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    "Devemos defender a democracia, dentro e fora, de quem a ameaça", diz Angela Merkel

    Ex-chanceler alemã reflete sobre liberdade, política e desafios globais em suas memórias

    Plataformas de mídia social precisam assumir responsabilidade sobre conteúdo, diz Merkel

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    247 – Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha, rompeu o silêncio público três anos após deixar o poder para lançar suas memórias, Liberdade. Em entrevista ao El País Semanal, Merkel abordou questões fundamentais sobre a democracia, liberdade e os desafios do cenário político atual. Governante da maior economia europeia entre 2005 e 2021, Merkel enfrentou crises econômicas, sanitárias e sociais, deixando um legado marcado pela estabilidade e pelo pragmatismo, mas que hoje é alvo de questionamentos.

    “Se queremos viver em liberdade, devemos defender nossa democracia, dentro e fora, de quem a ameaça”, declarou a ex-líder alemã, sublinhando que a liberdade é um valor que não pode ser tomado como garantido. Merkel ressaltou o impacto histórico da queda do Muro de Berlim, que vivenciou aos 35 anos, enquanto ainda residia na Alemanha Oriental comunista. Para ela, as conquistas de 1989 e 1990 trouxeram euforia e esperança, mas o ressurgimento de correntes populistas e autoritárias nas democracias ocidentais representa uma ameaça significativa.

    Sobre o atual estado da política global, Merkel expressou preocupação com as redes sociais, que, segundo ela, amplificam polarizações. “Hoje enfrentamos dificuldades que não existiam no passado, como a tendência de ver tudo em preto ou branco, eliminando os matizes de cinza e as diferenças de opinião”, afirmou.

    A ex-chanceler também refletiu sobre sua decisão de abrir as fronteiras alemãs para refugiados em 2015, uma das mais polêmicas de seu mandato. “Foi uma resposta a uma emergência humanitária, mas também me dediquei a buscar soluções sustentáveis para a questão migratória, como o acordo entre União Europeia e Turquia”, explicou, reconhecendo que sua política de acolhimento gerou críticas e alimentou o crescimento da extrema direita no país.

    Apesar das críticas recentes ao seu legado — que apontam para uma dependência excessiva da Alemanha ao gás russo e às exportações para a China — Merkel defendeu suas decisões, destacando que eram as opções viáveis em seu tempo. “Se não tivéssemos comprado gás russo, os preços da energia teriam disparado uma década antes”, ponderou.

    Angela Merkel, que sempre evitou o rótulo de feminista, afirmou em suas memórias que hoje se considera uma feminista “à sua maneira”. “Quero igualdade de participação para mulheres em todos os setores, mas sem transformar o feminismo em um confronto entre gêneros”, disse.

    A trajetória de Merkel, marcada por seu pragmatismo e sua origem na Alemanha Oriental, segue inspirando debates sobre liderança, liberdade e os desafios do mundo moderno.

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