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    De Milei a Meloni, passando por Bolsonaro, apoio a Trump reconfigura a geopolítica da extrema-direita mundial

    Segundo especialistas, a “volta por cima” de Donald Trump poderia encorajar também a extrema direita brasileira

    Milei, Trump e Bolsonaro (Foto: REUTERS/Cristina Sille | REUTERS/Mike Segar | REUTERS/Adriano Machado)

    RFI - A vitória eleitoral de Donald Trump foi calorosamente recebida pelo presidente argentino, Javier Milei, que sempre demonstrou sua admiração pelo agora presidente eleito dos Estados Unidos. Na frente diplomática, Trump defende um certo isolacionismo, mas de Milei, na Argentina, a Viktor Orbán e Giorgia Meloni, na Europa, o novo presidente americano pode contar com vários aliados no cenário internacional. No Brasil, bolsonaristas sonham com um "come back" da extrema direita à la Trump.

    A mensagem de felicitação a Donald Trump do Ministério das Relações Exteriores da Argentina tinha um tom diplomático clássico. A chancelaria argentina ofereceu suas “mais sinceras felicitações ao povo dos Estados Unidos da América” e parabenizou e enviou “calorosas saudações ao presidente eleito”.

    Javier Milei, em suas redes sociais, foi mais efusivo. Em uma mensagem em inglês, disse: “Parabenizo Donald Trump por sua formidável vitória eleitoral, agora para tornar a América grande novamente. Ele sabe que pode contar com a Argentina para realizar sua tarefa. Felicidades e bênçãos”. Milei não esconde que sua política externa é regida por um princípio simples: seus únicos aliados estratégicos verdadeiros são EUA e Israel. 

    O presidente argentino também retuitou mensagens de outros usuários que comemoravam que, com a vitória de Trump, a [extrema] direita conseguiu se espalhar no norte, centro e sul do continente americano. Javier Milei e Donald Trump têm relações estreitas, são ideologicamente semelhantes e líderes incontestáveis da extrema direita em seus países.

    FMI - Na Argentina, além disso, há expectativas de que, com Trump como presidente, os Estados Unidos apoiem negociações do país com o FMI, ao qual Buenos Aires deve US$ 44 bilhões, além de ajudar na concessão de novos créditos. O governo argentino também não descarta a possibilidade de que Milei viaje aos Estados Unidos para parabenizar Trump pessoalmente.

    O presidente argentino declarou repetidamente que sua política externa consiste em um alinhamento total com Israel e os Estados Unidos, e agora pretende se estabelecer como um parceiro privilegiado para a nova administração americana na região.

    "Mini Trump" - Javier Milei é apelidado dentro e fora da Argentina de “mini Trump” e compartilha o ódio de Trump pelas "elites" (ainda que os dois venham deste meio), seu negacionismo em relação ao clima, sua oposição ao aborto e adotou a mesma linguagem ultrajante do big boss norte-americano. Donald Trump disse que estava “muito orgulhoso” após a eleição do argentino.

    Os dois líderes trocam elogios regularmente pelas redes sociais e demonstraram sua afinidade ideológica ao aparecerem juntos em Washington, em fevereiro, na CPAC, a cúpula dos conservadores norte-americanos.

    Orbán e sua campanha “Make Europe Great Again" - Na Europa, Donald Trump também pode contar com o apoio do primeiro-ministro húngaro. Viktor Orbán ocupa atualmente a presidência rotativa da União Europeia e transformou o slogan de Trump, “make America great again”, em “make Europe great again”.

    O líder europeu também mantém um relacionamento muito próximo com o regime russo de Vladimir Putin para garantir suas importações de energia. Mas isso não é tudo. A política russa de amordaçar as organizações que criticam o governo, estigmatizadas como “agentes estrangeiros”, é uma fonte de inspiração para o húngaro.

    Em Budapeste, Orbán criou um “Escritório para a Proteção da Soberania Nacional”. Em 2020, no entanto, a Europa forçou o país a revogar uma lei sobre agentes estrangeiros.

    Meloni e Oriente Médio - Outro aliado importante no continente é a chefe do governo italiano, Giorgia Meloni, que desempenha um papel mais central nas instituições europeias do que seu colega húngaro. Ela também compartilha muitas das ideias de Donald Trump, especialmente em relação a suas políticas antimigrantes e sua condenação aos direitos reprodutivos da mulher. 

    Finalmente, no Oriente Médio, Donald Trump também conta com aliados não menos importantes em Israel, para o qual ele demonstrou forte apoio durante seu primeiro mandato, reconhecendo Jerusalém como sua capital e a soberania do país sobre as Colinas de Golã ocupadas, mas também nas monarquias do Golfo, onde sua linha dura contra o Irã foi bem recebida.

    "Trump dos Trópicos" - A vitória de Donald Trump nos EUA galvanizou a extrema direita do Brasil e alimentou as esperanças de que o ex-presidente Jair Bolsonaro poderia voltar ao poder, apesar de ter sido declarado inelegível até 2030 devido a seus ataques ao sistema eleitoral brasileiro após perder para Lula em 2022.

    Embora os especialistas digam que é improvável que a medida seja bem-sucedida, os apoiadores de Jair Bolsonaro estão pressionando o Judiciário para perdoar o ex-chefe de Estado e abrir caminho para sua candidatura na eleição presidencial de 2026.

    Jair Bolsonaro, que foi apelidado de “Trump dos trópicos” quando foi eleito em 2018, agradeceu a Deus após a vitória do candidato republicano sobre Kamala Harris na terça-feira, dizendo que via isso como um bom sinal para seu próprio retorno ao poder.

    “A vitória de Trump é uma fonte de inspiração para os conservadores de todo o mundo e fortalecerá o movimento no Brasil para reeleger Jair Bolsonaro como presidente nas eleições de 2026”, garantiu o líder da bancada bolsonarista, Valdemar Costa Neto.

    Para os líderes do Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, a vitória de Donald Trump faz parte de um movimento mundial de fortalecimento das ideias conservadoras, ilustrado na região pela eleição de Javier Milei como presidente da Argentina e pelas recentes eleições municipais no Brasil.

    Nesse cenário, os apoiadores de Bolsonaro estão ativamente fazendo campanha para que o ex-presidente se torne elegível novamente, seguindo o exemplo de um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, que no mês passado foi a uma seção eleitoral vestindo uma camiseta “Bolsonaro 2026”.

    Outro filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, que representa o movimento conservador brasileiro na Conservative Political Action Conference (CPAC), realizada todos os anos nos Estados Unidos, compareceu à festa da vitória de Donald Trump na noite de terça-feira em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida.

    Para Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy, a espetacular “volta por cima” de Donald Trump poderia encorajar a extrema direita brasileira a se engajar no mesmo tipo de jogo verbal do candidato republicano, cujas violentas diatribes contra seus adversários políticos não o impediram de ser amplamente reeleito.

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