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      Waack vê início do século chinês e fim da hegemonia americana após tarifaço de Trump

      Jornalista analisa impacto geopolítico do novo pacote tarifário de Donald Trump e alerta para riscos e oportunidades que se abrem ao Brasil

      William Waack (Foto: Reprodução/Twitter/@CNNBrasil)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no último dia 2 de abril, representa, segundo análise publicada no jornal Estado de S. Paulo, o fim de uma era de hegemonia americana e o início de um novo ciclo sob liderança da China. O artigo, assinado por William Waack, interpreta o momento como uma virada histórica, com profundas implicações geopolíticas, comerciais e estratégicas para o mundo — e em particular para o Brasil.

      “O 2 de abril marca o fim do século americano, provavelmente o início do século chinês”, escreve Waack. Para ele, a medida não se limita a uma guinada na política comercial dos Estados Unidos, mas representa a demolição de todo um sistema multilateral que sustentava a ordem internacional desde o pós-guerra. “Trump decidiu explodir o sistema. Que nunca existiu sozinho. Nas grandes alianças das quais os EUA fizeram parte (ou lideraram) nos últimos oitenta anos, comércio formava o terceiro pilar junto de inteligência e defesa.”

      Do sistema multilateral à lei da selva

      Ao invés de buscar reformar mecanismos imperfeitos do sistema global de comércio — dos quais países como a China se beneficiaram amplamente — Trump optou por abandoná-lo de vez. O editorial aponta que o novo modelo adotado pelos Estados Unidos não é baseado em regras comuns, mas sim na lógica da força. “Trump demoliu os três pilares, abrindo caminho no seu lugar para a Lei da Selva – aquela na qual leva vantagem quem é mais forte e tem mais força bruta.”

      Nesse contexto, o Brasil, uma potência regional com baixa capacidade de projeção global e participação modesta no comércio mundial (cerca de 1,5%), tende a ser prejudicado. O alívio sentido por Brasília diante de uma tarifa de “apenas” 10% é, segundo o texto, ilusório: “é enganador o alívio sentido em Brasília pelo fato do País ter sido contemplado com ‘apenas’ 10% a mais de tarifas.”

      Oportunidades e vulnerabilidades para o Brasil

      Apesar da ruptura global, o editorial reconhece que há possíveis ganhos para o Brasil, especialmente no campo agroindustrial. A dependência da China por alimentos e commodities pode se intensificar, abrindo espaço para aumento das exportações brasileiras. Setores como o calçadista também vislumbram margens de crescimento.

      Outro reflexo esperado é a ampliação dos investimentos chineses em solo brasileiro, indo além da infraestrutura e alcançando áreas industriais e tecnológicas. Ainda assim, essas oportunidades não apagam as vulnerabilidades: “a principal delas é nossa conhecida pouca capacidade de competição internacional fora do campo das commodities em geral e agrícolas em particular.”

      Um exemplo dessa fragilidade surgiu quando se discutiu, no governo brasileiro, uma possível retaliação ao tarifaço americano por meio da propriedade intelectual. “Espalhou-se um arrepio de horror pelos setores privados quando se falou no governo brasileiro na possibilidade de retaliar o tarifaço de Trump atacando os EUA no campo da propriedade intelectual”, descreve Waack.

      Um país doente liderando o caos

      Na cerimônia em que anunciou o tarifaço, Donald Trump adotou um tom nostálgico e ressentido, descrevendo uma economia americana que já não existe. “Trump fez um discurso de perdedor, descrevendo um tipo de economia (e de emprego) que não existe mais e prometendo, como todo populista rasteiro, dias de glória logo ali na esquina”, afirma Waack, acrescentando que não será fácil lidar com um país “cuja alma está doente” — definição do professor Mark Lilla, citada no texto.

      Essa instabilidade interna dos EUA é vista como um fator adicional que favorece a China. Em ascensão, Pequim já é percebida pelo atual governo americano como uma ameaça à sua segurança nacional, especialmente por sua presença crescente na América do Sul e no Canal do Panamá.

      O futuro em disputa

      Para Waack, o mundo caminha para uma nova era, onde acordos bilaterais frágeis, interesses nacionalistas e disputas comerciais desenham um cenário mais incerto. O Brasil, preso entre oportunidades e riscos, precisará articular uma estratégia pragmática e soberana para não ser engolido pelas forças em disputa. O texto conclui com uma advertência e um desafio: a ordem baseada em regras acabou — e o Brasil terá de encontrar seu caminho num mundo em que os mais fortes voltam a ditar as regras.

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