TV 247 logo
    HOME > Entrevistas

    "Sem história, as pessoas não valorizam a cidadania": nova edição de História Geral do Brasil combate negacionismo

    Livro coordenado por Francisco Teixeira e outros pesquisadores reafirma papel da história na compreensão do Brasil e combate versões distorcidas do passado

    (Foto: Reprodução )
    Dafne Ashton avatar
    Conteúdo postado por:

    247 - O professor Francisco Teixeira, titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ e de Teoria Social da UFJF, participou do programa Boa Noite 247 para falar sobre o lançamento da nova edição de História Geral do Brasil, obra já consagrada no estudo historiográfico nacional. A entrevista abordou as inovações da edição e a importância da resistência historiográfica em tempos de negacionismo e revisionismo político.

    Teixeira enfatizou a necessidade de compreender a ocupação pré-colonial do Brasil sob uma perspectiva mais ampla, destacando que “há treze mil anos, quando a população indígena começa a colonização do Brasil, já havia uma organização social complexa”. Ele contestou visões simplificadas sobre os povos originários, frequentemente retratados como sociedades primitivas e sem domínio da agricultura. “Hoje sabemos que, possivelmente, a região amazônica foi um dos berços da agricultura mundial. Os indígenas domesticaram gêneros fundamentais, como a mandioca, o cará, o amendoim e o abacaxi”, afirmou.

    A nova edição do livro também reforça a gravidade do genocídio indígena ao longo da história do país. “Estima-se que cerca de dez milhões de indígenas habitavam o Brasil antes da colonização. No século XIX e início do século XX, esse número caiu para menos de cem mil. Isso evidencia a dimensão do extermínio que ocorreu aqui”, destacou Teixeira. Segundo ele, a escravização dos povos africanos também seguiu essa lógica de exploração brutal. “Calculamos que cerca de doze milhões de pessoas foram retiradas da África na condição de escravizados e trazidas para as Américas. O Brasil foi o país que mais recebeu essa população, em torno de 5,5 milhões de pessoas.”

    Durante a entrevista, Teixeira ressaltou o papel da história na formação cidadã e criticou a redução da carga horária de disciplinas de humanidades no ensino médio. “Sem história, as pessoas cometem erros e não valorizam a cidadania. O que estamos vendo hoje no Brasil é um projeto de desmonte do pensamento crítico. A história não pode ser relativizada. Fatos como o genocídio indígena e a escravidão não são questões de opinião”, afirmou. Ele citou exemplos internacionais, como a proposta do ex-presidente Donald Trump de submeter cem mil professores americanos a exames ideológicos, comparando a medida ao período da ditadura militar brasileira, quando era exigido um “atestado ideológico” para o exercício da docência.

    O professor também criticou iniciativas revisionistas, como a disseminação de narrativas que tentam suavizar a escravidão no Brasil. “Ninguém gosta de ser escravo. Ninguém gosta de viver sob opressão. A ideia de um negro passivo e de uma escravidão benevolente foi claramente contestada nesta nova edição, com uma análise extensa das revoltas escravas e da recusa ao sistema escravocrata.”

    Outro ponto enfatizado foi a resistência historiográfica diante da tentativa de distorção da memória nacional. Teixeira mencionou o caso do Cemitério dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro, onde eram enterradas em valas comuns as pessoas escravizadas recém-chegadas que morriam nas viagens transatlânticas. “Essa história ficou oculta por muito tempo, mas não pode ser esquecida. É uma prova concreta da brutalidade do tráfico negreiro.”

    Ao final da entrevista, Teixeira reforçou a importância de tornar o conhecimento histórico acessível ao público e anunciou que os interessados no livro poderão adquiri-lo com desconto. “O preço do livro no Brasil é um problema, mas estamos tentando garantir que essa edição chegue ao maior número possível de leitores”, disse.

    A nova edição de História Geral do Brasil se apresenta, portanto, como um ato de resistência contra a distorção da memória nacional, reafirmando o papel da história na formação de uma sociedade mais consciente e crítica. Assista a entrevista íntegra: 

     

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados