"Quando a reforma agrária avança, tentam derrubar o governo"´, diz Paulo Teixeira
Ministro Paulo Teixeira aponta ofensiva contra Lula, Dilma e Jango como parte da resistência histórica das elites à distribuição de terras
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmou que a história da reforma agrária no Brasil está diretamente ligada à instabilidade política vivida por governos populares. Segundo ele, “toda vez que um presidente da República tentou fazer a reforma agrária foi derrubado”, citando os casos de João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Getúlio Vargas. “A terra é sinônimo de poder econômico e poder político”, declarou o ministro, ao explicar a resistência das elites à redistribuição fundiária no país.
Teixeira relatou que o programa de reforma agrária foi desmantelado durante os governos de Michel Temer e do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ele se referiu como “o presidente bilíngue”. “Ambos pararam o programa e estimularam a violência no campo”, disse. Segundo ele, Bolsonaro “extinguiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário, esvaziou o Incra e criou uma legislação impeditiva da reforma agrária”.
Com a volta de Lula ao poder, afirmou o ministro, o governo retomou a estrutura do ministério e reiniciou o processo de obtenção de terras e assentamentos. “O Incra vai receber 700 servidores. Criamos duas novas diretorias: uma para obtenção de terras e outra para comunidades quilombolas”, informou. Ele destacou que, mesmo com orçamento restrito, já foram assentadas 15 mil famílias até abril deste ano. A meta para 2024 é alcançar 30 mil novos assentamentos e, até o fim do mandato, chegar a 60 mil. “Cadastramos 120 mil famílias acampadas. Se conseguirmos assentar 60 mil, resolveremos metade da demanda atual”, explicou.
No total, o governo pretende incorporar 326 mil famílias ao conjunto de políticas da reforma agrária, incluindo regularização de lotes e acesso ao crédito fundiário. Teixeira lembrou que essa meta se iguala aos dois primeiros mandatos de Lula, entre 2003 e 2010, quando foram assentadas 120 mil famílias.
Entre as propriedades emblemáticas que já foram desapropriadas, o ministro citou a fazenda Campo do Meio, em Minas Gerais; a fazenda Cambaíba, no Rio de Janeiro, associada a crimes da ditadura; a fazenda Santa Lúcia, no Pará, palco do massacre de Pau D’Arco; e a fazenda Brasileira, no Paraná, marcada por conflitos com o MST. “Tudo que tem de significativo na luta pela terra nós estamos assentando”, afirmou.
Além do acesso à terra, o ministro detalhou o modelo adotado para garantir condições de produção aos assentados. “Eles recebem terra, crédito e a melhor assistência técnica do país, feita por universidades como a USP e a UFSCar”, disse. Um dos programas citados por Teixeira, o Pró-Floresta — que, segundo ele, terá outro nome por sugestão de Lula —, oferece extensão universitária com foco em agroecologia, tecnologia genética e capacitação de lideranças locais.
“Estamos fazendo um programa de melhoria genética no rebanho leiteiro com embriões de alto valor, que aumentam em até quatro vezes a produção de leite”, explicou. Segundo ele, o custo de cada embrião é de R$ 2.500, o que torna o investimento escalável. O governo está em negociação com bancos públicos e cooperativas para ampliar o acesso da agricultura familiar a essa tecnologia.
Na entrevista, o ministro também abordou a questão dos preços dos alimentos. Ele destacou que produtos como arroz, feijão, batata e carne já apresentam queda nos supermercados. “O arroz de 5 kg já pode ser encontrado por R$ 24, R$ 23, até R$ 21. A saca que chegou a R$ 90 está em R$ 70”, afirmou. Segundo ele, a baixa se deve ao estímulo à produção, a novas cultivares da Embrapa e à política de contratos de opção de compra, além de uma superprodução agrícola estimada em 327 milhões de toneladas de grãos neste ano.
Apesar da tendência de queda, Teixeira alertou que a valorização do dólar pode comprometer os preços. “A única preocupação é com a bagunça que o Trump está fazendo. Isso mexe com o câmbio e pode atrapalhar a queda dos preços”, disse, em referência à volatilidade provocada por ações do presidente dos Estados Unidos em seu segundo mandato. “Se o dólar se fortalecer, não é bom para o tema da inflação de alimentos”, alertou.
Por fim, o ministro mencionou um problema emergente enfrentado por produtores de café: o roubo de sacas diretamente das lavouras. “Isso está criando um prejuízo grande para os produtores e requer uma resposta dos governos estaduais para garantir segurança no campo”, declarou. Ele também citou como exemplo de assistência integrada o assentamento entregue em Lagoinha (SP), próximo a Taubaté, que combina acesso à terra, assistência técnica da Esalq e da UFSCar e articulação com redes de comercialização urbana.
Teixeira finalizou ressaltando a mudança de paradigma em curso: “Estamos assentando com crédito e tecnologia, porque a reforma agrária só se consolida com produção. E a produção, com assistência técnica de qualidade.” Assista:
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