“O pior cenário do mundo para o Brasil seria um G3 entre EUA, Rússia e China", diz Paulo Nogueira Batista
Em entrevista à TV 247, economista analisa a aliança das potências e alerta: "Trump é um Nero que tem a seu alcance um botão vermelho"
247 - O economista Paulo Nogueira Batista compartilhou suas preocupações sobre os desdobramentos da presidência de Donald Trump nos Estados Unidos e os efeitos dessa administração para o Brasil e o resto do mundo. Em conversa com Regina Zappa e Mário Vitor, Batista destacou que o pior cenário para o Brasil seria a formação de um "G3", com os Estados Unidos, Rússia e China sendo responsáveis por manter esferas de influência sobre o palco global. Já existem considerações nesse sentido em escalões realistas do novo governo estadunidense.
Batista explicou que, embora o atual governo dos EUA esteja tentando restaurar a grandeza do país com uma política econômica protecionista e de reindustrialização, os efeitos podem acabar sendo contraproducentes. Argumentou que o excesso de tarifas e o isolamento comercial não apenas afetariam a economia americana, mas também prejudicariam as relações dos Estados Unidos com seus aliados, criando uma nova dinâmica de polarização no cenário internacional. Para o economista, essa situação poderia acelerar o declínio dos EUA, ao invés de freá-lo.
“Trump expressa livremente o caráter imperial dos Estados Unidos. Nele, a aparência e a essência coincidem. Acredito que essa característica o enfraquece. Portanto, ajuda a quem está ameaçado de sofrer esse imperialismo mais brutal porque revela a verdadeira natureza dos EUA e enfraquece aqueles que, dentro do Brasil, por exemplo, pregam a adesão e subordinação aos Estados Unidos.”
Além disso, Nogueira Batista ressaltou que uma aproximação entre os EUA, Rússia e, posteriormente talvez a China, com o possível fortalecimento dessa aliança, seria desastrosa para o Brasil, já que o país não estaria preparado para competir em um novo equilíbrio de poder global. O economista comparou a administração Trump a figuras históricas como Nero, sugerindo que a falta de preparo, o descontrole psíquico e a retórica agressiva do presidente poderiam agravar ainda mais a crise interna dos EUA. A ameaça para o planeta é evidente: "No seu despreparo, na sua arrogância, na sua improvisação é ele próprio um sintoma dessa decadência americana. [..] Temos uma situação muito grave. Um Nero que tem a seu alcance um botão vermelho", referindo-se ao mecanismo de disparo de bombas atômicas.
O debate também abordou a relação entre Israel e os Estados Unidos, um tema importante nas discussões de política externa. Batista afirmou que a relação entre os dois países tem sido prejudicial aos próprios interesses dos EUA, considerando o poder do lobby judaico em Washington, que influencia profundamente as decisões do governo estadunidense.
“Israel é um ponto fora da curva. Não se viu, desde a Alemanha nazista, nenhum país tão bárbaro, tão selvagem no tratamento de outros povos quanto os israelenses”.
O economista destacou que Israel, embora seja considerado um aliado estratégico, representa, em muitos aspectos, um obstáculo à projeção do poder americano. Para ele, a postura de Trump de abandonar a máscara dos valores humanitários que os EUA costumavam propagar, ao apoiar abertamente ações de Israel, como no caso de Gaza, evidencia a hipocrisia, agora sem disfarce, das políticas exteriores americanas.
Em relação ao conflito entre Ucrânia e Rússia, Nogueira Batista analisou as ações de Trump e o impacto da sua política externa na crise. Ele apontou que o governo dos EUA, sob a liderança de Biden e seus antecessores, fortaleceu uma aliança entre Rússia e China, ao mesmo tempo em que confrontava a Rússia em relação à Ucrânia. No entanto, Trump, ao tentar se aproximar da Rússia, está disfarçando um reconhecimento tácito da derrota do Ocidente na Ucrânia e favorecendo um novo alinhamento geopolítico.
O economista também fez considerações sobre a atuação cautelosa da diplomacia brasileira diante da administração Trump. Batista reconheceu que o Itamaraty adota uma postura inicial prudente e correta, de observação, em relação à Casa Branca. Já em relação à recente assinatura de um acordo comercial com a União Europeia o Brasil, segundo ele, cometeu um inexplicável erro estratégico. Para ele, o acordo abriu o mercado brasileiro para exportações europeias, especialmente para produtos industriais alemães, sem receber contrapartidas claras para o fortalecimento da indústria nacional. Esse movimento contradiz a necessidade do Brasil de apostar na reindustrialização e na absorção tecnológica, pois não há coerência entre uma política que visa fortalecer a indústria brasileira e, ao mesmo tempo, adota um acordo que favorece a abertura do mercado para potências tecnológicas externas.
Em sua análise, Paulo Nogueira Batista destacou que, embora os Estados Unidos ainda tenham grande poder militar e econômico, suas políticas internas e externas podem estar precipitando um declínio acelerado. Para o Brasil, o cenário de um "G3" entre as grandes potências representaria uma realidade extremamente difícil, em que o país teria de se adaptar a um novo e complexo equilíbrio de poder global, sem estar adequadamente preparado.
A entrevista trouxe à tona a ideia de que as relações internacionais estão em um ponto de inflexão, e que as escolhas dos líderes mundiais, especialmente de Trump, terão impactos duradouros sobre a geopolítica e a economia mundial. O futuro do Brasil dependerá, em grande parte, da sua capacidade de se ajustar a essas novas realidades e de encontrar um caminho que preserve sua soberania e seu desenvolvimento econômico.
E afirmou: “A primeira coisa que o Brasil deve fazer nesse tumulto desencadeado pelo Trump é “lie low”, ou seja, não chamar a atenção do “bully” (valentão), ficar discreto, que é o que estamos fazendo. A pior coisa seria chamar a atenção do Estados Unidos agora. Deixa eles brigarem com o resto do mundo”.
Assista à íntegra da entrevista:
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