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China adverte os EUA e promete resposta firme contra 'intimidação'

Ministro das Relações Exteriores afirma que Pequim quer relações estáveis, mas não aceitará ações unilaterais de Washington

Wang Yi (Foto: Andy Wong/Pool via Reuters)
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247 - O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou durante a Conferência de Segurança de Munique que Pequim deseja construir laços “estáveis, saudáveis e sustentáveis” com os Estados Unidos, mas alertou que qualquer tentativa de “intimidação unilateral” será enfrentada com uma resposta firme. A declaração foi repercutida pelo South China Morning Post, que destacou o posicionamento chinês diante da crescente tensão com Washington.  

Segundo Wang, o governo chinês espera que os EUA adotem uma postura de respeito mútuo, mas ressaltou que, caso a administração norte-americana insista em estratégias de contenção contra Pequim, o país estará preparado para responder. “Se os Estados Unidos não estiverem dispostos, se insistirem em suprimir e conter a China, não teremos outra escolha senão seguir o jogo até o fim”, afirmou.  

Taiwan e a ordem internacional - Durante sua participação na conferência, Wang reafirmou a posição da China sobre Taiwan, insistindo que a comunidade internacional deve apoiar a reunificação da ilha com a China continental. O chanceler destacou que “a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas” e que não pode haver “dois pesos e duas medidas” na aplicação das leis internacionais.  

Pequim considera Taiwan parte de seu território e não descarta o uso da força para reincorporá-la. No entanto, a maioria dos países evita reconhecer a ilha como um Estado independente, embora rejeitem qualquer tentativa de mudança do status quo pela força. Recentemente, a declaração conjunta do presidente dos EUA Donald Trump com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, reforçou essa posição ao condenar qualquer tentativa de alteração no Estreito de Taiwan por meio da força ou coerção, levando Pequim a protestar.  

Papel da China na segurança global - A participação chinesa na Conferência de Munique também girou em torno da guerra na Ucrânia e das possibilidades de mediação do conflito. Wang foi questionado sobre o envolvimento de Pequim nas negociações de paz, já que a China se ofereceu como intermediadora nas conversas entre as partes.  

Trump anunciou nesta semana um entendimento com o presidente russo, Vladimir Putin, para iniciar tratativas sobre um possível fim da guerra. No entanto, a decisão gerou protestos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e de líderes europeus, que exigem a inclusão de Kiev nas negociações.  

Wang destacou que a China apoia qualquer iniciativa que contribua para a paz e defendeu a participação de todas as partes envolvidas no processo de negociação. Ele também afirmou que a Europa deve desempenhar um papel fundamental para garantir a estabilidade do continente a longo prazo.  

Relação com a Rússia e críticas ao Ocidente - O chanceler chinês também abordou as relações entre Pequim e Moscou, frequentemente criticadas pelo Ocidente por ajudarem a Rússia a minimizar os efeitos das sanções impostas após a invasão da Ucrânia. Wang defendeu os laços entre os dois países, classificando-os como “trocas normais” e condenando países que, segundo ele, utilizam questões econômicas como instrumentos de pressão política.  

Sem mencionar diretamente os Estados Unidos, Wang criticou governos que “politizam” o comércio internacional e transformam questões econômicas em armas geopolíticas. “Não podemos permitir que isso aconteça. Temos a responsabilidade de proteger nosso povo”, disse, referindo-se à compra massiva de gás russo por Pequim.  

A Conferência de Segurança de Munique é tradicionalmente um espaço onde a China mantém diálogos bilaterais com líderes europeus e americanos, além de apresentar sua visão sobre questões geopolíticas. Neste ano, um dos principais temas do evento foi a transição para uma ordem mundial multipolar, alinhada com o discurso chinês de fortalecer o chamado Sul Global.  

Wang reforçou que a China se consolidará como uma “força estabilizadora” no novo cenário global e aproveitou a ocasião para criticar medidas protecionistas, incluindo tarifas impostas pelos Estados Unidos. “O protecionismo não leva a lugar nenhum, e o abuso das tarifas não tem vencedores”, declarou.  

A crescente ênfase dos EUA na Ásia também foi um dos temas abordados no evento. Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, consultoria especializada em risco político global, comentou que a administração de Trump está reorientando seu foco para a região do Indo-Pacífico. “Parte do motivo pelo qual os EUA estão reduzindo seu envolvimento na Europa é porque consideram que o foco de longo prazo precisa estar muito mais na Ásia”, explicou.  

Com essas declarações, a China reforça sua posição de buscar um papel mais ativo no cenário global, ao mesmo tempo em que sinaliza que não aceitará medidas que considere prejudiciais aos seus interesses.

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