TV 247 logo
    HOME > Entrevistas

    “O império sem máscaras: o trumpismo é a verdade dos Estados Unidos”, diz Boaventura

    Boaventura de Sousa Santos analisa a posse de Trump, seus impactos globais e a fragilidade da resistência internacional diante do imperialismo sem disfarce

    (Foto: ABR)
    Dafne Ashton avatar
    Conteúdo postado por:

    247 - O renomado sociólogo Boaventura de Sousa Santos descreveu, em entrevista ao jornalista Gustavo Conde no Podcast do Conde, a chegada de Donald Trump à Casa Branca como o marco de um "império sem máscaras". Segundo o acadêmico, o trumpismo é a face mais crua do capitalismo e do imperialismo estadunidense, despida de qualquer disfarce democrático.

    Boaventura começou destacando um aspecto peculiar da liderança de Trump: "Há uma coisa que eu admiro no Trump: é o imperialismo sem máscaras. Acabou a hipocrisia. Não há mais a máscara da democracia ou da paz. Ele governa de forma direta, em prol das elites bilionárias.”

    Na análise do sociólogo, a posse do republicano foi uma "performance midiática cuidadosamente orquestrada", que reuniu os grandes bilionários do planeta para legitimar um governo voltado exclusivamente para os interesses do capital financeiro, da indústria armamentista e do petróleo.

    A política de revogações executivas, marca dos primeiros dias do novo mandato de Trump, também foi alvo da reflexão do intelectual. Entre as decisões mais polêmicas, Boaventura destacou a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), a revogação do direito ao jus soli (nacionalidade pelo local de nascimento) e a soltura de condenados pelo ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. "São ações que consolidam uma era de expansionismo econômico, militarização e nacionalismo extremo. O que Trump faz é oficializar o que sempre esteve no subtexto da política norte-americana", afirmou.

    Sobre a política externa, Boaventura criticou a postura beligerante e protecionista do novo governo. "Trump anunciou tarifas de até 200% sobre produtos vindos da China e de outros países considerados 'hostis'. Trata-se de uma estratégia para reindustrializar os Estados Unidos à custa da economia global. É a velha lógica colonial aplicada ao século XXI."

    Ao abordar a reação internacional às medidas de Trump, o sociólogo destacou a ausência de resistência organizada. "A Europa está perdida, dividida e sem lideranças capazes de enfrentar esse cenário. Os BRICS, por sua vez, têm potencial, mas enfrentam desafios internos e falta de coesão política para fazer frente ao dólar ou ao protecionismo norte-americano."

    O acadêmico também apontou a desconexão entre os movimentos progressistas e as demandas populares como uma das razões da fragilidade da esquerda global. "A esquerda está se suicidando ao abandonar a luta anticapitalista e priorizar divisões internas baseadas em identitarismos. Enquanto isso, a extrema direita avança com força, legitimada por lideranças como Trump e Bolsonaro", avaliou.

    Boaventura ainda destacou a importância das resistências locais, como os povos indígenas da América Latina e os movimentos africanos, que têm emergido com propostas baseadas em harmonia com a natureza. "A verdadeira mudança virá dos povos que vivem na prática a ideia de que pertencemos à natureza, e não o contrário. Eles trazem uma alternativa concreta ao modelo destrutivo do capitalismo."

    Ao final, o sociólogo reforçou a necessidade de uma renovação nas formas de resistência global. "Precisamos de uma articulação internacional que vá além das redes sociais e da retórica. É hora de repensar as estruturas de luta para que possamos fazer frente a essa nova era de plutocracia global." Assista: 

     

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados