"A democracia representativa transforma os interesses da minoria em maioria", diz Mauro Iasi
Intelectual aponta como a estrutura política aprofunda desigualdades no sistema representativo
247 – Durante o programa “Café Bolchevique” #39, disponível no canal do YouTube da TV Boitempo, o professor e intelectual Mauro Iasi analisa criticamente a democracia representativa e suas distorções. Ele expõe de maneira contundente o que considera uma "inversão" entre maioria e minoria no cenário político, onde os interesses da elite são mantidos, enquanto a vontade popular se dilui no processo eleitoral.
"A democracia representativa é um eficiente processo de inversão de maioria e minoria. O que é maioria na sociedade aparece como minoria nas casas legislativas, e o que é minoria aparece como maioria depois do sacrossanto processo eleitoral", afirma Iasi. Ele observa que, entre a votação e o exercício do poder, lobbies e interesses privados distorcem os resultados que deveriam refletir o desejo da população.
Crítica à influência do capital na política
A análise de Iasi gira em torno da manipulação das decisões políticas pelas elites econômicas, algo que ele considera intrínseco ao funcionamento da democracia representativa moderna. Segundo ele, após a eleição, grupos de pressão e grandes interesses econômicos agem de forma a influenciar as decisões legislativas. "Os lobbies formam bancadas de interesses, seja com maletas de recursos ou através do governo com a liberação de emendas", ressalta o professor. Dessa forma, segundo sua avaliação, a vontade popular acaba se perdendo no caminho entre a urna e o poder soberano.
Iasi também aponta para o caráter ilusório da democracia quando tratada de forma puramente formal, destacando que as diferenças de classe e as estruturas de poder econômico permanecem intocadas no sistema atual. Citando pensadores como Karl Marx e Rousseau, ele critica o fato de a liberdade econômica e a propriedade privada estarem no centro das sociedades capitalistas, limitando o alcance da democracia.
Estados Unidos como exemplo de distorção democrática
Em outro ponto de sua fala, Mauro Iasi se detém sobre a experiência dos Estados Unidos. Segundo ele, o sistema eleitoral norte-americano, frequentemente visto como modelo, é uma das expressões mais claras da inversão dos interesses populares. "O candidato que vence as eleições pelo voto popular nem sempre é o eleito. Isso é uma distorção estrutural", aponta, referindo-se ao sistema do Colégio Eleitoral, que pode fazer com que o voto da maioria não se traduza na escolha final do presidente.
Ainda sobre o contexto histórico, Iasi lembra que a própria formação dos Estados Unidos se deu em meio a grandes tensões entre as colônias do Norte e do Sul, com os interesses dos grandes proprietários de escravos moldando o desenho da jovem nação. "O problema real da recente nação norte-americana era o fato de haver interesses contraditórios entre as colônias", sublinha, demonstrando como a questão da escravidão e da concentração de poder econômico influenciou a configuração política do país.
A democracia além da formalidade
Para Iasi, discutir democracia implica ir além dos processos eleitorais. Ele critica a visão de que a democracia pode ser definida apenas pelas regras do jogo eleitoral, afirmando que essa abordagem superficial oculta as verdadeiras estruturas de poder. "A democracia representativa, como conhecemos, não é suficiente. Ela precisa de uma base econômica radicalmente transformada para que possa, de fato, ser democrática", conclui.
Com sua crítica incisiva, Iasi convida o público a refletir sobre o verdadeiro significado da democracia e sobre as formas de governo que permitiriam uma maior participação popular. Para ele, uma revolução que altere as bases econômicas e sociais é a única maneira de realizar o potencial da democracia, superando as limitações impostas pelas desigualdades atuais. Assista:
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