Tarso Genro: “A tarefa agora é como derrotar Trump e sua estratégia neocolonial”
Tarso Genro afirma que o trumpismo encarna um projeto global de dominação que atualiza a lógica imperial dos EUA, com método, objetivos e lastro histórico
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro apresentou uma leitura crítica sobre o significado político do trumpismo. Segundo ele, diferentemente da forma como a grande imprensa costuma enquadrar o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump não age apenas por impulsos erráticos ou traços de personalidade. Para Tarso, trata-se da representação mais explícita de um projeto histórico de dominação. “Essa loucura tem método. Ela tem objetivos. Ela representa um projeto”, afirmou.
A seu ver, reduzir as ações de Trump a manifestações neuróticas ou desvios de comportamento é uma estratégia que mascara o modelo que ele representa. “Eu tenho uma opinião um pouco diferente da que está circulando pela mídia tradicional. Essa forma de tratar o Trump, como um sujeito que age ao sabor de impulsos, como um sociopata exibicionista, naturaliza o modelo que ele representa”, disse. “A forma grosseira com que ele atua é apenas a expressão de algo que sempre existiu na política externa dos Estados Unidos.”
Tarso destaca que há um processo metódico na atuação de Trump e que ele encarna um padrão de intervenção norte-americana no mundo. “É a continuidade de uma lógica de império que se manifesta desde a Guerra Fria”, afirmou. Nesse sentido, Trump atualizaria — com mais brutalidade — uma trajetória histórica dos EUA, cujo arcabouço teórico pode ser associado à doutrina da “tolerância repressiva” formulada por Henry Kissinger. Segundo Tarso, essa política consistia em aceitar a influência de adversários em certas regiões do globo, enquanto se reprimia duramente experiências revolucionárias e movimentos de libertação.
“O precedente está na Guerra do Vietnã e nas políticas que foram desenvolvidas a partir daquela teoria. A Guerra do Vietnã foi a grande derrota estratégica da política americana”, recordou, apontando que o apoio à libertação nacional vinha não só da União Soviética, mas também de democracias europeias simpatizantes com causas anticoloniais. Ao mencionar que o Vietnã de hoje se transformou em uma potência asiática, ele apontou que esse tipo de derrota expôs as fragilidades da estratégia imperial estadunidense.
Para o ex-ministro, a atual crise do capitalismo global alterou os eixos de dominação. “Saiu das dificuldades do modelo produtivo tradicional e se concentrou no mercado. As relações de produção cederam lugar às relações de troca e de intercâmbio internacional, onde reina o capital financeiro”, observou. “A dominação do capital financeiro tem endereço, tem lugares certos, tem proprietários. Em última análise, são eles que fazem o ordenamento mundial.”
Apesar de reconhecer em Trump traços de comportamento que poderiam ser classificados como patológicos, ele adverte: “Trump é sim um irresponsável e também um ser meio patológico, meio sociopático, mas isso não é uma novidade na política americana. É a política americana como ela sempre foi, apenas expressa de forma mais rude.”
Tarso conclui que o que está em jogo é mais do que uma figura excêntrica no poder. Trata-se de um sistema com raízes profundas. “Derrotar Trump é derrotar o modelo imperial-colonial que ele representa”, resumiu. E acrescentou: “Essa loucura está sendo medida. Está sendo compartilhada por milhões e milhões de pessoas no globo terrestre e também no seu país.”Assista:
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