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    "O capitalismo não entrega o que promete e transforma as pessoas em ressentidas", diz Belluzzo

    Professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo explica como o neoliberalismo contribui para a ascensão da extrema direita

    Luiz Gonzaga Belluzzo (Foto: Felipe Gonçalves / Brasil 247)

    247 – Em uma crítica contundente ao sistema capitalista e seus efeitos sobre a sociedade, o renomado economista Luiz Gonzaga Belluzzo apontou como o neoliberalismo, em particular, tem contribuído para o crescimento da extrema direita em várias partes do mundo. Segundo Belluzzo, o capitalismo financeiro cria uma promessa ilusória de ascensão social e vitória na concorrência, mas a realidade é que a maioria das pessoas acaba frustrada, nutrindo ressentimentos que se manifestam politicamente.

    “A configuração do capitalismo financeiro provoca nas pessoas admiração pelos valores da ascensão social, da vitória na concorrência, mas a maioria perde. O capitalismo não entrega aquilo que promete. Isso vai transformando as pessoas em ressentidas, que buscam outras soluções”, afirma Belluzzo, em entrevista ao Valor. Para o economista, esse ressentimento tem sido capitalizado por forças políticas de extrema direita, que oferecem respostas simplistas para questões complexas, alimentando o ciclo de descontentamento e polarização.

    Belluzzo também relaciona a ascensão da extrema direita ao discurso econômico dominante, que desconsidera as consequências sociais das políticas neoliberais. Ele critica a falta de espaço para outras visões econômicas na mídia e na opinião pública, o que, segundo ele, reforça a concentração de poder nos mercados financeiros e marginaliza abordagens que consideram a economia como parte da vida social.

    Galípolo no Banco Central

    Em meio a essa discussão sobre os efeitos nocivos do capitalismo, Belluzzo também comentou sobre o atual cenário econômico brasileiro e a possível indicação de Gabriel Galípolo como o novo presidente do Banco Central (BC). Galípolo, que atualmente é diretor de política monetária do órgão, é descrito por Belluzzo como uma pessoa “de muitas dimensões” e “muitas qualidades”. “Ele sabe perfeitamente que não vai escrever um livro no BC”, afirma Belluzzo, que é amigo e colaborador de Galípolo em diversas obras.

    Sobre a recente fala de Galípolo, que sugeriu que o BC não descartava uma alta dos juros, Belluzzo avalia que a atitude foi acertada. “Ele sabe que as convicções e as palavras funcionam para orientar os mercados”, diz o professor. Contudo, Belluzzo também aponta que não é o momento para uma elevação da Selic, ressaltando que Galípolo não afirmou categoricamente que era hora de aumentar a taxa, mas sim que isso não estava descartado.

    Retranca do mercado

    Belluzzo ainda comparou o governo Lula 3 a um time de futebol que quer atacar, ou seja, investir e realizar transformações, mas que enfrenta uma retranca imposta pelo mercado financeiro e seu discurso constante sobre o risco fiscal. Para ele, essa situação tem dificultado a ação do Estado e a mobilização dos investimentos necessários para o desenvolvimento do país.

    Por fim, o economista sugeriu que o Banco Central poderia adotar uma postura mais ativa no câmbio, utilizando instrumentos como o swap para se proteger das instabilidades cambiais, em vez de simplesmente vender dólar à vista e esgotar as reservas. Segundo Belluzzo, os movimentos recentes no câmbio têm mais relação com fatores externos do que com questões fiscais internas, e o BC precisa estar atento a essa dinâmica global.

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