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      "Enquanto houver gente faminta, a luta tem que continuar", diz historiador sobre luta camponesa

      Centenário de Elizabeth Teixeira resgata a história de resistência camponesa no Brasil

      (Foto: Reprodução | Carla Batista/MST)
      Dafne Ashton avatar
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      247 - No programa Boa Noite 247, o professor Pedro Carvalho Oliveira, historiador da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), concedeu uma entrevista sobre a trajetória de Elizabeth Teixeira, um dos maiores símbolos da luta camponesa no Brasil. Com uma pesquisa aprofundada sobre as Ligas Camponesas e a repressão ao movimento rural, Oliveira destacou a relevância histórica e atual do centenário de Elizabeth, celebrada neste 13 de fevereiro de 2025.

      A vida de Elizabeth Teixeira se confunde com a história da luta pela terra no Brasil. Viúva de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas assassinado por jagunços a mando de latifundiários em 1962, ela assumiu a luta do marido e se tornou um dos principais nomes do movimento camponês na Paraíba e no Nordeste. A repressão contra os camponeses se intensificou após o golpe de 1964, levando à perseguição, prisão e morte de muitas lideranças. Elizabeth foi presa diversas vezes, se escondeu durante anos sob identidade falsa e teve sua família desfeita pela violência do Estado. "A luta camponesa e a reforma agrária caminham no mesmo sentido. Infelizmente, se a luta camponesa ainda existe, é porque muita gente ainda não dispõe do mínimo necessário para plantar no Brasil", pontuou Oliveira.

      As Ligas Camponesas e o medo da classe dominante

      Oliveira destacou que, na década de 1960, os trabalhadores rurais do Nordeste viviam em condições sub-humanas. Inspirados pela Revolução Cubana e pela luta por direitos básicos, as Ligas Camponesas emergiram como um movimento de reivindicação por terra, melhores condições de trabalho e direito à sindicalização. "Os latifundiários não aceitavam qualquer tipo de concessão aos mais pobres. Para eles, isso significava uma ameaça aos seus privilégios seculares", afirmou o pesquisador.

      O medo da classe dominante em relação ao avanço dessas pautas não se restringia ao Brasil. Segundo Oliveira, documentos diplomáticos revelam que os Estados Unidos acompanhavam de perto a organização camponesa, temendo que se transformasse em uma revolução de inspiração comunista. A violência contra os trabalhadores rurais foi imediata e brutal após 1964, e as Ligas Camponesas foram praticamente desmanteladas.

      O legado de Elizabeth Teixeira e a luta atual

      Apesar da repressão, a luta pela terra nunca cessou. Oliveira traçou um paralelo entre as Ligas Camponesas e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que hoje enfrenta criminalização semelhante. "O MST é marginalizado da mesma forma que as Ligas foram. A extrema direita se incomoda com o empoderamento do povo, com a democratização da terra e da alimentação", afirmou. Ele também criticou a narrativa do agronegócio como "salvador da economia brasileira", argumentando que esse discurso esconde a exploração dos trabalhadores rurais e a persistência de condições análogas à escravidão.

      O centenário de Elizabeth Teixeira é uma oportunidade de revisitar a história do Brasil pela perspectiva dos "de baixo". Como destacou Oliveira, "nós devemos sempre pensar na importância dessa luta. É inquestionável. Mas, ao mesmo tempo, é muito triste que ela ainda tenha que existir. Isso significa que aquilo que é necessário para o mínimo dessas pessoas ainda não foi alcançado".

      Elizabeth Teixeira foi redescoberta pelo público na década de 1980, graças ao documentário Cabra Marcado pra Morrer, do cineasta Eduardo Coutinho. Seu nome deveria ser lembrado como um dos grandes símbolos de resistência do Brasil, especialmente em tempos de avanço das forças conservadoras. "Lembrar Elizabeth é reconhecer que um futuro diferente, menos desigual, ainda é possível", concluiu Oliveira. Assista: 

       

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