"Trump tem lógica, mas é uma lógica que revela nossa falta de lógica", diz Bresser Pereira
Ex-ministro da Fazenda analisa tarifaço dos EUA, alerta para risco de guerra comercial e critica ausência de política industrial efetiva no Brasil
247- Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o economista e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira afirmou que as medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de seu segundo mandato, não são frutos de loucura, mas sim de uma lógica que expõe contradições tanto no modelo liberal americano quanto na política econômica brasileira.
“Essa história de que o Trump é louco, ele não é. As coisas que ele faz têm a sua lógica. Acho que ele está errado em muitas coisas, mas há uma lógica nele”, disse Bresser, ao comentar os impactos do chamado tarifaço sobre importações de diversos países, incluindo o Brasil.
Segundo o economista, a lógica adotada por Trump se baseia no princípio da reciprocidade comercial: “Países que têm tarifas elevadas para produtos americanos vão ter tarifas também elevadas nos Estados Unidos. Esse princípio leva a coisas absurdas, como um país pobre como o Camboja sofrer uma tarifa de 49%.”
Bresser explicou que o Brasil foi relativamente poupado, com uma elevação de tarifas de apenas 10%, devido ao baixo nível tarifário já praticado pelo país. “As nossas tarifas são muito baixas. Portanto, as tarifas que os Estados Unidos estão aplicando sobre nós também são baixas. É simplesmente isso”, disse.
Ao comentar a reação do governo brasileiro, Bresser avaliou como acertada a postura cautelosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua equipe. “A política do governo brasileiro é a melhor política. Ele está empurrando com a barriga o problema, e faz muito bem em fazer isso. Agora que o Brasil saiu beneficiado relativamente, é melhor continuar assim e esperar o que acontece.”
Ainda assim, o economista criticou a ausência de uma política industrial consistente por parte do governo federal. “Eu critiquei a política industrial do governo Lula. Ela propõe uma série de subsídios para vários setores, mas não fala uma palavra sobre tarifas. A Nova Indústria Brasil sem tarifas é muito estranha.”
Bresser também destacou que o déficit em conta corrente dos EUA está ligado à valorização artificial do dólar, o que compromete a competitividade da indústria americana. “Os Estados Unidos consomem muito e podem se endividar sem perigo. Eles achavam que estava tudo ótimo, não percebendo que estavam matando a indústria deles”, afirmou.
Ao ser questionado sobre os impactos internos das tarifas nos Estados Unidos, ele respondeu: “Essas medidas diminuem fortemente o poder aquisitivo da população e trazem inflação. Essa política tem elementos suicidas. E, continuando com ela, o Trump não será reeleito.”
O economista também expressou ceticismo em relação às previsões catastróficas feitas por economistas liberais: “O desastre vai ser grande, mas não vai ser tão grande assim como eles dizem. Esses números estão errados.”
Por fim, Bresser reiterou que, apesar dos riscos autoritários, não acredita que a democracia esteja em colapso nos países centrais. “A democracia está sendo fortemente ameaçada, e agora a ameaça redobrou. Mas imaginar que Trump conseguirá implantar uma ditadura nos EUA é impensável. A democracia virou um valor universal.”Assista:
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