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Breno Altman: "Netanyahu sabe que, se parar, perde e pode até ser preso"

Jornalista analisa os objetivos estratégicos de Israel em meio à escalada de violência no Oriente Médio

Breno Altman e Benjamin Netanyahu (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Reuters)

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247 – A escalada da violência no Oriente Médio, intensificada nos últimos dias, segue um plano estratégico claro traçado por Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. É o que afirma Breno Altman, editor do Opera Mundi, em entrevista ao programa Boa Noite 247. Segundo Altman, o governo israelense tem objetivos de curto e longo prazo, todos interligados, que justificam a agressiva postura militar adotada recentemente. "Netanyahu tem uma estratégia muito clara e implacável", ressalta Altman. “Ele sabe que, se parar, perde, e se perder, será derrubado e poderá até ser preso.”

Altman elenca três objetivos centrais da política israelense neste momento: o primeiro, de curtíssimo prazo, seria "arrebentar com as organizações palestinas na Faixa de Gaza", criando condições para que Israel possa voltar a dominar direta ou indiretamente essa região. O segundo objetivo, de curto prazo, seria retomar a ocupação do sul do Líbano, sob o pretexto de combater o Hezbollah, organização xiita que já resistiu a Israel em conflitos anteriores, como no ano de 2006. "Israel ocupava o sul do Líbano até o ano 2000", lembra Altman, ressaltando que o Hezbollah, com sua vasta força terrestre e seu arsenal de mísseis, é um adversário de respeito, embora sem capacidade ofensiva contra Israel.

No entanto, o terceiro e mais ambicioso objetivo de Netanyahu, de acordo com o entrevistado, seria derrotar o Irã, "a única força militar do Oriente Médio que rivaliza com Israel". Altman traça um panorama histórico da relação entre Israel e seus vizinhos, explicando como a ocupação do Líbano por Israel, entre 1978 e 2000, esteve sempre atrelada a alianças com forças internas, como os cristãos maronitas, além de intervenções diretas em momentos-chave, como no massacre de Sabra e Shatila em 1982.

A força de resistência do Hezbollah

Para Altman, o Hezbollah é hoje um dos maiores obstáculos a uma nova ocupação israelense no Líbano, embora o poder aéreo de Israel seja incomparável. "O Hezbollah tem uma capacidade terrestre significativa e um estoque de cerca de 150 mil mísseis, muitos deles de origem russa e iraniana", explica. Esses mísseis, apesar de sua variedade de alcance, são em grande parte ineficazes contra o sistema de defesa aérea israelense, o Domo de Ferro. Contudo, a estratégia do Hezbollah é, principalmente, defensiva, visando o desgaste econômico e militar de Israel, além de funcionar como símbolo de resistência para o povo palestino e as massas muçulmanas.

Altman salienta que, embora o Hezbollah não tenha condições de iniciar uma guerra ofensiva, sua capacidade de resistência pode criar sérios problemas caso Israel opte por uma invasão terrestre. "O poder aéreo de Israel é formidável, com caças americanos de última geração e sistemas de defesa aérea incomparáveis no mundo", diz. "Ainda assim, o Hezbollah pode fazer frente em combates terrestres."

Isolamento e apoio internacional

Altman também chama a atenção para o crescente isolamento internacional de Israel. "Netanyahu, no entanto, é um líder implacável", pontua. Segundo o especialista, o primeiro-ministro sabe que as provocações no Oriente Médio forçarão os Estados Unidos e a Europa a apoiar Israel, mesmo contra a vontade desses países. "Perder Israel significa perder o controle do Oriente Médio para uma aliança liderada pelo Irã, com o apoio da Rússia e da China", argumenta Altman.

Para ele, essa dinâmica afeta diretamente as eleições nos Estados Unidos e na Europa, e até mesmo em países como o Brasil. "A pressão do lobby israelense explica por que o presidente Lula faz críticas enfáticas a Israel, mas não toma medidas práticas", conclui Altman, referindo-se ao papel diplomático do Brasil no cenário internacional.

A análise de Altman destaca o quanto os interesses geopolíticos de Israel estão interligados a um contexto global mais amplo, em que as alianças com potências ocidentais são fundamentais para a manutenção da influência no Oriente Médio. A estratégia de Netanyahu, implacável e cuidadosamente calculada, segundo o especialista, tem como pilar central a manutenção dessa aliança, mesmo em meio ao isolamento diplomático crescente.

A entrevista revela um cenário complexo, onde o jogo de poder entre Israel, Irã, Hezbollah e outras forças regionais será decisivo não apenas para o futuro do Oriente Médio, mas também para a estabilidade global. Assista:

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