a suspensão, por 90 dias, das chamadas "tarifas recíprocas" aplicadas a vários países, incluindo o Japão. Durante esse período, apenas uma tarifa-base de 10% será mantida. O secretário do Tesouro dos EUA, Bessant, alegou que a medida já estava prevista na estratégia do governo. No entanto, fontes citadas pela CNN revelaram que a forte pressão do mercado e o receio de um colapso nos títulos do Tesouro foram fatores centrais para a mudança de postura.

      Em paralelo, cresce a preocupação com o câmbio. Onodera apontou que a fraqueza do iene tem contribuído para a inflação no país. “A fraqueza do iene é um dos fatores que impulsionam os preços. Para reverter esse quadro, é necessário aumentar a competitividade das empresas japonesas”, afirmou.

      Nos bastidores, há expectativa de que os EUA cobrem do Japão intervenções no câmbio para valorizar o iene, além de questionamentos à política monetária ultraflexível do Banco do Japão. O dólar caiu recentemente para 142,89 ienes, o menor valor desde setembro de 2024.

      Negociações bilaterais e foco no Sudeste Asiático

      As negociações comerciais entre Japão e Estados Unidos estão marcadas para o próximo dia 17. O ministro japonês da Revitalização Econômica, Ryomasa Akasawa, será o encarregado das conversas com o secretário do Tesouro norte-americano. Tóquio buscará isenções às tarifas, enquanto Washington exigirá concessões nos setores agrícola e de gás natural liquefeito.

      Onodera defendeu que o Japão leve a questão tarifária à Organização Mundial do Comércio (OMC) e propôs ampliar os laços com os países da ASEAN como resposta ao protecionismo norte-americano. “Muitos países vizinhos também estão sendo atingidos por tarifas abusivas. Precisamos fortalecer a cooperação regional”, declarou.

      A movimentação japonesa, mesmo sem confirmação oficial, expôs a vulnerabilidade do mercado de títulos norte-americanos diante de tensões geopolíticas e revelou a sensibilidade do presidente Trump à reação dos investidores. Caso se confirme, a venda de papéis por parte do Japão poderá ser vista como um recado sutil — e eficaz — de que a diplomacia econômica também pode passar pelas mesas de operação do mercado financeiro.

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