"A extrema direita quer o Senado para controlar o STF", alerta João Cezar de Castro Rocha
Pesquisador analisa ato bolsonarista em Copacabana e a estratégia de Bolsonaro para 2026
247 - No programa Boa Noite 247, o professor e pesquisador João Cezar de Castro Rocha analisou o ato promovido por Jair Bolsonaro em Copacabana, no dia 16 de março, e destacou os sinais de esgotamento da mobilização bolsonarista. Além da baixa adesão ao evento, ele chamou a atenção para a radicalização do discurso e a tática da extrema direita de tentar pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF). Para o pesquisador, há um plano claro de poder: "A extrema direita quer o Senado para controlar o Supremo. Esse é o verdadeiro projeto para 2026".
O evento, que havia sido anunciado como uma grande demonstração de força, reuniu um público muito abaixo do esperado. Bolsonaro, no entanto, seguiu com sua estratégia de ataque ao STF, reforçando sua narrativa de vitimização dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Durante o discurso, ele pediu aos seus apoiadores: "Me deem 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo os destinos do Brasil".
A derrocada da mobilização bolsonarista
Castro Rocha apontou que o fracasso da manifestação revela um enfraquecimento da capacidade de mobilização do ex-presidente. "Quem vê flop não vê reação", ironizou, referindo-se ao esvaziamento do ato. Segundo ele, a energia vista em eventos passados, como as manifestações de setembro de 2021, já não se repetiu. "A Avenida Atlântica já foi tomada por 14 ou 16 quarteirões de manifestantes. Desta vez, havia apenas dois. O número é significativo, mas o mais importante é a mudança na atmosfera: não há mais aquele fervor de ‘tudo ou nada’ pelo Bolsonaro".Para ilustrar o cenário, ele mencionou a foto capturada pelo fotojornalista Alexandre Cassiano, do jornal O Globo, que mostra uma bandeira dos Estados Unidos sobreposta à do Brasil. "Esse detalhe reforça o que eu chamo de 'patriotismo da terra alheia'. Muitos desses grupos bolsonaristas idolatram símbolos estrangeiros enquanto atacam as instituições nacionais", criticou.
O aprisionamento ideológico dos bolsonaristas
Outro tema abordado foi a recusa dos presos do 8 de janeiro em aceitar acordos da Procuradoria-Geral da República (PGR), que poderiam amenizar ou extinguir suas penas. Para Castro Rocha, isso demonstra o grau de radicalização dessas pessoas. "É impressionante imaginar que alguém abra mão do convívio com os filhos por radicalidade ideológica", afirmou. "Esses indivíduos foram moldados pelo discurso de Bolsonaro de tal forma que não conseguem enxergar a realidade. Eles negam qualquer responsabilidade do ex-presidente nos atos que cometeram e repetem um discurso robotizado", acrescentou.
Ele comparou a alienação dos bolsonaristas ao conto O Alienista, de Machado de Assis. "Bolsonaro é o Simão Bacamarte dessa tragédia política, aprisionando seus seguidores dentro de uma narrativa que os mantém mais presos do que qualquer cela física", argumentou. O pesquisador sugeriu, inclusive, que os detentos do 8 de janeiro lessem a obra para refletirem sobre sua própria condição. "Quem sabe alguns teriam a epifania de que foram usados e manipulados?".
A criação do "alexandrismo" e o ataque ao STF
Durante o ato, Flávio Bolsonaro acusou o ministro Alexandre de Moraes de ser responsável pela morte de um dos detentos do 8 de janeiro, alegando que a decisão judicial teria sido "deliberada" para impedir que ele recebesse tratamento médico. A multidão respondeu com gritos de "assassino" contra Moraes. Castro Rocha alertou para o perigo desse discurso: "A extrema direita precisa construir inimigos para manter sua base mobilizada. Agora, eles tentam transformar Moraes em símbolo de uma suposta 'ditadura da toga'".
Além disso, destacou a criação do termo "alexandrismo" para reforçar a narrativa de que há perseguição política contra Bolsonaro e seus aliados. "Essa retórica serve para justificar ações antidemocráticas e criar uma falsa necessidade de um ‘contragolpe’", analisou.
A estratégia para 2026: domínio sobre o Legislativo
Castro Rocha apontou que Bolsonaro já sinalizou seu verdadeiro objetivo para as eleições de 2026: garantir maioria no Congresso para controlar o Judiciário. "O que eles querem é subjugar o STF, como Victor Orbán fez na Hungria. Uma vez que a Suprema Corte esteja sob controle, não há mais barreiras institucionais para um governo autocrático".
Ele ressaltou que essa tática já vem sendo implementada pela extrema direita em várias instâncias do poder. "Eles avançam ocupando conselhos tutelares, o Conselho Federal de Medicina e até a OAB, que já tem sessões dominadas por bolsonaristas. Agora, o foco é o Senado, pois é lá que se define a composição do STF".
Diante desse cenário, Castro Rocha defendeu que o campo progressista não pode se concentrar apenas na disputa presidencial. "Se Lula for reeleito, mas o Senado e a Câmara forem tomados pela extrema direita, o governo ficará refém do Congresso. É fundamental eleger parlamentares comprometidos com a democracia", alertou.
O desafio: combater o caos cognitivo
Para o pesquisador, a extrema direita prospera no caos e, por isso, sua estratégia se baseia na produção constante de desinformação. "Eles criam um ambiente onde fatos objetivos deixam de importar. O bolsonarismo não sobrevive em um ambiente de normalidade, porque precisa do caos para se sustentar".
Ele reforçou que a resposta ao bolsonarismo não pode ser apenas reativa. "Temos que analisar o caos, mas sem permitir que ele monopolize nosso imaginário. Precisamos retomar a normalidade e reconstruir o compromisso com a verdade. Quando a mentira se torna a base da política, a democracia entra em risco".
Castro Rocha concluiu sua análise com um alerta: "A extrema direita perdeu força, mas segue sendo uma ameaça real. Se não enfrentarmos esse projeto de poder com estratégia e seriedade, 2026 pode ser um ponto de ruptura para a democracia brasileira". Assista:
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