Angela Merkel defende bloqueio à entrada da Ucrânia na OTAN e acordos com Putin
Ex-chanceler alemã argumenta que suas decisões evitaram conflitos maiores
247 – A ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defendeu sua política externa em relação à Rússia e à Ucrânia durante uma rara entrevista concedida à jornalista Katya Adler, editora de Europa da BBC, publicada em 25 de novembro de 2024. Merkel afirmou que sua decisão de bloquear a entrada da Ucrânia na OTAN em 2008 foi crucial para evitar um conflito militar antecipado e que os acordos de gás firmados com a Rússia visavam tanto interesses econômicos alemães quanto a manutenção da paz.
“Para mim, estava completamente claro que o presidente Putin não ficaria de braços cruzados vendo a Ucrânia se juntar à OTAN”, disse Merkel. Ela argumentou que a Ucrânia, na época, não estava preparada para enfrentar os desafios que a adesão à aliança militar implicaria. Segundo a ex-chanceler, o conflito militar iniciado em 2022 poderia ter ocorrido muito antes e de forma mais grave caso a Ucrânia tivesse avançado em direção à OTAN.
Entretanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou a decisão, classificando-a como um "erro de cálculo" que teria encorajado a Rússia.
Ameaças nucleares e os desafios do legado de Merkel
Angela Merkel também expressou preocupação com as ameaças nucleares renovadas de Vladimir Putin, destacando a importância de esforços diplomáticos para evitar o uso dessas armas. “Devemos fazer tudo ao nosso alcance para evitar o uso de armas nucleares”, declarou. Ela enfatizou o papel da China e outras potências em alertar contra esse tipo de escalada.
Mesmo sendo reconhecida como uma das líderes mais influentes da Europa durante seus 16 anos no poder, Merkel enfrenta atualmente um intenso escrutínio de seu legado. A dependência alemã do gás russo, simbolizada pela construção de dois gasodutos diretamente conectados à Rússia, é uma das principais críticas. Países do leste europeu, como Polônia e Estados bálticos, argumentaram que essa política energética fortaleceu o poder financeiro da Rússia, financiando a invasão à Ucrânia.
Por outro lado, Merkel justificou os gasodutos como uma combinação de interesses comerciais e uma tentativa de preservar relações pacíficas com Moscou. "O preço do gás barato foi alto, mas fazia parte de uma estratégia comercial e política", afirmou.
Crise migratória e crescimento da extrema direita
A política migratória de Merkel, particularmente sua decisão de acolher mais de um milhão de refugiados em 2015, também está sob análise. Embora elogiada por líderes como Barack Obama por sua coragem e moralidade, Merkel foi acusada de alimentar o crescimento da extrema direita, especialmente o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que agora ocupa posição de destaque nas pesquisas eleitorais.
Para Merkel, a resposta à crise migratória deve incluir investimentos em países africanos para melhorar os padrões de vida e reduzir o fluxo migratório. "A única maneira de combater a extrema direita é deter a imigração ilegal e investir no desenvolvimento dos países de origem", argumentou.
“O doente da Europa” e os desafios econômicos
Angela Merkel também foi criticada por não ter realizado reformas estruturais significativas durante sua gestão, o que deixou a Alemanha dependente de outras potências, como Estados Unidos e China, para comércio e energia. Atualmente, a Alemanha enfrenta desafios econômicos severos, com especialistas chamando o país de "o doente da Europa".
Apesar das críticas, Merkel se mantém confiante em sua abordagem ao lidar com líderes globais como Donald Trump, com quem teve uma relação complexa. Para os atuais líderes europeus, ela deixa um conselho claro: “É muito importante saber quais são as suas prioridades, apresentá-las com clareza e não ter medo.”
Legado e reflexão
Com 70 anos e afastada da política desde 2021, Merkel reafirma que não sente falta do poder. "Não, de jeito nenhum", respondeu rapidamente quando questionada se sente saudades da vida pública. Ainda assim, segue sendo procurada por líderes globais em busca de conselhos.
A entrevista, concedida em um momento em que Merkel publica seu livro de memórias, Liberdade, reflete tanto sobre os sucessos quanto sobre as críticas enfrentadas por uma das figuras mais emblemáticas da política europeia moderna.
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