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    "O compromisso da empresa é apenas com o lucro dos acionistas", diz a economista Clarice Ferraz

    Economista e diretora do Instituto Ilumina, critica o modelo de privatização do setor elétrico e alerta sobre as falhas de gestão

    (Foto: Divulgação )

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    247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, Clarice Ferraz, economista, professora da UFRJ e diretora do Instituto Ilumina, trouxe uma análise contundente sobre a crise no setor elétrico brasileiro, destacando a falta de preparação das autoridades locais e das empresas distribuidoras para lidar com eventos climáticos já previstos. "O prefeito tem uma grande parte dessa responsabilidade no que aconteceu aqui", afirmou Ferraz, referindo-se aos recentes problemas em São Paulo, onde falhas na manutenção urbana agravaram os danos causados por tempestades.

    Ferraz criticou duramente a ineficiência das distribuidoras de energia, que, segundo ela, têm falhado em cumprir suas obrigações contratuais, especialmente no que tange à manutenção preventiva e corretiva. "Esses eventos climáticos estão mapeados e previstos. No ano passado, São Paulo sofreu um problema muito severo", disse a economista, ressaltando que houve tempo suficiente para as autoridades agirem de maneira preventiva.

    A diretora do Ilumina também destacou que o modelo de privatização adotado no setor elétrico há cerca de 30 anos resultou em um "desmantelamento" da estrutura necessária para garantir um serviço eficiente. A distribuidora, explicou Ferraz, adota um modelo de incentivos mal desenhado, no qual a redução de custos é feita à custa da qualidade do serviço. “A distribuidora reduziu custos, o que resultou em um enorme ganho de eficiência. Entretanto, isso se reflete na falta de manutenção preventiva e corretiva, pois não há trabalhadores suficientes para realizar essas tarefas”, pontuou.

    Esse desvio de foco, que prioriza o lucro dos acionistas em detrimento da segurança e do bom funcionamento do sistema, foi um dos pontos mais criticados por Ferraz. "O compromisso da empresa é apenas com o lucro de seus acionistas, o que desestrutura a empresa de energia", frisou. A economista lamentou o desaparecimento do caráter de função pública que o setor de energia deveria manter, e como isso tem impactado diretamente a população. Segundo ela, o problema não é exclusivo de São Paulo, e ocorre também no Rio de Janeiro e em outras regiões do Brasil.

    Além das falhas na manutenção e na resposta às crises, Ferraz apontou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não tem conseguido cumprir seu papel de reguladora independente. "A segurança do abastecimento é uma obrigação do Estado, mas, com a delegação de poder, a agência passou a ser a fiscalizadora", explicou. No entanto, ela destacou que a agência enfrenta dificuldades para se manter livre de influências políticas e empresariais, o que agrava o problema.

    Ferraz argumentou que é fundamental repensar o modelo atual do setor elétrico para garantir uma transição energética que leve em consideração não apenas o lucro, mas a segurança e a qualidade de vida da população. "Precisamos garantir a segurança do abastecimento e tarifas mais competitivas para viabilizar a industrialização e gerar empregos", disse.

    A economista também alertou para o impacto que a má gestão do setor de energia tem sobre a economia do país, contribuindo para a alta da inflação e prejudicando o desenvolvimento industrial. "O setor de energia é crucial para o desenvolvimento do Brasil, e é necessário reestruturá-lo para que possamos avançar em uma transição energética justa e eficiente", concluiu. Assista: 

     

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