“Se bancos e agronegócio controlarem a economia, vão tirar com uma mão o que garantimos com a outra”, diz Pomar
Valter Pomar critica influência conservadora no governo, defende reindustrialização e alerta para risco de anistia e união da direita em 2026
247 - Em entrevista concedida ao programa Contramola, da TV 247, o historiador e dirigente nacional do PT Valter Pomar abordou os principais desafios do governo Lula em temas centrais como a reforma tributária, a reindustrialização, a política externa e o julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal. O dirigente do PT apontou omissões, alertou para riscos políticos e defendeu maior ousadia do governo frente à conjuntura adversa.
Pomar começou elogiando o destaque dado pelo governo à justiça tributária, mas cobrou maior urgência nas ações. “É muito positivo que o governo dê destaque para essa questão da justiça tributária ao invés de dar destaque para o tema do ajuste fiscal. Mas isso deveria ter sido feito já no primeiro ano”, afirmou. Para ele, o debate é insuficiente se não for acompanhado por um enfrentamento político no Congresso: “É importante também que se assuma a necessidade de travar a disputa política mesmo sem ter certeza do resultado”.
O dirigente também fez críticas diretas à condução da política econômica. “Se a economia continuar controlada pelos bancos e pelo agronegócio, os caras vão tirar com uma mão o que a gente tá garantindo com a outra”, afirmou. Pomar lamentou que o governo opere em uma velocidade inferior à necessária. “Mesmo que dê tudo certo o que o Haddad está pensando, a velocidade disso é inferior à necessária. As pesquisas comprovam o que a gente dizia: as coisas estão melhorando, mas se elas melhoram devagar e sem os embates necessários, o resultado não é positivo para nós.”
Ao comentar a viagem do presidente Lula ao Japão e ao Vietnã, Pomar reconheceu a importância diplomática e comercial dos encontros, mas advertiu que não resolvem o cerne do problema econômico. “A industrialização brasileira, para ela crescer na velocidade que a gente precisa, precisa ter Estado. O Estado brasileiro precisa investir pesadamente, ampliando a presença do Estado na economia.”
Na mesma linha, defendeu um programa de investimentos públicos em setores como construção civil, infraestrutura, saúde e educação. “O complexo industrial de saúde, por exemplo, merece um imenso investimento. E aí não tem mágica: é dinheiro público na veia.”
Sobre a política externa, elogiou a recente retomada de posições soberanas. “O futuro do Brasil está vinculado à China, à Rússia, aos BRICS, à África, à América Latina. Não está vinculado aos Estados Unidos e à Europa”, disse. “É muito importante que haja um encontro do Lula com o Putin, assim como vai ser importante que o Brasil convide a Venezuela para a reunião dos BRICS aqui.”
Pomar destacou a recondução de Dilma Rousseff à presidência do Novo Banco de Desenvolvimento como um feito diplomático relevante. “A prova do nível de interlocução entre ela e o governo russo é exatamente essa recondução. Isso é positivo para o Brasil, não é um ganho pessoal, é um ganho do país.”
O dirigente petista comentou ainda a disputa interna pela presidência do PT. “Até agora há duas candidaturas inscritas: a minha, e a do Romênio Pereira. A tendência majoritária do partido, a CNB, ainda não decidiu se terá um único nome ou mais de uma chapa.” Pomar criticou o grupo por priorizar o controle da tesouraria em vez de discutir política: “Fico impressionado, em todo esse debate público que estão fazendo, que eu não consigo descobrir o que pensam de diferente acerca do programa e da estratégia”.
Em tom de denúncia, Pomar afirmou que o PT abriu mão de uma fonte fundamental de financiamento militante. “Desde 2015, o partido deixou de cobrar contribuição dos filiados comuns. Isso nos tornou dependentes dos fundos públicos e criou um descompromisso total. É um absurdo.”
Ele também alertou que uma eventual condenação de Bolsonaro pode favorecer a unificação da direita em torno de uma candidatura forte como a de Tarcísio de Freitas. “Paradoxalmente, tirar o cavernícola da corrida eleitoral facilita a unificação do centro-direita e da extrema-direita. Isso significa que, se a esquerda não ampliar sua base popular, pode haver uma eleição entre uma frente ampla da direita e o PT.”
Sobre a possibilidade de anistia, Pomar foi direto: “Se tiver maioria para anistiar os caras do 8 de janeiro, está se pavimentando o caminho para anistiar a corja toda. É preciso constranger o Congresso e aumentar a pressão pública.” Assista:
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