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    "Não somos uma nação, somos uma colônia dos Estados Unidos", diz Carlos Latuff

    Carlos Latuff analisa a relação entre redes sociais, governos autoritários e a influência do capital estrangeiro na soberania digital brasileira

    (Foto: Reuters | Brasil247)
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    247 - Em entrevista ao programa Brasil Agora, da TV 247, o cartunista Carlos Latuff trouxe uma análise contundente sobre o impacto das redes sociais no cenário político global, com foco na relação das Big Techs com governos autoritários como o de Donald Trump e sua influência no Brasil. Durante a conversa, Latuff afirmou que o país ainda age como "uma colônia dos Estados Unidos" ao não investir em tecnologia própria e ao depender de plataformas estrangeiras para comunicação e governança. "Tudo que fazemos nas redes sociais passa pelas mãos dos americanos. Não somos soberanos", alertou.

    Latuff inicia destacando um ponto-chave: a presença de representantes de grandes empresas de tecnologia, como Meta, Google e Amazon, na posse de Trump, e as doações realizadas por essas corporações para o evento. Segundo ele, a aliança entre as Big Techs e o governo norte-americano expõe o papel estratégico que as plataformas digitais desempenham como ferramentas de intervenção política e ideológica. “As redes sociais ficaram claras como instrumentos de intervenção. Não só no meio econômico e militar, mas também no ideológico”, afirma.

    Redes sociais: de espaços de liberdade a ferramentas de controle

    Latuff relembra os primeiros anos da internet, nos anos 1990, quando a ideia de descentralização e liberdade de expressão parecia guiar o futuro digital. Ele, no entanto, destaca como as redes sociais foram sendo moldadas por interesses corporativos e geopolíticos. “No início, a internet tinha a proposta de conectar pessoas e possibilitar a criação de conteúdos independentes. Mas nunca se considerou que tudo isso estava nas mãos dos americanos, com objetivos estratégicos por trás”, aponta.

    O cartunista também faz um alerta sobre a vigilância e o controle exercido por essas plataformas. “Tudo que fazemos nas redes sociais passa pelas mãos dos americanos. Eles têm acesso a todas as informações. É um problema de soberania. Na China e na Rússia, eles têm redes próprias. Por que nós não temos? Por que não desenvolvemos nossos próprios sistemas?”, questiona.

    O papel das forças armadas e a dependência tecnológica

    Latuff critica duramente a dependência brasileira de sistemas como o Windows, da Microsoft, em instituições estratégicas como as Forças Armadas. Ele cita casos emblemáticos de sucateamento de órgãos estatais, como o Proderj, que tinham capacidade técnica para desenvolver soluções próprias, mas acabaram desvalorizados em favor de contratos com gigantes estrangeiras. “Nós temos técnicos brilhantes, mas o Brasil insiste em manter uma relação colonial com os Estados Unidos. É um projeto político”, diz.

    Ele também lembra de como a dependência tecnológica compromete a segurança nacional, citando exemplos como o uso de softwares americanos por órgãos estratégicos. “Quando vamos construir um sistema de comunicação que não dependa dos Estados Unidos? O Brasil pensa como colônia, não como nação”, dispara.

    O neofascismo digital e o controle do discurso

    Outro ponto central da entrevista é a relação das redes sociais com a disseminação de fake news e o apoio a governos autoritários. Latuff aponta que plataformas como X (antigo Twitter), Meta e TikTok operam de forma a favorecer figuras da extrema direita, como o deputado federal Nicolas Ferreira (PL-MG). Ele menciona que publicações de opositores são muitas vezes limitadas por algoritmos, enquanto conteúdos alinhados à extrema direita recebem destaque.

    “Essas redes não são neutras. Elas trabalham para amplificar a voz de figuras como Trump e seus aliados no Brasil. A ideia de liberdade de expressão que elas pregam é seletiva”, denuncia. Latuff também chama atenção para a influência dessas plataformas nas eleições e sugere que a solução passa pela criação de redes sociais nacionais, independentes de controle estrangeiro.

    Soft power e a propaganda do entretenimento

    Latuff analisa ainda o uso do entretenimento como ferramenta de propaganda política, citando o anúncio de Trump sobre a criação de um conselho cultural com figuras como Sylvester Stallone, Mel Gibson e Jon Voight. Para ele, esses atores são símbolos do soft power norte-americano, usados para disseminar ideais patrióticos e reforçar narrativas de poder. “Hollywood sabe como doutrinar pelo entretenimento. Isso é uma guerra cultural, e o Brasil não está preparado para enfrentá-la”, avalia.

    Soluções para a soberania digital

    A entrevista conclui com um chamado à ação: o Brasil precisa investir em ciência, tecnologia e educação para reduzir sua dependência de sistemas estrangeiros. Para Latuff, a construção de redes sociais e sistemas de comunicação próprios é uma questão estratégica para garantir a soberania nacional. Ele também aponta a importância de formar uma base científica sólida no país, evitando a fuga de cérebros para o exterior.

    “Não se trata apenas de investir dinheiro. É preciso mudar a mentalidade colonial. Precisamos pensar como nação, não como quintal dos americanos”, finaliza. Assista: 

     

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