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      "Ou Bolsonaro vai para a prisão ou vai tentar exílio", diz José Genoino

      Ex-presidente do PT afirma que julgamento de Bolsonaro é inédito e alerta para rearticulação da extrema direita de olho em 2026

      (Foto: Agência Brasil)
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      247 – Em entrevista ao programa Bom Dia 247, o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, avaliou que o julgamento dos acusados de planejar e executar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 marca um divisor de águas na história constitucional do Brasil. A declaração foi feita após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar por unanimidade a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados, tornando-os réus por crimes contra a ordem democrática.

      Genoino elogiou a peça do ministro Alexandre de Moraes que fundamenta a denúncia, destacando sua robustez e clareza ao articular os fatos, provas e conexões políticas entre os envolvidos. “Acho que é uma peça que organiza os fatos, constrói uma narrativa consistente a partir das revelações dos celulares, das mensagens, dos pronunciamentos do Bolsonaro e das responsabilidades do governo”, afirmou.

      Ele refutou a tese de que a delação de Mauro Cid seria o eixo principal da acusação: “A delação do Mauro Cid não é o elemento central da denúncia, apesar de alguns juristas afirmarem isso. Não é verdade. Vejo essa denúncia como uma resposta institucional bastante contundente”.

      Para o ex-parlamentar, o processo tem um valor inédito e simbólico: “Pela primeira vez na nossa história constitucional se julga uma tentativa de golpe e a ruptura da ordem democrática”. Ele também destacou que as defesas dos acusados não negaram que houve tentativa de golpe: “Nenhuma das defesas questionou a existência do golpe. Cada uma se concentrou em defender seus clientes individualmente, mas não houve contestação sobre o fato em si”.

      Genoino sustentou que o movimento golpista foi premeditado: “Aquilo não foi espontâneo, não surgiu do nada. Foi um plano articulado com o objetivo de anular o resultado das eleições e garantir a vitória a qualquer custo”. Segundo ele, a estratégia fracassou por falta de apoio interno e internacional: “Eles não conseguiram construir consenso com a opinião pública, com setores influentes, especialmente nos Estados Unidos, nem superar a divisão interna do próprio grupo. A posse do Lula em 1º de janeiro, com uma grande mobilização popular, também foi um fator decisivo”.

      O ex-deputado identificou três grupos distintos no bolsonarismo: “Havia os que defendiam um golpe abertamente, os que esperavam para ver o que aconteceria e os que ofereciam uma resistência tímida, praticamente imóvel”.

      Sobre os desdobramentos políticos e jurídicos, Genoino foi direto: “Essa turma ou vai cumprir pena ou vai se exilar. Bolsonaro terá essas duas alternativas: ou será preso ou buscará o exílio”. Ele também prevê uma tentativa de reconfiguração da extrema direita com vistas às eleições de 2026: “O bolsonarismo vai tentar se reciclar, assumir uma nova roupagem para continuar disputando espaço político”.

      Essa reconfiguração, segundo Genoino, dependerá de fatores como a popularidade de Lula e a resposta do governo às demandas sociais: “Vai depender de pesquisas, do desempenho do governo Lula, da possibilidade dele ser candidato – o que eu defendo –, e de como vamos nos relacionar com o povo nesses dois próximos anos”.

      O petista defendeu que o governo priorize pautas econômicas e sociais: “Temos que avançar na redução da jornada de trabalho, enfrentar a inflação dos alimentos, valorizar os salários, gerar empregos e, principalmente, aprovar a isenção da tabela do imposto de renda. São essas as pautas populares que precisam de atenção, para que o governo não fique preso a uma institucionalidade que, a meu ver, está completamente oligarquizada”.

      Ele criticou ainda a atuação do Congresso Nacional, especialmente no que se refere à proposta de anistia aos golpistas: “Estão propondo uma anistia antecipada. Nem foram condenados ainda e já querem perdoar. Isso é parte da tradição do negacionismo e da invisibilização das responsabilidades da classe dominante brasileira”.

      Genoino fez um alerta histórico ao lembrar de episódios anteriores: “Foi assim com Juscelino, com o golpe de 64, com a anistia de 79. Agora querem repetir essa farsa. Não dá para repetir. A história, quando se repete, é como farsa ou como tragédia. Nenhuma das duas serve ao Brasil”.

      Para ele, é fundamental complementar o julgamento com um debate político sobre o papel das Forças Armadas: “Não podemos agir com pressa ou ansiedade. Precisamos debater. Por que, entre os denunciados, 22 são militares? De onde vieram? Como foram formados?”

      Por fim, Genoino advertiu que a extrema direita cria um ambiente de confronto com o Judiciário como parte de sua estratégia global: “A ascensão da extrema direita fascista gera um contencioso com o Judiciário. É o que ocorre nos Estados Unidos, aqui no Brasil, na Argentina e em outros países. Esse embate busca deslegitimar as instituições e leva a um cenário de vale tudo. A história do golpe está bem documentada. Precisamos fazer dessa denúncia uma bandeira política, porque se trata da própria legitimidade do Estado democrático brasileiro”. Assista: 

       

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